Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

domingo, 9 de março de 2008

Feijoada

Porto, dezembro de 2002

Uma vez quando estava passando férias com meu irmão, em Nancy na França, eu, ele e mais uns brasileiros resolvemos fazer uma Feijoada. Pra mim seria mais um almoço. Porém, eu pude perceber que aquilo era muito mais do que um bom almoço de domingo, quando vi o Espedito, um cearense que estava na França há uns 7 meses, todo emocionado enquanto fazia a farofa. Eu vi ali que pra eles, que estavam há muito tempo longe de casa, aquela comida significava algo mais que pra mim.
Bem, este final de semana, eu fui a uma despedida de um brasiliero que vai retornar ao nosso País depois de seu terminar seus estudos por aqui... pra acompanhar a comemoração seria servida uma feijoada.
Cheguei ao local da festa com um café da manha meio reduzido pra ter mais espaço na barriga. Afinal, café da manha eu tomava todo dia, mas feijoada eu não via desde meu último almoço antes de embarcar pra Portugal. Mas como já eram cerca de duas da tarde a fome já começava a mandar seus recados. Pra aumentar ainda mais minha ansiedade, ela ainda estava sendo colocada no fogo... Passava o maior tempo possível perto dela. O Lima, por sinal um outro cearense, que faz doutorado aqui, era o responsável pelas panelas. Como já disse, eu preferia ficar na cozinha, pegando umas dicas do cozinheiro, sentindo o cheiro seu cheiro e tomando o caudinho do feijão.
Quando deu perto de cinco horas, e eu já estava louco de fome, ela começou a ser servida. Eu fiz um prato do tamanho do mundo. Como a casa estava cheia e as cadeiras eram poucas, eu fui me sentar nos degraus de uma escada. Comi tudinho, bem devagar, saboreando cada grãozinho de feijão e me lembrando do cearense na França todo emocionado enquanto fazia sua farofa... terminado este prato me levantei e parti pro "segundo tempo". Novamente me sentei na escada e calado comia tudo, bem devagar.
Quando acabei de comer, estava satisfeitissímo. Cheguei até a pensar que meu dia já estava completo... mas no meio de minha sonolência provocada pela barriga super cheia percebo que alguma alma santa acabara de colocar sobre a mesa uma grande tigela de pavê. Putaqueopariu!!! (desculpem o palavrão), não é que eu descobri que meu dia ainda não estava completo. Naquela hora não podia acreditar que algo ainda melhor poderia acontecer naquele sábado. Mais um vez comi bem devagar... estava maravilhoso. Enquanto comia os últimos suspiros de meu pavê pude perceber realmente o que sentia aquele cearense que quase vi chorar fazendo sua farofa...


Nossos dia nos pregam mesmo surpresas. Quando eu realmente achava que meu dia estava completo, que nada mais de bom precisava acontecer naquele dia, inesperadamente, acabei por dividir o cobertor com uma inglesa que conheci por aqui. O que foi uma grata e deliciosa surpresa teve também uma grande dose de sofrimento. Nós no Brasil, ao comermos feijão todos os dias fazemos com que nossa barriga se acostume bem a isso. Mas ao passar muito tempo sem feijão nossa barriga fica descalibrada... porém barriga descalibrada e cobertor não combinam muito bem, ainda mais quando este é dividido com alguém pela primeira vez. Eu suei frio a noite toda, mas feio eu fiz!

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