Amsterdam, 29 de janeiro de 2007
Por aqui continua tudo bem. Semana passada eu engrandeci ainda mais a minha lista de experiências profissionais de meu currículum paralelo. Nestas andanças que já fiz, além de me preocupar em elevar a qualidade do meu currículum vitae, acabei por realizar uma grande quantidade de atividades que além de muitas histórias me renderam também um bocado de dinheiro…entre elas:
- Vigia de piscina de hotel (Portugal);
- Homem estátua (Portugal);
- Auxiliar de limpeza de praias poluídas por derramamento de petróleo (Espanha) – está certo que com esta eu não ganhei dinheiro, mas valeram as refeições e o lugar pra dormir;
- Cobrador de banheiro (Holanda);
- Faxineiro de banheiro (Holanda);
- Professor de Português (Holanda);
- Pendurador de casacos em boate (Holanda) e
- Diarista (Holanda)
Agora posso incluir nesta lista: Cobaia profissional de estudos acadêmicos. Me pagaram 25 euros pra me sentar numa mesa por duas horas e responder várias questões sobre holandês (Idioma). Se minha licença de trabalho demorar um pouco mais a sair que o esperado, acho que vou levar esta nova atividade um pouco mais a sério, afinal experiência com isto eu já tenho, pois na época de faculdade participávamos sempre de experimentos… só que naquela época tudo de forma amadora… em prol da ciência!
Outro dia estava lendo umas matérias de um jornal de minha querida São José, aí no Brasil. É muito interessante acompanhar as coisas que acontecem em nossa terra natal com a consciência viciada por um outro tipo de realidade. O problema que o jornal relatava era sobre um pedaço de terra em São José ocupado (pra alguns), ou invadido (pra outros), pelo povão em busca de justiça social (pra alguns) ou devido à sua ignorância, manipulados por interesses político/sociais maiores (pra outros). Bem, não vou defender bandeira alguma, meus emails nunca tiveram este propósito, quero apenas relatar coisas que acontecem por aqui que me fazem ver de outra maneira acontecimentos em terras brasileiras.
Amsterdam não é uma cidade muito grande, mas é uma cidade muito populosa. Como tudo aqui é muito bem planejado, o governo municipal não permite que a cidade cresça, pois cidade muito grande é mais difícil de ser administrada e os problemas acabam surgindo com mais facilidade. Mesmo com tudo muito planejado, há um problema por aqui que parece ser meio difícil de resolver: Como a cidade é muito populosa e não há interesse em crescimento geográfico as pessoas têm certa dificuldade em encontrar um lugar pra morar, não como no Brasil, por falta de dinheiro, mas sim por falta de lugar mesmo. Uma família de classe média que em muitas outras cidade por aqui encontraria um apartamento, ou uma casa pra alugar e ter uma vida tranquila pode passar aperto em Amsterdam por falta de opções.
Eu por exemplo vivo num prédio “anti-kraak”. O prédio tem que ser restaurado, mas a restauração provavelmente não acontecerá antes do verão de 2008 (mas a qualquer momento podemos receber uma carta dizendo que temos que sair pois a restauração vai começar), por isso os donos do prédio alugam os apartamentos por um preço bem mais baixo que o normal para que os apartamentos não fiquem vazios, pois se eles ficarem vazios eles são ocupados (pra alguns), ou invadidos (pra outros), pelos “Krakers”. Por vezes vemos pela cidade faixas em prédios residenciais com os dizeres: “estas residências foram possíveis devido ao kraakbeweging”. Pois é, num país de tem uma taxa de educação muito mais elevada que a nossa no Brasil, apartamentos ou casas vazias numa cidade onde as pessoas precisam de lugar pra morar são inaceitáveis. Quando isso acontece, os mesmos são ocupados por pessoas que fazem parte de um movimento social – o kraakbeweging, e muitas vezes os ocupantes ganham, depois de algum tempo e muita luta, o direito à posse do local. Pois é, alguns problemas parecem ser exclusivos de países subdesenvolvidos… mas só parecem!
Mais uma curiosidade sobre meu prédio… como muitos sabem na Holanda algumas drogas, proibidas no Brasil e em grande parte do mundo, são legalizadas. Alguns bares, conhecidos aqui como CoffeShops, têm autorização pra venda. Nestes bares, pessoas compram um cigarro de maconha como se comprassem uma lata de cerveja por exemplo. Se não me engano, o consumo só pode ser feito no próprio bar ou em casa. Mesmo com a legalização, é muito mais comum ver alguém consumindo maconha no Brasil que na Holanda. Enfim, meu prédio tem 4 andares e no térreo funciona o “Whaw Coffehop”. Já me acostumei com isso, mas ainda acho uma pena que o lugar onde compro comida é mais distante de minha casa que um lugar onde compra-se drogas.
Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.
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