John Franklinstraat 53/II
1056 SZ Amsterdam, 31 de outubro de 2007
As vezes eu me lembro do dia que nos mudamos do Intervale, lugar onde passei os primeiros 14 anos de minha vida. O caminhão da mudança estava cheio, ainda era de manha e um amigo apareceu. Foi muito estranho. Tinha passado todos os anos de minha vida acreditando que nunca sairia dali. Aquele conjunto habitacional era meu mundo. Volta e meia, acompanhado de meus, não poucos amigos, invadiamos mundos distantes... o BNH, Integração, Parque nas Amérias, Vila Tatetuba, Ismênia... outros conjuntos habitacionais nas nossas redondezas.
Aquele acontecimento foi um golpe nos meus sonhos... continuar a crescer por ali, rodeado de meus amigos.
Mal sabia eu que aquela era a primeira de minhas infinitas mudanças... com meus pais, me mudei mais 3 vezes, enquanto vivi em São Paulo, passei por 4 apartamentos. Só no meu ano no Porto foram 5 casas diferentes... e agora aqui em Amsterdam acabo de chegar ao meu segundo lar. A cada mundança novas fronteiras… pessoas... perpectivas.
Como falei numa outra oportunidade, eu vivia com a Susanne num apartamento “Anti-Kraak”. Pagávamos um aluguel bem barato, pro apartamento ficar ocupado enquanto o projeto de restauração não fosse aprovado. Em junho, recebemos uma carta dizendo que poderíamos permanecer por lá até o meio do ano que vem. Foi uma alegria... mas uma pequena frase em letras pequenas no final da página dizia: “A qualquer momento vocês podem ser notificados de que a desocupação tem que ocorrer”. Pois bem, um mês depois recebemos uma nova carta: Tínhamos 3 meses pra sair. Data limite: 31 de outubro.
Procurar por apartamentos aqui em Amsterdam é um inferno. Se você quer alugar, você tem que torcer pro propietário ir com sua cara (são tantas as pessoas que se candidatam que os caras escolhem pra quem eles vão querer alugar), tem que se pagar os olhos da cara pra um apê de alguns metros quadrados e ainda é necessário pagar o preço de um mês de aluguel pro site da internet que disponibiliza os anúncios on line!!!
Meu trabalho foi uma experiência interessante, mas que nunca mais quero repetir, porém, por causa dele, devido ao meu contrato de trabalho, tinha direito de fazer um financiamento pra comprar um apê. Somando meu salário com o da Susanne, até que poderíamos ter condições de comprar algo bem bacana por aqui. Detalhe... as parcelas do financiamento são incrivelmente mais baratas que um mês de aluguel!
Saímos a luta... a procura da casa própria. Este é daqueles sonhos que quase tudo mundo tem, inclusive eu, mas não imaginava que me envoleria com ele tão rapidamente.
Na minha cabeça, eu iria procurar anúnicios no jornal, marcar e fazer visitas, me imaginar vivendo por ali. Depois ir ver outras opções, comprarar aquelas que mais gostei, negociar que os proprietários...
Na primeira visita, um apê que logo descartamos, me estranhou o fato de outra pessoa estar o visitando na mesma hora que a gente. No primeiro que tivemos interesse em comprar, chegamos no horário combinado com o corretor e ele, alguns minutos atrasado, deixava a nós e as outras pessoas que também tinham combinado aquele horário com ele um bocado ansiosos. Como já falei, o interesse apareceu quase de imediato. Daria até pra sonhar em viver por ali, idealizar o interior... se não fosse a multidão de pessoas que fazia a visita no mesmo momento que a gente. É muito estranho, você está ali, imaginando se seu sofá caberá naquele canto, se a TV ficaria bem naquele outro... de repente alguém cruza na sua frente e o sofá e a TV vão se embora, só fica o espaço vazio!!
Fizemos um proposta. Como sempre abaixo do preço de compra pra começar a negociação... Ouvimos um OK... iriam computar nossa oferta... no mesmo dia o apê foi vendido pra uma daquelas pessoas que cruzou na minha frente.
Comprar uma casa por aqui é uma competição surreal... Muitas vezes os proprietários abrem uma lista e dizem: recebo propostas até sexta feira, a mais alta leva. Numa destas oferecemos 13mil euros a mais que o preço de compra. Não levamos... descobrimos algum tempo depois que fomos a sexta proposta mais alta. O apê foi vendido por quase 30 mil a mais que o preço pedido pelo proprietário.
Já estávamos quase desanimando, achar algo legal naqueles 3 meses estava sendo quase impossível... o aluguel estava se tornando a opção mais viável. Mas, numa segunda feira recebemos um telefonema de nosso corretor (tivemos que contratar um corretor pra ficar a procura de boas oportunidades pra gente). Ele tinha encontrado um corretor conhecido dele num bar na sexta a noite. Aquele corretor tinha vendido um apartamento que tínhamos visto e gostado, mas que enquanto analisávamos a situação ele fora vendido. Porém, a mulher que o tinha comprado, desistiu dele pois voltou com o namorado e, por isso, queria escolher algo em conjunto com ele.
Nunca tinha ficado tão feliz por duas pessoas que nem conheço reatarem uma relação. No mesmo dia acertamos a compra... Aí foi uma correria maior ainda... negociar com os bancos pra tentar pegar a menor taxa de juros, melhores condições. Reuniões no cartório... papéis... documentos...
Há duas semanas pegamos as chaves e fizemos a mudança. Ainda há muita coisa pra arrumar, mas desde o primeiro minuto já me sentia em casa, ou melhor... já nos sentíamos em casa. Se não fosse ainda um bocado de bagunça que ainda cruzamos por estes vastos 52 metros quadrados, daria pra pensar que já vivemos aqui por muito tempo.
O mês não foi só intenso pela nova casa... meu segundo dia nela foi meu primeiro dia num novo trampo. Vocês não podem imaginar como estou feliz em me distanciar daquela picaretagem do trabalho antigo. Agora sou responsávem por elaborar um planos pra oferecer atividades esportivas pra crianças de uma outra região da cidade. Estou ainda na segunda semana, mas já deu pra ver que vai ser infinitamente menos frustante!
No meio da correria com a quase nova casa recebemos a visita da Camila, amiga que fiz no Porto e arquiteta. Ela veio acompanhada do namorado, também arquiteto, o Gustavo. Os dois vieram aqui enquanto o apê estava vazio. Recebemos boas dicas de como poderíamos deixar nossa futura casa ainda mais bacana.
Receber a Camila por aqui, ainda mais nesta fase, foi uma delícia... é sempre gostoso receber meus amigos. Mas ela viveu comigo boa parte das coisas que vivi no Porto, aquele fantástico ano que mudou minha vida. Ela viu de perto minha relação com a Susanne começar. Ela estava lá, há cerca de 4 anos e meio quando este relacionamento se iniciou como uma grande festa, sem quaisquer pretenções mais longas que minha data de retorno ao Brasil e “hoje” ela esteve por aqui e acompanhou de perto o início de uma nova etapa...
Fato um pouco deprimente deste mês foi o final do horário de verão. Por isso, os dias que já estavam mais curtos, perderam uma hora a mais! Fica tudo um pouco mais triste... disse tudo mas não todos... afinal com uma casa nova, um trabalho novo, com a visita do meu pai e do meu irmão no final de novembro se aproximando e com minhas férias no Brasil a partir do dia 15 de dezembro cada dia mais próximas não há como não estar feliz!
Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.
domingo, 9 de março de 2008
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