Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

hoje eu sou meu Pai


estávamos na casa dos meus avós, em lorena. flamengo x botafogo na tv. estádio lotado, tão cheio que a torcida vazou pelo ladrão.

na entrada da área uma falta pro flamengo. o junior, na verdade leovegildo, se prepara pra bater. Ele disse: "dali ele não perde!"

dito e feito! instantes depois, o junior, com seus 38 anos anos, pula e corre como um garoto.
eu, com um pouco de inveja, O vejo festejando o seu idolo. foi o ultimo campeonato brasileiro pro mengão, num longínquo 1992.


no ano seguinte Ele nos levou pela primeira vez ao morumbi... meu tricolor era o atual campeão do mundo. amistoso para entrega de faixas. do outro lado o sevilla, com maradona e tudo.
foi uma grande festa! uma alegria pra três pequenos sãopaulinos - eu, daniel e alexandre. pra ajudar a secar o corpo da chuva intensa de verão, pulávamos o tempo todo. e Ele pulava com a gente.

Ele sempre tentou disfarçar. mas lá dentro há um fanático torcedor, talvez um pouco da criança que Ele um dia foi. em momentos decisivos, o torcedor é quem manda. me lembro bem de um flaflu, em que Ele, trancado em seu quarto, solitário ouviu o jogo em companhia de seu radinho.

1993, segunda final de libertadores pro meu são paulo. morumbi gelado de inverno. lá estávamos nós: Ele, eu e daniel. aquele time com raí, palhinha, muller, cafu, zetti e companhia fez o placar mais dilatado de uma final de libertadores: 5x1! inesquecível... juntos vibrávamos a cada gol. Ele acabou virando mais um naquela multidão tricolor.

semana passada enquanto "skypeava" com minha mãe, ouvia Ele lá em baixo, vibrando com seu flamengo... me vieram na cabeça as lembranças daquele dia, que por causa de uma inveja boba, nem feliz por Ele eu consegui ficar. me lembrei também da sua cara de tristeza, com o flaflu perdido com um gol de barriga daquele gaúcho.

por muito tempo eu fiquei sem entender direito como poderia um flamenguista como Ele, vibrar assim com o meu próprio time.

hoje pra mim é claro que naquelas vezes no morumbi, Ele não era flamento ou são paulo... Ele era "eu e meu irmão". era por nós que Ele vibrava!

hoje, nas finais do brasileiro, independente do que vier, eu sou meu Pai... o meu Pai é rubro-negro...

hoje nas finais do brasileiro eu sou flamengo!

sábado, 21 de novembro de 2009

Respeito


A região onde trabalho é bastante característica aqui em Amsterdam. Por ser nova, seu planejamento e construções se diferenciam bastante de grande parte da cidade. Prédios comerciais altos de arquetura modernosa, ruas e calçadas largas e shoppingcenter fazem por lá parte da paisagem.
Por suas características, esta região da cidade atraiu uma população específica, entre os quais: idosos e imigrantes classe business.
Os idosos aproveitam da acessibilidade criada pelas ruas e calçadas largas e os imigrantes escolhem as casas, ou apartamentos grandes, próximos aos locais de trabalho.

Um dia, na minha concepção, uma das grandes diferenças entre Brasil e Holanda, ou mesmo outro país "rico e desenvolvido" foi o respeito à população, seja pelos governantes ou mesmo de forma geral... hoje já não sei mais...

Por causa do trabalho, acabei conhecendo uma família inglesa na qual o filho participa de várias de nossas atividades esportivas. A mãe é cadeirante.
Por estas dias encontrei esta mãe, enquanto eu visitava uma de nossas clínicas de tênis de mesa. Ela estava frustrada por ter que ficar na chuva, do lado de fora, esperando alguém passar para que a ajudasse a entrar no ginásio da escola, já que os dois degraus que levam à porta são barreiras intransponíveis pra ela e sua cadeira de rodas.

