Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Velha infância


Por estes dias tive que ir à estação central, aqui em Amsterdam. Fui esperar um trem que viria de Bruxelas. Mas que na minha cabeça vinha de outro lugar... lá das bandas de São José, de uma imaginária estação "Abília Machado".


O trem trazia consigo dois amigos, conhecidos desde que eu era como nesta foto aqui ao lado. Quando nem sabia que era gente e o meu mundo era gigante como aquelas ruas.


Um dos pecados que eu pago por viver esta vida meio aventureira, é ter que deixar muitas coisas para trás. Entre elas, ficou minha infância... meio perdida por aí. Afinal, já faz muito tempo que, em meu dia-a-dia, nada mais há que a ela me remeta.


Por um breve instante eles voltaram a fazer parte de meu dia-a-dia, e por serem tão presentes em minha infância, parece que a me trouxeram de presente, pro lugar onde vivo como adulto.


Hoje o trem já se foi, e com ele aqueles dois. Ainda melhor que ter vivos os meus dias de criança é sentir que, mesmo depois de muito tempo, eles continuam meus amigos...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

14 de setembro

Era meia noite, me levaram pro jardim... começou um "parabéns"!
O Nelson não conseguiu sair a tempo, era felicitado por quase todo mundo.

A festa não era minha, mas passando da meia noite o dia era meu, ganhei um "parabéns" e arranquei muitos abraços.

E o Nelson continuava lá dentro, recebendo as saudações...

Meu primeiro aniversário aqui na Holanda não foi o meu, foi do Dirk, irmão da Susanne. A reunião de família corria gostosa... vou a cozinha pegar algo pra beber quando entra uma tia, que ainda não conhecia, mas que sabia ser um pouco distante da família. A mulher me deu um aperto de mão, 3 beijinhos no rosto e disse: "meus parabéns!!!"
Agradeci meio perplexo... logo depois ao encontrar a Susanne eu disse:
- Su, eu sabia que sua tia era distante, mas não imaginava ser tanto assim. Você não vai acreditar... ela me confundiu com seu irmão!!!!
Virei motivo de piada... pela mesma razão que o Nelson ficou encurralado pelos cumprimentos, que o fizeram perder meu espontâneo "parabéns", a tia da Susanne me felicitou. Na Holanda a família toda é cumprimentada.

Bem, meu dia tinha começado bem gostoso, numa festa de família que não era minha mas que acabou virando um pouquinho. E eu ainda tinha família do Brasil comigo. O Nelson estava por aqui naquele final de semana.
Todos dizem que sou muito bem adaptado por aqui, que sou exemplo de integração. Acho que dizem isso pois, muitas vezes ao ter dificuldade em aceitar certas coisas, acabo apenas disfarçando bem. Mas há ocasiões nas quais prefiro não disfarçar, faço questão de mostrar minhas diferenças.
Por exemplo, é difícil aceitar que o abraço quase nunca faz parte dos cumprimentos de um aniversariante. Por isso, passou perto de mim no dia 14 de setembro e falou feliz aniversário, eu já pego logo pelo pescoço!
Eu não queria também organizar uma festa, botar na agenda, com hora pra começar e pra terminar... só queria ter um dia bacana, acompanhado de pessoas que queriam estar comigo, como sempre foi em meus aniversários no Brasil.
Assim, nada foi organizado, fomos pra casa dos pais da Susanne... foi muito bom, até o verão, em seus últimos suspiros veio me brindar com um domingo de Sol.
Quem quis, e pôde, veio. O dia começou com um belo café da manhã, depois fomos levar o Nelson pra passear pela região, compramos farinha em um moinho de vento, pra que bolos fossem feitos no Brasil, e tivemos ainda um churrasquinho...
A noite, ao voltar pra casa, acontece daquelas coisas que fazem qualquer dia ser fechado com chave de ouro: ouvi, num encontro virtual com 11 pessoas da minha família, através de 5 diferentes computadores, em 3 três diferentes países, em português, meu último "parabéns" das comemorações de meus vigésimo nono aniversário.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Engrandecendo meu CV - Parte II



