Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

domingo, 9 de março de 2008

Nada como um bom vizinho

Amsterdam, 29 de março de 2007

Por aqui vai indo tudo bem... a primavera este ano felizmente chegou junto com o equinócio (o que não é muito normal por aqui.)... se bem que falar em “felizmente” pode ser meio irracional, afinal vivendo na Holanda, ou seja, nos Países Baixos, não deveria ficar muito feliz assim ao perceber os sinais do aquecimento global. Afinal, se este problema continuar daqui a alguns anos vou ter que procurar uma casa barco pra morar, igual à daquela menina da novela que vivia aqui em Amsterdam!

Mas bem, já que tá esquentando mesmo, melhor aproveitar! E foi o que fizemos no domingo. Depois de montar umas prateleiras no nosso quarto e um pequeno armário na sala fomos aproveitar os primeiros momentos de primavera em nossa sacada! Pois é... eu tenho uma sacada!!!! Depois de mais de quatro meses vivendo neste apartamento eu pude finalmente curtir minha sacada. Como foi gostoso tomar sol de camiseta enquanto tomava suco e comida uma “bomba de chocolate”... No final do dia falei com minha família no Brasil. Ao comentar sobre os incríveis e ensolarados momentos na sacada e informar a agradável temperatura que tivemos durante o dia ouvi: “credo! Que frio!!!” hahah... tudo é relativo. Pra quem estava num dia de outono a 30 graus um agradável dia de primavera a 13 parece ser gelado mesmo!

As diferenças daqui pra vida que eu sempre levei no Brasil são muitas mesmo. O que eu sempre tento não fazer é ficar comparando as coisas... vou sempre vivendo da melhor maneira possível, desfrutando daquilo que eu gosto e aceitando aquilo que prefiria não conviver.
Uma das coisas mais interessantes, e de certa forma muito diferente do que sempre tive no Brasil, é a necessidade de se viver em diferentes idiomas. Eu posso dizer que toda a minha vida no Brasil eu vivi quase que exclusivamente em português. Um segundo idioma era quase que restrito às aulas de inglês e a leitura de livros e artigos científicos na faculdade. Bem, minha vida aqui é obrigatoriamente vivida em pelo menos dois idiomas, o português e o holandês. Se bem que há alguns momentos que eu e a Susanne não sabemos mais em qual idioma conversamos... é uma salada. Além destes dois o inglês é muito presente por aqui em nosso dia a dia, seja através da TV, de um turista pedindo informação, ou de um colega estrangeiro que vive aqui e ainda não fala holandês, por exemplo... pra quem viveu a vida toda em um sistema “unidiomático” falar três diferentes idiomas num único dia é uma tarefa que faz a cabeça ferver.
Outro dia estava com um amigo holandês que me apresentou um conhecido colombiano. Resolvi que aquele era o momento pra praticar meu portunhol. Até que não fiz muito feio. Porém, quando o amigo holandês me fez uma pergunta em inglês, pra que o colombiano pudesse entender a coisa ficou feia... quatro idiomas pra esta cabeça aqui é muita coisa... a cabeça entrou em estado de sublimação*. A pergunta era simples. Entender nunca é o problema... mas da minha boca não saía palavra alguma. E quando elas saíram, vinha cada uma num idioma...

Uma coisa que me deixa também sempre feliz é o fato do português brasileiro ser muito valorizado por aqui. É muito comum se entrar num bar ou restaurante e ouvir música brasileira. Não falo de Gilberdo Gil, Caetano, ou Garota de Ipanema... são cantores e bandas quase desconhecidos em nosso país mas que doam (ou vendem) suas vozes pra pra deixar o ambiente daqui mais agradável, mais “gezellig”. Segundo o que ouço por aqui, nosso português soa gostoso e é um idioma perfeito pro “Lounge”, um estilo musical dos mais ouvidos nos bares e restaurantes. Pois é... enquanto aqui vejo valorização do nosso idioma (que um dia não foi nosso mas agora é) em nosso próprio país ele é desvalorizado... basta olharmos pra lojas de madame que pra se diferenciarem das lojas de pobres colocam seus produtos em “off”, mas nunca entram em liquidação.

Como eu falei no outro email, ficamos algum tempo sem computador. O novo foi comprado pela internet e entregue pelo correio. Curiosamente vieram nos entregar uma semana antes do planejado, na semana que estivemos viajando pra esquiar. Quando chegamos, haviam três comunicados da empresa de entregas nos informando que eles tinham estado aqui e que só voltariam mais uma vez, numa segunda feira. Depois disso nosso computador iria novamente pro final da fila de entregas.
Na segunda, passei a manha toda em casa, torcendo pra encomenda chegar e nada. As duas da tarde eu tinha uma aula de holandês e depois tinha que ir trabalhar. “Caramba, alguém tinha que receber aquilo pra mim!”. Meus únicos vizinhos que ficam o dia todo “em casa” são os do piso térreo. Eu poderia pedir pra eles receberem o compudador pra mim, caso o entregador viesse enquanto eu estivesse fora. Mas estava meio inibido, nunca tinha falado com eles e nunca tinha imaginado que falaria... Não tive opção. A senhora me falou que não teria problema. Se ela não estivesse lá o filho dela estaria.
Quando voltei, dei uma passada lá novamente e ela me disse que tinha recebido computador e que ele estava guardado nos fundos. Depois de agradecê-la ela me disse: “wij zijn toch buren!!!!” (seria algo como: “pra que servem os vizinhos?!”).
Pois é, nada como uma boa vizinhança, hoje, sempre que desço faço de questão de os cumprimentar... pra quem não se lembra, meu vizinho do piso térreo é um Coffe Shop (o Whauw Coffe Shop), e nestes lugares aqui na Holanda além de café são vendidos também, legalmente, maconha e outras drogas do gênero.
O pior, ou mais estranho, foi eu ter que ir aos fundos (local onde se guarda a mercadoria) pra pegar as caixas com o computador, teclado e monitor... se havia um lugar onde eu nunca tinha me imaginado estar era alí...

Assim a vida vai indo, agora com os pássaros cantando e os pernelongos zunindo!
Eu tenho que providenciar uma tela pra janela do meu quarto!


*passagem da água dos estado sólido diretamente pro estado gas

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