Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

domingo, 9 de março de 2008

O Papai Noel é meio holandês

Amsterdam, 25 de novembro de 2007

Outro dia estava visitando umas escolas por causa do meu trabalho e acabei me perdendo quando tentanva com minha bicicleta chegar de uma escola a outra. Diferentemente de quase tudos os bairros por aqui, este tem ruas largas, casas grande, com garagem, jardins na parte da frente. Parece que estamos numa outra cidade. É um bairro relativamente novo, Buitenveldert.
Numa destas ruas vi um punhado de árvores, devido à aproximação do inverno, já sem quaisquer folhas, mas repletas de um fruto pequeno, vermelho e redondo. Eu estava com um bocado de pressa. Continuava a pedalar e a encontrar mais árvores como aquela... os frutos caiam pelo chão. Nunca tinha visto árvore como aquela. Pensei: “estamos perto do Natal, fruta pequena, vermelha e redonda só pode ser cereja.”
Poxa, mas cereja pra maioria dos brasileiros é daquelas frutas que “dão” num potinho de vidro, e que já vêm em caldas... Eu tendo horário pra chegar no meu destino, e ainda perdido, resolvi não parar pra conferir. Não sei porque vieram estúpidas vozes na minha mente: “frutinhas desconhecidas e vermelhinhas... devem ser venenosas!” Acho que algum dia ouvi isso quando era criança e justo naquele momento veio me assombrar. Eu devia ter parado.
Me senti um caipira descobrindo algo novo na cidade grande... ou melhor, me senti um paulistano chegando ao interior e vendo pela primeira vez um pé de jabuticaba: “que frutinha mais estranha... não cou comer isso aí não”.
Tenho que voltar àquela rua. Só espero que não me perca pra chegar lá.

Não tem como fugir, mesmo quando nos perdemos nos damos com eles... o Sinterklaas e o Zwarte Piet.
Diz a tradição que o Sinterklaas vive na Espanha e que no dia 5 de dezembro ele chega, com seu cavalo branco e acompanhado de seu ajudante, o Zwarte Piet, para presentear as crianças que se comportaram bem durante o ano.
Todas as crianças colocam os sapatos ao lado das lareiras antes de dormir. Caso elas tenham sido boas, o Zwarte Piet desce pela chaminé e deixa dentro do sapato um presente. Caso a criança tenha se comportado mal... aiaia... em vez de um presente ela recebe umas xibatadas e ainda pode ser levada pra Espanha.
O Sinterklaas usa uma roupa vermelha, um chapeu também vermelho, um cajado e tem uma longa barba branca, parece um papa. Ele é na verdade uma figura que representa o Santo Nicolau (Um bispo que viveu na Turquia).

Aqui, as crianças aguardam mais a chegada do Sinterklaas e seu ajudante que do próprio Papai Noel. Daria pra dizer que é coincidência a presença destes personagens tão parecidos, se não fosse o fato dos holandeses celebrarem em uma de suas antigas colônias esta figura carismática.
Nesta colônia, a festa ficou tão famosa que mesmo depois do lugar passar pro domínio inglês ela continuou... mas o Sinterklaas virou Santa Klaus, na recém fundada Nova Yorque.
Quando é que eu iria imaginar que o Papai Noel é na verdade uma criatura inicialmente moldada por holandeses... Se bem, que entre o original é o americanizado eu prefiro o segundo.
Enquanto o Papai Noel carrega seu próprio saco de presentes, desce de seu trenó pra se escorregar pelas chaminés e rechear os sapatinhos das crianças, o Sinterklaas fica cavalgando seu cavalo branco e bota o pequeno Zwarte Piet pra trabalhar pra ele. Detalhe... como já falei num email anterior, zwart em holandês é preto, ou negro. Ou seja, Zwarte Piet em português seria: Pedro, o negro.
Hoje há várias teorias pra explicar a presença desta figura, uma delas diz que ele é um italiano limpador de chaminés, e a pele é escura devido a sujeira... pra mim, infelizmente, é muito complicado não relacionar as simpáticas figuras ao nada simpático imperialismo. A colonização e ao colonizado. Ao Senhor e ao escravo.

Bem... não importa a minha opinião sobre o assunto, a festa é bonita e nos próximos anos conviverei com estes alegres personagens sempre nesta época do ano. E quem sabe não serei ainda algum dia “obrigado” a me transfigurar num deles pra animar uma festa de família... Se bem que ontem vi na TV uma reportagem sobre a preocupação de pessoas, com relação ao fato do Papai Noel estar cada vez mais tomando espaço do Sinterklaas. Parece que a criatura vem devagarinho se apoderando do criador.

Esta semana recebi também o prolongamento de meu visto. Desta vez por 5 anos. Como vai ser gostoso passar os próximos anos sem ter que me preocupar com setor de imigração, documentos, provas de relação estável, envelopes, protocolos...
O prolongamento do visto caiu direitinho na semana que comemoro um ano por aqui... por acaso é hoje!
Tirando os primeiros meses de inverno, nos quais eu não podia trabalhar, o ano passou voando. Neste primeiro ano tenho muito a comemorar, foi muita batalha mas também muita conquista.
O gostoso é que eu posso dizer que hoje vou comemorar estando aqui na Holanda mais em família do que nunca... Daqui a pouco saio de casa pra ir buscar meu irmão e meu pai no aeroporto. Estou muito feliz, mas também muito ansioso... mas não mais que meu pai, que aos 57 vai desembarcar por estes lados pela primeira vez.
Estas duas próximas semanas vão ser deliciosas, quero mostrar de tudo pra ele. E gostoso também vai ser em sua despedida, quando vou poder dizer, como já fiz muito quando vivia em São Paulo: “Pai, até o próximo final de semana”.

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