Há algum tempo falei aqui sobre meu currículo paralelo. Naquela ocasião, estas minhas atividades alternativas, digo, sem qualquer relação com minha carreira profissional, ainda eram de extrema importância, pois devido as minhas idas e vindas, sempre precisava de fontes alternativas de dinheiro.
Segue abaixo a penúltima atualização deste meu CV:

- Vigia de piscina de hotel (Portugal);
- Cobrador de banheiro (Holanda);
- Faxineiro de banheiro (Holanda);
- Professor de Português (Holanda);
- Pendurador de casacos em boate (Holanda);
- Diarista (Holanda) e
- Cobaia profissional de estudos acadêmicos (Holanda).

Hoje em dia, uma fonte alternativa de dinheiro é ainda sempre bem vinda, porém, não mais necessária. Mas isto não é impedimento algum para que eu continue a engrandecer meu currículo paralelo, afinal, mesmo tendo ganhado um bom trocado com algumas delas, o que fica de verdade são as histórias...

Pois bem, nestes dias que se passaram fui contratado, na base da amizade, por uma jornalista brasileira, para guiar uma equipe de reportagem que está trabalhando na elaboração de uma reportagem (talvez documentário) sobre o aquecimento global.

Minhas obrigações foram:

- Encontrar a equipe no aeroporto e guiá-los ao hotel;
- Apresentar Amstedam a novos e velhos visitantes;
- Escolher bons lugares pra jantar e
- Guiar a equipe até os locais de filmagem e pesquisa (a Susanne me cobriu quando não pude me ausentar de meu trabalho).

Não posso dizer que tenha sido mais difícil guiar esta equipe do que guiar amigos de passagem por Amsterdam, porém, tive que ter mais responsabilidade ao selecionar as histórias que conto. Afinal qualquer meia verdade poderia comprometer o trabalho de gente muito séria. Por isso só contava os "causos" nos quais estava 100% convicto da verdade.
Foram dias puxados... nos quais dormi menos que o normal. Mas foram dias muito bacanas.
Primeiro porque, pela primeira vez as histórias que contei e as coisas que mostrei não farão parte "apenas" das lembranças e álbuns fotográficos de algum amigo. Pela primeira vez contribuí pra algo ainda maior. Quando a reportagem (ou talvez o documentário) ficar pronta saberei que há ali uma pequena contribuição minha.
E segundo pois, baboseiras de atividade profissional a parte, recebi aqui, além da jornalista, uma grande e velha amiga.
Por acaso, a Nádia foi das primeiras pessoas a me visitar na Holanda. Quando ela esteve aqui da primeira vez, junto com o Diego, eu ainda não conhecia quase nada, me perdia com eles o tempo todo por Amsterdam. Pude descobrir junto com eles alguns pedaços desta cidade. Hoje, já quase não me perco mais, sei muito bem onde ir e o que quero mostrar... desta vez, foi como mostrar a minha própria casa.
É difícil prometer, mas farei de tudo pra estar em São José no próximo dia 19 de abril.

Voltando às baboseiras... meu CV não parou por aí. Além de incluir naquela lista: "Guia de equipe de reportagem", minha experiência em outro ramo profissional vem aumentando de vento em polpa.
A Susanne está, desde fevereiro último, estudando fotografia. O objetivo dela é virar fotógrafa profissional e para isso, durante o curso, que dura 3 anos, ela tem que fazer muitos ensaios, com diferentes temas e objetivos. Não dá pra ser um bom namorado sem dar uma grande força pra ela. E dar uma força significa, entre outras coisas, estar de frente pra câmera, ser fotografado. Virei modelo.
Na primeira vez foi meio estranho. Depois fui me acostumando e hoje até me divirto. Pro último ensaio no qual fui modelo, tive que ficar por mais de 3 horas em frente da câmera... e deste tempo todo, só por uns 10 minutos eu tinha alguma roupa. Virei modelo nu!
Os ensaios são sempre discutidos por toda a classe... Há algumas semanas conheci uma colega de classe da Susanne. Depois de me apresentar eu ouvi: "Legal de conhecer! Já tinha te visto em fotos." haha

Pra quem duvida de meu potencial como modelo, ou pra quem quer conferir o potencial da Susanne como fotógrafa... vai aí uma pequena mostra: haha




sábado, 19 de julho de 2008

Na Terra dos Trolls


Quando eu ouvia falar da Noruega eu só conseguia pensar em duas coisas: Vikings e frio
Não foi a minha primeira passagem por lá, mas desta vez vi mais, senti mais, pude enfim conhecer melhor o país, numa época na qual ele não está coberto de branco e a noite não existe.
Aproveitando que meus pais estavam por estes lados fomos todos visitar o Daniel. Ficamos 10 dias, dos quais 5 viajando e 5 onde o meu irmão mora, e onde já estive, Trondheim.
Chegando por lá já pude encontrar uma cidade completamente diferente da visitada meses atrás. Temperatura uns 30 graus mais elevada e ruas lotadas. A neve encanta, mais também esconde. As vezes me sentia num outro lugar.
Como foi engraçado ter este encontro familiar por àquelas bandas... se alguém algum dia imaginou que minha família pudesse cair no mundo, não acredito que este alguém chegou assim tão longe a ponto de nos ver na escandinávia. E detalhe, procurando uma sombrinha, devido ao calor.
Viajar é sempre muito bom, nos mostra coisas novas, quebra paradigmas (na Noruega até o leite vendido no supermercado é estatal, afinal, que outro tipo de empresa pensaria em pagar um preço justo pra manter o nível de vida dos pequenos fazendeiros... enfim, uma visita a escandinávia poderia ser bem positiva pra uns bicudos que conheço). Estes 10 dias me fizeram voltar pra casa completamente enlouquecido com a paisagem natural vista por lá. A Terra dos Vikings, onde os Vikings parecem ter dado lugar ao Trolls (pelo menos por onde passamos), nunca esteve em minha lista de principais destinos, mas hoje é um dos “tops” de meus lugares visitados.
Demos um rolê bacana por lá, por estradas pequeninas que fazem lembrar muito bem o trecho de serra da Osvaldo Cruz (Taubaté-Ubatuba). Viajar por lá não condiz com estar com pressa. Além das seguidas curvas em 180 graus as inúmeras balsas fazem com que a gente chegue ao nosso destino bem devagar, com tempo suficiente pra aproveitar a viagem.
Nós descemos a partir de Trondheim sentido sudeste... nesta direção, as montanhas arredondadas, que se parecem com as das nossas Minas, vão ficando cada vez mais altas e pontudas. Por serem altas,mesmo no verão seus cumes continuam nevados. Porém derretendo. A água escorre por todos os lados e, muitas vezes, direto pros fiordes em cachoeiras gigantescas. Perdi a conta das cachoeiras da fumaça ou dos véus de noiva de centenas de metros vistos por lá. Quando a água não consegue escorrer, fica represada no alto das montanhas em lagos de água bem azul, que parecem nos ficar convidado pra um banhinho.

A paisagem deste pedaço da Noruega que visitamos é surreal. Esta mistura de montanha, neve, cachoeiras, lagos e mar é uma coisa rara... e por isso, se algum dia alguém quiser um conselho meu quando estiver vindo pra estes lados direi: vá a Terra dos Vikings, pegue a Estrada do Trolls e chegue até Geiranger. Inesquecível!


PS: detalhe, o calor norueguês era tamanho que as águas cristalinas dos fiordes conseguiram convencer mais da metade da família a se aventurar. Tudo doeu... mas valeu o banho nas águas de Janaína.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pai e Mãe




Minha casa nunca foi tão grande... minha casa é pequenina, de um tamanho perfeito pra duas pessoas começarem a vida. Minha casa ficou gigante, ela cresceu pra acomodar aqui meu pai e minha mãe. Passamos um mês delicioso. Rapidinho, passei a ter a sensação que meus pais pertenciam ao meu cotidiano. Era muito normal tê-los por aqui, parecia que sempre foi assim... era uma normalidade perfeita.
Viajamos pra ver meu irmão. Família Mota reunida na Noruega... coisa inimaginável a tempos atrás... coisa real hoje em dia... coisa inesquecível viajar por meio de fiordes, montanhas e cachoeiras, nesta incrível Noruega, num carro cheio de gente de família.
Receber visitas por aqui sempre é muito bom. Espero continuar a recebê-las por muito tempo. Já tinha recebido todo o tipo de gente: amigos das antigas meio distantes nos últimos tempos; amigos dos amigos; ex- cunhada; novos amigos; amigos das antigas que continuam amigos e família. Mas pai e mãe é diferente. Esta passagem deles juntos por aqui era das coisas que eu mais desejava desde de minha vinda. Finalmente eles vieram e conferiram juntos como andam as coisas. Felizmente eles não "me viram chorando e nem vão precisar mentir, 'pros da pesada', que eu vou levando..."
Hoje meus pais já foram embora, estão novamente onde eles pertencem... minha casa continua grande, mas agora de uma maneira diferente.
É um grande mais vazio... mais vazio de gente, mas cheio de lembranças.

domingo, 9 de março de 2008

O Papai Noel é meio holandês

Amsterdam, 25 de novembro de 2007

Outro dia estava visitando umas escolas por causa do meu trabalho e acabei me perdendo quando tentanva com minha bicicleta chegar de uma escola a outra. Diferentemente de quase tudos os bairros por aqui, este tem ruas largas, casas grande, com garagem, jardins na parte da frente. Parece que estamos numa outra cidade. É um bairro relativamente novo, Buitenveldert.
Numa destas ruas vi um punhado de árvores, devido à aproximação do inverno, já sem quaisquer folhas, mas repletas de um fruto pequeno, vermelho e redondo. Eu estava com um bocado de pressa. Continuava a pedalar e a encontrar mais árvores como aquela... os frutos caiam pelo chão. Nunca tinha visto árvore como aquela. Pensei: “estamos perto do Natal, fruta pequena, vermelha e redonda só pode ser cereja.”
Poxa, mas cereja pra maioria dos brasileiros é daquelas frutas que “dão” num potinho de vidro, e que já vêm em caldas... Eu tendo horário pra chegar no meu destino, e ainda perdido, resolvi não parar pra conferir. Não sei porque vieram estúpidas vozes na minha mente: “frutinhas desconhecidas e vermelhinhas... devem ser venenosas!” Acho que algum dia ouvi isso quando era criança e justo naquele momento veio me assombrar. Eu devia ter parado.
Me senti um caipira descobrindo algo novo na cidade grande... ou melhor, me senti um paulistano chegando ao interior e vendo pela primeira vez um pé de jabuticaba: “que frutinha mais estranha... não cou comer isso aí não”.
Tenho que voltar àquela rua. Só espero que não me perca pra chegar lá.

Não tem como fugir, mesmo quando nos perdemos nos damos com eles... o Sinterklaas e o Zwarte Piet.
Diz a tradição que o Sinterklaas vive na Espanha e que no dia 5 de dezembro ele chega, com seu cavalo branco e acompanhado de seu ajudante, o Zwarte Piet, para presentear as crianças que se comportaram bem durante o ano.
Todas as crianças colocam os sapatos ao lado das lareiras antes de dormir. Caso elas tenham sido boas, o Zwarte Piet desce pela chaminé e deixa dentro do sapato um presente. Caso a criança tenha se comportado mal... aiaia... em vez de um presente ela recebe umas xibatadas e ainda pode ser levada pra Espanha.
O Sinterklaas usa uma roupa vermelha, um chapeu também vermelho, um cajado e tem uma longa barba branca, parece um papa. Ele é na verdade uma figura que representa o Santo Nicolau (Um bispo que viveu na Turquia).

Aqui, as crianças aguardam mais a chegada do Sinterklaas e seu ajudante que do próprio Papai Noel. Daria pra dizer que é coincidência a presença destes personagens tão parecidos, se não fosse o fato dos holandeses celebrarem em uma de suas antigas colônias esta figura carismática.
Nesta colônia, a festa ficou tão famosa que mesmo depois do lugar passar pro domínio inglês ela continuou... mas o Sinterklaas virou Santa Klaus, na recém fundada Nova Yorque.
Quando é que eu iria imaginar que o Papai Noel é na verdade uma criatura inicialmente moldada por holandeses... Se bem, que entre o original é o americanizado eu prefiro o segundo.
Enquanto o Papai Noel carrega seu próprio saco de presentes, desce de seu trenó pra se escorregar pelas chaminés e rechear os sapatinhos das crianças, o Sinterklaas fica cavalgando seu cavalo branco e bota o pequeno Zwarte Piet pra trabalhar pra ele. Detalhe... como já falei num email anterior, zwart em holandês é preto, ou negro. Ou seja, Zwarte Piet em português seria: Pedro, o negro.
Hoje há várias teorias pra explicar a presença desta figura, uma delas diz que ele é um italiano limpador de chaminés, e a pele é escura devido a sujeira... pra mim, infelizmente, é muito complicado não relacionar as simpáticas figuras ao nada simpático imperialismo. A colonização e ao colonizado. Ao Senhor e ao escravo.

Bem... não importa a minha opinião sobre o assunto, a festa é bonita e nos próximos anos conviverei com estes alegres personagens sempre nesta época do ano. E quem sabe não serei ainda algum dia “obrigado” a me transfigurar num deles pra animar uma festa de família... Se bem que ontem vi na TV uma reportagem sobre a preocupação de pessoas, com relação ao fato do Papai Noel estar cada vez mais tomando espaço do Sinterklaas. Parece que a criatura vem devagarinho se apoderando do criador.

Esta semana recebi também o prolongamento de meu visto. Desta vez por 5 anos. Como vai ser gostoso passar os próximos anos sem ter que me preocupar com setor de imigração, documentos, provas de relação estável, envelopes, protocolos...
O prolongamento do visto caiu direitinho na semana que comemoro um ano por aqui... por acaso é hoje!
Tirando os primeiros meses de inverno, nos quais eu não podia trabalhar, o ano passou voando. Neste primeiro ano tenho muito a comemorar, foi muita batalha mas também muita conquista.
O gostoso é que eu posso dizer que hoje vou comemorar estando aqui na Holanda mais em família do que nunca... Daqui a pouco saio de casa pra ir buscar meu irmão e meu pai no aeroporto. Estou muito feliz, mas também muito ansioso... mas não mais que meu pai, que aos 57 vai desembarcar por estes lados pela primeira vez.
Estas duas próximas semanas vão ser deliciosas, quero mostrar de tudo pra ele. E gostoso também vai ser em sua despedida, quando vou poder dizer, como já fiz muito quando vivia em São Paulo: “Pai, até o próximo final de semana”.

Hospedando em Amsterdam... visitando na Italia


Amsteram, 21 de junho de 2007


Há duas semana recebi aqui um grupo de brasileiros, vieram o Ney, amigo da faculdade, e quatro amigos dele. Alguns dormiram aqui em casa, que por ser pequena não comportava todo mundo.
Mais uma vez me perdi pelas ruas e canais de Amsterdam. Pude recontar as histórias sobre a cidade e sobre os holandesas que eu conheço. Os levei pra conhecer minha família. Como é interessante observar as diferenças... e as semelhanças. Eu hoje compreendo os dois lados.

