Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Viva a desobediência - II




Saiu no "Parool", jornal de circulação municipal aqui de Amsterdam um dia depois da nossa primeira partida do campeonato, na seção de Futebol Amador. Amanha vamos pro nosso quarto jogo.
Este ano eu me considero um pouco mais desobediente...


A gastronomic story


Segunda feira, perto da 8 da noite. Sempre pedalando do trabalho pra mais um treino com meu time de futebol.

Eu vou sempre direto do trabalho pro treino. Na segunda, quase sempre sem muita vontade. As pernas estão ainda meio pesadas do jogo do sábado, dores musculares ainda presentes, isso quando não há algo mais doendo. Depois, só chego em casa bem tarde, passando das 11 da noite.
Na segunda eu saio do trabalho umas 7h, como num restaurante indonesiano e pedalo pro clube. Vou sempre devagar, fazendo a digestão... com aquela moleza que dá quando estamos de barriga cheia.

Amsterdam nesta hora é uma loucura, todo mundo saindo do trabalho, quase todo mundo com pressa... mas eu, na segunda, vou sempre devagar. Desta vez, no meio do caminho cruzo em poster colado numa parede. "Estômago" estava escrito nele. Mas o que me chamou atenção foi o aquele garfo de filme de terror. Continuei meu caminho, aproveitando do que restava de minha tranquilidade antes da correria do treino começar.


Na quarta pedalo sempre mais depressa. Saio do trabalho as 6:15h. Tenho pouco tempo pra comer e estar em campo as 7h. Faço o mesmo caminho mais ligado. Chego pra treinar até com mais vontade! De comer pouco pra não ficar de barriga cheia, as vezes treino até com um pouco de fome.
Nesta quarta, cruzo mais uma vez o tal garfo. "Caramba! Estômago é português!" Mesmo com o tempo apertado paro pra ver o cartaz:
- Vencedor de vários prêmios, inclusive no festival de cinema de Rotterdam.
- Atores pra mim desconhecidos, a excessão do Paulo Miklos que faz uma participação especial.
- Em cartaz desde 4 de setembro em algumas salas de Amsterdam.


Sexta feira, 9:45 da noite, estávamos eu e a Susanne numa sala de um cinema por aqui. Foi muito bacana! Nós dois gostamos muito.

Só ainda não entendi a diferença do cartaz brasileiro pro internacional... mas bem, felizmente, ele chamou a minha atenção. "Estômago - A gastronomic story" sugiro!

14 de setembro

Era meia noite, me levaram pro jardim... começou um "parabéns"!
O Nelson não conseguiu sair a tempo, era felicitado por quase todo mundo.

A festa não era minha, mas passando da meia noite o dia era meu, ganhei um "parabéns" e arranquei muitos abraços.

E o Nelson continuava lá dentro, recebendo as saudações...

Meu primeiro aniversário aqui na Holanda não foi o meu, foi do Dirk, irmão da Susanne. A reunião de família corria gostosa... vou a cozinha pegar algo pra beber quando entra uma tia, que ainda não conhecia, mas que sabia ser um pouco distante da família. A mulher me deu um aperto de mão, 3 beijinhos no rosto e disse: "meus parabéns!!!"
Agradeci meio perplexo... logo depois ao encontrar a Susanne eu disse:
- Su, eu sabia que sua tia era distante, mas não imaginava ser tanto assim. Você não vai acreditar... ela me confundiu com seu irmão!!!!
Virei motivo de piada... pela mesma razão que o Nelson ficou encurralado pelos cumprimentos, que o fizeram perder meu espontâneo "parabéns", a tia da Susanne me felicitou. Na Holanda a família toda é cumprimentada.

Bem, meu dia tinha começado bem gostoso, numa festa de família que não era minha mas que acabou virando um pouquinho. E eu ainda tinha família do Brasil comigo. O Nelson estava por aqui naquele final de semana.
Todos dizem que sou muito bem adaptado por aqui, que sou exemplo de integração. Acho que dizem isso pois, muitas vezes ao ter dificuldade em aceitar certas coisas, acabo apenas disfarçando bem. Mas há ocasiões nas quais prefiro não disfarçar, faço questão de mostrar minhas diferenças.
Por exemplo, é difícil aceitar que o abraço quase nunca faz parte dos cumprimentos de um aniversariante. Por isso, passou perto de mim no dia 14 de setembro e falou feliz aniversário, eu já pego logo pelo pescoço!
Eu não queria também organizar uma festa, botar na agenda, com hora pra começar e pra terminar... só queria ter um dia bacana, acompanhado de pessoas que queriam estar comigo, como sempre foi em meus aniversários no Brasil.
Assim, nada foi organizado, fomos pra casa dos pais da Susanne... foi muito bom, até o verão, em seus últimos suspiros veio me brindar com um domingo de Sol.
Quem quis, e pôde, veio. O dia começou com um belo café da manhã, depois fomos levar o Nelson pra passear pela região, compramos farinha em um moinho de vento, pra que bolos fossem feitos no Brasil, e tivemos ainda um churrasquinho...
A noite, ao voltar pra casa, acontece daquelas coisas que fazem qualquer dia ser fechado com chave de ouro: ouvi, num encontro virtual com 11 pessoas da minha família, através de 5 diferentes computadores, em 3 três diferentes países, em português, meu último "parabéns" das comemorações de meus vigésimo nono aniversário.