Amsterdam 15 de março de 2007
Já se foi mais de um mês... neste tempo aconteceram muitas coisas: meu visto de permanência e trabalho ficou pronto; encontrei meu primeiro ganha pão (que pra minha agradável supresa não é lavando panelas!!!); o carnaval passou (se não fosse a alegria de ver as fotos de meus pais pulando o carnaval no meio da multidão pelas ruas do RIO DE JANEIRO, quase não daria pra ter notado que ele se passou neste ultimo mês); já se foram várias aulas de Holandês; eu continuo meus tendões calcaneares (ou de aquiles) doloridos (seria isso sinal da idade mesmo?!?!); eu aprendi a esquiar (e o melhor... não quebrei nada!!!!!) e meu computador quebrou...
É incrível como a distância aumenta quando ficamos sem “esta coisa”... fico imaginando como eram heróis aqueles que partiram pra aventuras como a minha antes da era da comunicação digital. Se bem que nada faz diminuir a alegria de receber uma carta de papel. Já foram duas desde que cheguei aqui!
Quanta viagem... vamos parar de enrolação e partir para os fatos...
Um de minhas maiores preocupações quando cheguei era não fazer nada ilegal que viesse poder atrapalhar o processo de meu visto de permanência. Por isso evitei ao máximo trabalhar ilegalmente. Porém recebi um convite de uma das irmãs da Susanne pra substituí-la como intrutor de uma sala de musculação de uma empresa de eletricidade em Utrecht (25 min de trem aqui de Amsterdam). Quando descobri o que iria ganhar pra ficar lá 3 horas por semana não tive como não aceitar. É lógico que não vou ficar rico trabalhando tão pouco tempo, mas seria uma ajuda imensa. Aceitei! Mesmo assim fiquei todo preocupado, mas pra minha sorte na semana aterior ao meu inicio recebi uma carta informando sobre a finalização do processo, ou seja, não cheguei a trabalhar sequer um dia ilegalmente. O trabalho está bom, é bem tranquilo e ainda tenho que praticar muito Holandês...
Pra matar um pouco do tempo livre, fazer algo de bom, e ainda praticar mais o idioma comecei a trabalhar voluntariamente numa ONG – FairFood – que atua pesquisando quais os alimentos vendidos nos supermercados europeus que contribuem com a diminuição da pobreza nos países onde eles são produzidos. Os que contribuem com esta causa recebem o título de “Fair”, os que não contribuem recebem o título de “Unfair”... estou ajudando em uma pesquisa sobre as características da cadeia produtora da castanha de cajú no Brasil. Tá bem legal. Mas sinceramente espero que no máximo em dois meses já não tenha mais dois dias livres pra me dedicar a FairFood.
Outra vez, escrevi que sobre alguns acontecimentos que eu acreditava serem exclusivos de países em subdesenvolvidos como o Brasil, mas que pra minha supresa acontecem também por aqui... desta vez quero falar da nossa típica e brasileiríssima Farofa! Não a comida em si... mas o ato de farofar. Farofa nos remete sempre a gente pobre, que enche o carro de comida, jogos, bola de futebol, e vai pra praia fazer barulho. A confusão já começa na estrada, com aqueles carros lotados, munidos de bagageiro se encaminham pra mesma direção tirando a paciência de todos que têm o mesmo destino.
Pois é... pra minha surpresa, em minhas semana de esqui nos alpes franceses eu descobri que a farofa não é em nada uma invenção brasileira. E se por acaso for, ela foi muito bem introduzida por aqui.
Na sexta a noite colocamos todas as malas no carro... caraca, a cada mala ou pacote de comida que entrava eu pensava: como é que a gente vai entrar aí amanha?
4:30 da manha o pai da Susanne acorda todo mundo... café da manha pra quê? Só perderíamos tempo, e afinal, quem toda café da manha a esta hora. Lá pelas 9 da manha, numa área pra pique-nique a beira da estrada, ao lado de muitos outros viajantes acompanhados de seus carros com bagageiros, satisfisemos nossa fome... hahha... as farofas brasileiras me vieram definitivamente à cabeça. Me lembrei ainda das muitas vezes que ouvi: farofa é coisa de pobre!!!! Hahaha O que já era uma certeza se confirmou ainda mais: farofa é coisa de gente feliz!!
Nas quase 12 horas de viagem, tivemos ainda outras paradas pro lanche, pro xixi, pra esticar as canelas... pegamos até congestionamento. Só faltaram mesmo os apressados com seus carros moderninhos cortando pelo acostamento e aqueles braços virados pra janela que pega sol vermelhos como tomate. Se bem que mesmo sendo férias de inverno, no final do primeiro dia, do pescoço pra cima, eu parecia também com um belo tomate. Fazia muito tempo que não ficava tão vermelho.
Como cansa aprender a esquiar... mesmo sobre uma montanha de neve a gente pode suar pra caramba, e como meu protetor solar, como o do farofeiro, não era um Sundown Sport, ele saia quando eu suava e aí meu amigo... os raios de sol torraram esta cara branca do inverno. Mas pra quê queixar, no final do dia as “Baby” Pistas já tinhas ficados todas pra trás e eu não tinha quebrado nada!
Eu posso dizer que aprendi a esquiar, no final da semana eu consegui acompanhar a família da Susanne nos passeios pelas montanhas... realmente, aquilo é uma delícia. Ainda mais quando o tempo está gostoso. Pois é... a gente pode mesmo sobre o gelo se deliciar com o solzinho que esquenta bem gostoso. São quilômetros e quilômetros de pistas... a gente pode esquiar o dia todo sem passar pelo mesmo lugar duas vezes... Aquelas paisagens são infinitamente diferentes de tudo que nós brasileiros estamos acostudamos a ver. Ë uma imensidão branca de montanhas pontudas... quando o céu está azul fica tudo ainda mais incrível. E a gente ainda descendo “as ladeiras” com o vento gelado batendo na cara. Com o calor que eu sempre sentia era uma delícia.
No quarto dia, quando eu já estava meio confiante, fomos muito alto (pra subir sempre usamos teleféricos, quando a subida é mais longa há uns bodinhos, do estilo daqueles do Pão de Açúcar no Rio). Pra descer aquela montanha pegamos uma pista só, não muito inclinada e meio estreita. Diferentemente das outras ela contornava a montanha, ou seja, de um lado tinha a montanha e do outro o vale. Parecia, de certo modo as estradas do nosso litoral que descem a serra do mar. Eu ia descendo... as vezes deixava a velocidade aumentar um pouco pra ficar mais emocionante, mas logo me continha... não queria me quebrar. Numa destas, quando estava no limite da minha velocidade, cheio de adrenalina, todo empolgado e já pensando em diminuir a velocidade pra não ir além da conta vejo três maníacos esquiadores passarem por mim como se eu fosse um velhinho caminhando com bengalas. Caracas... essa é uma sensação que as pessoas da minha idade (27 anos) ainda não têm o costume de enfrentar... afinal não é agradável tomar um baile de uns maníacos que deveriam ter no máximo uns 10 anos de idade! haha
Quando uma criança olha um adulto fazendo algo que ela deseja ela pensa: “eu queria ser igual ele quando crescer!” Agora o que deveria pensar um adulto olhando uma não, mas TRÊS crianças, fazendo aquilo que ele deseja muito?! Haha
Nos ultimo dia eu consegui desfrutar bastante das descidas (no começo a gente só desfruta das subidas... no teleférico), mas por um engano nós pegamos uma pista vermelha. Um estágio mais difícil que as azuis, as quais eu já conseguia descer sem problemas. Estas pistas têm algumas trechos bastante inclinados. Se a gente entra numa pista não tem como voltar... a gravidade só puxa pra baixo. Mas como eu desejei que ela, por alguns momentos, nos empurrasse de volta pra cima. Eu até que consegui descer bem, mas em um trecho eu comi muita neve! Por sorte não passou nenhum rescém usador de cuecas pra acabar com minha moral... pois, se passasse acho que ia desistir e descer aquele pedaço de bunda mesmo! Haha
Algumas coisas estão acontecendo por aqui... fiquem na torcida que talvez tenha algumas boas notícias pra enviar nas próximas semanas!
Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.
domingo, 9 de março de 2008
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