A cada dia que conheço esta cidade, descubro que ainda conheço muito pouco dela. Sempre vejo coisas novas, ouço novas histórias, ou descubro que algumas delas não eram verdade.
Lembram da casa de 1,70 metros de largura?!?!
Pois é... me enganaram! Estava lá, mostrando-a aos meus amigos visitantes quando ouço um holandês gritar, em português (ele nos contou que é casado com uma brasileira), de uma janela na casa ao lado:

- Esta casa engana! Ela é fina assim mas fica larga logo depois. Ela tem na parte do fundo a largura de uma casa normal.

Bem, vi que um narigudo pode entrar sim naquela casa sem se preocupar como pretende sair e que estes holandeses eram mais espertos do que imaginava. Afinal, o cara fez uma casa de 1,70 metros de largura na frente, pagava o imposto sobre isto e desfrutava na parte de trás de uma casa com a largura de uma casa normal. Quem disse que o jeitinho brasileiro é uma invenção brasileira?!

No final da viagem o Ney, o Ernesto, o Vini, o Marcelo e a Patricia não sabiam como agradecer o que proporcionamos e eles por aqui. Mas eles não tinham o que agradecer. Poucos conseguem entender é o quanto é gostoso pra mim, que vivo aqui, receber conterrâneos interessados em conhecer a parte da Holanda que fica pra fora dos CoffeShop’s. É uma maneira deliciosa de matar as saudades do Brasil... é como se um pedaço da montanha viesse ao Maomé.

E tem outra, alguns dias depois eu chegava à casa do Stefano, um amigo italiano dos tempos de Portugal, que vive nos arredores do Roma. A vida é assim... um dia recebemos e no outro somos recebidos.

Passamos o primeiro dia na casa da família dele, em Nettuno. Esta cidade fica a beira do mar... que mar quentinho... depois de sete meses longe de águas quentes me esbaldei no mediterrâneo.
Nettuno foi um ponto estratégico muito importante durante a conquista da Itália pelas tropas aliadas na segunda guerra. Foi algo parecido com o Dia D na costa francesa. A cidade e as pessoas são bastante agradecidas ao que as tropas americas fizeram por elas. Alí foi constuído um dos maiores cemitérios americanos da Europa, onde foram enterrados os combatentes impedidos de voltar pra casa. A conquista americana deixou suas marcas: a pequena cidade tem uma das equipes de baseball mais importante da Europa.

Poucos são os italianos que falam inglês, a família do Stefano não era diferente. Mas isso não foi problema em momento algum. A Susanne catando palavras em portugues ou espanhol que podiam ser melhor percebidas e eu com meu italiano aprendido com os Mezzenga e Berdinazzi das novelas da Globo pudemos compreender e ser compreendidos. Jantamos com eles um jantar típico italiano, com muita massa. Foi minha primeira lasagna genuina de uma mama italiana.
Na massa italiana a massa é o mais importante, nas nossas no Brasil, adicionamos tantas outras coisas, que massa perde um pouco de sua importância. Não há como comparar as duas cozinhas. Elas são bastante diferentes. Se me pedissem pra escolher entre os mesmos pratos, um original e o outro à brasileira... eu pegaria um pedaço de cada.

A Itália é meio confusa como o Brasil, seu transito é louco como o nosso. As pessoas usam carro pra tudo, por isso as ruas são sempre caóticas, ainda mais pela presença das lambretinhas. As pessoas ligam horas depois do horário combinado, chegam atrasadas, mas há grande espontaniedade. Quando nos sentamos pra comer só saímos quando a barriga está pra lá de cheia...