Até a pouco tempo, muitos velhinhos das redondezas matavam as horas sentados nos bancos do shopping do bairro... dalí acompanhavam o movimento e mantinham algum contato social.
Os novos proprientários do shopping resolveram fazer uma faxina geral, mudaram a fachada, trocaram o piso, deram nova cor às paredes. Os bancos dos velhinhos foram trocados... vieram outros novos, sem encosto.

A mãe inglesa, já cansou de pedir a escola rampas de acesso por ali. Como resposta ela sempre ouve: "somos obrigados a instalar as rampas caso algum aluno delas necessite."
Como ela diz: "isso é a Holanda!"

Lá, sem encosto, os velhinhos já não se sentam mais...

Os respeito sempre existe... mas desde que ele não interfira no próprio bolso, afinal construir rampas de acesso pelo escola, pois causa de uma mãe, deve custar muito dinheiro e velhinhos tomando conta de um shopping, sem lá muito consumir, é com certeza prejudicial aos negócios.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Book"

De beduíno a modelo nú, passando-se ainda por figurante de cena de filme, fugitivo desesperado, bisbilhoteiro tarado fã da Rita Cadillac, entre outras tantas... como já falei outras vezes, de vez em quando brinco de ser modelo, e se a curiosidade for grande, é só conferir o vídeo.



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Poucos segundos

Como quase nunca, a magrela não era minha companheira naquela manha de segunda feira.
As manhas de segunda já são meio melancólicas, sem ela e sentado num ônibus então, nem se fale.

Eu não a vi da cintura pra baixo, mas dali pra cima ela era daquelas mulheres de parar o trânsito. Mesmo pra alguém como eu, decidido e fiel, seria a coisa mais natural do mundo gastar uns segundos de um semáforo no vermelho olhando pra ela. Numa hora como aquela então, isso seriam completamente compreensível mesmo pra mais ciumenta das mulheres.

Loira como muitas por aqui... cabelo longo e ondulado, meio preso meio solto. Como uma moleca, chupava a ponta do indicador. Parecia que pra ela, o mundo fora daquele carro não existia. Era como se fosse ela e nada mais.

Os poucos segundos se tornaram longos, me vi meio hipnotizado, numa mistura de espanto e graça. Fazia muito tempo que uma outra mulher bonita, que não fosse a minha, prendesse tanto a minha atenção.

Eis que ela olha em minha direção. Meio sem saber o que fazer, disfarço o olhar. Confesso que, sem saber porque, afinal nunca fui de fugir de um olhar feminino, fiquei envergonhado.

Mas curiosidade venceu a vergonha e voltei a olhar pra ela.

Um indicador de uma leve mão voltava a tocar aqueles lábios... movimento sutil antecedido por um lampejo de furiosidade, em mais uma profuuuunnnnda cutucada no nariz.

Luz verde... final daqueles poucos segundos que fizeram minha manha.

PS: antes de comer as melecas ela ainda dava um longa olhada na mercadoria...

domingo, 20 de setembro de 2009

Tijd voor een feestje!

Como diz o texto do convite: como assim, crise dos trinta?

Passou bem rápido... a tal crise é só uma piada, mas o sentimento é de que foi tudo muito rápido. Passei grande parte da minha vida achando que demoraria uma eternidade pra chegar aqui. E aqui estou! Felizmente, fazendo piada... e muito bem acompanhado.

Infelizmente faltou um bocado de gente em nossa festa, com as escolhas que fizemos é quase impossível ter todo mundo junto, quase sempre fica um gostinho de que está faltando um pedaço. Mas devido a estas escolhas, vamos ser obrigados a traduzir o convite e, mesmo meio atrasado, comemorar uma vez mais no final do ano...

domingo, 16 de agosto de 2009

São Goar


Eu nunca tinha ouvido falar dele. Sint Goar em alemão... fiquei tentando imaginar se haveria uma tradução pro português: Gonçalo... Gonçalves... