Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Percatas...

Quando criança ia muito pra casa de meus avós... principalmente dos avós maternos, em Lorena.
De lá, sempre ria com meu tio Hélio, irmão de minha avó que com ela vivia.
Ele, sempre munido de seu par de havaianas, "as legítimas" segundo Chico Anísio, andava pra cima e pra baixo. Em casa seu grande amigo era seu rádio, quase sempre ligado à Canção Nova:

- "Magão"... cê pode consertá meu rádio?

Bastava meu pai da uma mexidinha aqui, outra ali, que o problema já estava resolvido.

- "Magão"... "Magão"... óia as percata nova que eu ganhei.

Cheio de orgulho com suas percatas novas, uns sapatinhos de lona com solado de corda, ele caminhava pra missa no domingo seguinte.

Há algumas semanas andava por Barcelona. Já tinha visto muito da cidade. Decidimos então andar a toa, devagar, sem rumo. Tomamos tempo pra olhar pras pessoas, pras vitrines, pros detalhes.

- Fe!! Venha aqui... estes sapatos ficariam bem legais pra você!

Do alto de minhas havaianas olho pra'queles sapatos... eu ri sem parar!

Meu tio Hélio, na verdade, estava muito a frente de seu tempo. Suas havaianas tinha mudado um pouco, já não eram mais as legítimas: brancas com as tiras e as laterais azuis. Mas hoje em dia são queridas por pessoas de todos os lugares onde já estive.
E suas percatas, não mais fabricadas pelas Alpargatas, viraram produto de moda em Barcelona e em Amsterdam.

Acabei nem as comprando... mas acho que ainda este verão, feito meu tio Hélio, caminharei por aí, sobre cordas, num domingo qualquer.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Chuva


Eu precisava justificar minha ausência nas ultimas eleições. Com meus documentos todos em mão estou eu na fila do cartório eleitoral em São José.
Na minha frente um rapaz. Parecia ser da minha idade. Um senhor mais velho o escoltava naquela fila. Seu jeito tão introvertido meio que chamou minha atenção.

- Próximo!
- Eu preciso tirar um novo título de eleitor.
- Por que, o senhor perdeu o seu título antigo?

Todo ano é a mesma coisa... desde a muito tempo me lembro de acompanhar o contraste entre as festas de fim de ano e a tristeza dos que perdem tudo com nossas chuvas de verão.
Quase todos nós, brasileiros, vemos por estes dias, entre um churrasco e outro, o drama alheio pela TV.
Felizmente, pra grande maioria, o próximo banho de mar, ou gole de cerveja sempre vem pra levar qualquer sentimento ruim provocado por tais imagens. Estamos por um lado bem perto de muitos dramas, mas ao mesmo tempo nos sentimos bem longe deles.

- É eu perdi sim. Eu moro lá no Rio Comprido. A chuva veio, levou a minha casa e tudo que estava nela - E ele continuou: "inclusive minha mulher, e minhas duas filhas mais novas..."

Nunca tinha sentido tanto as chuvas de verão como naquele instante...