Chegamos a Roma em nosso segundo dia de viagem. Roma é caótica. Roma é história.
Lá, saímos de um metro lotado e damos de frente com o Coliseu. Enquanto mergulhamos pelas ruínas da Roma antiga somos repentinamente trazidos a realidade por mais uma cirene de uma das ambulâncias que parecem não parar nunca.

Muitas praças e igrejas de Roma foram construídas com pedras retiradas dele, fizeram de tudo pra acabar com aquilo... mas ele resistiu. O Coliseu está lá até hoje em meio aquela louca cidade. Estar ali na frente, ou lá dentro é voltar no tempo. Eu sei que as coisas que aconteciam alí eram bárbaras, mas eu vibrava, parecia que dava pra ouvir: Maximus!!! Maximus!!!! Maximus!!!!

A obra romana mais conservada é o Pantheon. Ele perto de seus 2000 anos tem muitas de suas características originais. No começo era um templo a todos os deuses mas depois de “catequizado” se tornou um templo da igreja católica. Parece que esta transformação foi o que impediu que ele, como os outros, fosse depredado. Mas não porque não iam o depredar por ser igreja, mas sim para não virar uma igreja!
Seu teto, uma imensa cúpula com quase 44 metros de diâmetro, ainda é festejado pelo mundo por seu um dos maiores e mais bem conrtuídos da história.
Diferentemente de outras cúpulas, esta tem uma abertura na parte superior, com 9 metros de diâmetro. De lá de dentro, quando olhamos pra cima vemos o céu. Ou seja, se estiver dia bonito vemos céu azul mas se estiver chovendo... segundo meu amigo Stefano, os pingos não caem lá dentro. A história parece ser um mito.
Dizem que a construição foi tão bem feita que lá a chuva não entrava. De uma coisa não há como duvidar... o negócio foi realmente bem feito! Tenho a boca aberta até agora. Não há como negar que os arquitetos e contrutures eram quase mágicos por fazer uma coisa daquele tipo a tanto tempo atrás, mas daí a fazerem uma abertura de 9 metros por onde a água da chuva não passa parecia mágica demais pra mim.
Mesmo depois assistir a um tour digital, seguir alguns guias profissionais, ler nossos dois guias de Roma e não conseguir resposta pra minha pergunta, resolvi usar todo meu italiano e perguntar pra pessoa que melhor poderia saber sobre isso: um dos seguranças do Pantheon.

- Senhore, io posso faire una pergunta?
- Si, claro.
- Que passa quando piove – enquanto apontava a abertura no teto.

A resposta não poderia ser mais elucidativa:

- PIOVE DENTRO!!

Eu pude perceber muito bem que aquele tom de voz dizia também outra coisa: “como são estúpidos estes turistas” haha
Nos encontramos durante estes dias com vários amigos feitos quando vivemos em Portugal. Além do Stefano, mais alguns italianos: Antonio, Alessia, Lizzi e mais duas duas Tchecas, Janna e Lucka. Não houve nada muito planejado, foi tudo muito espontâneo e as vezes rápido. Os abraços de reencontro foram dados pelas pequenas ruas e praças de Roma. Tentávamos por o assunto em dia enquanto caminhávamos em meio aqueles antigos prédios do centro da cidade, ou enquanto comíamos uma pizza ou um macarrão à carbonara. O tempo dava mais uma vez aquele salto mágico... “tudo parecia ter sido ontem, e hoje estamos aqui, tomando um sorvete em frente ao Pantheon.”

Vimos muito, mas deixamos ainda muito de Roma por visitar. Nem o Papa conseguimos ver. Ele resolveu viajar naqueles dias. Os dias se passaram rapidamente. Mas foram intensos e não serão esquecidos...

Eu sempre discutia com amigos italianos sobre qual a melhor pizza do mundo. Agora, finalmente, posso dar uma opnião mais fundamentada... Se os italianos conhecessem catupiry, eu poderia dizer que a pizza deles é melhor que a nossa.

Agora numa coisa não há o que discutir... como é gostoso o sorvete italiano!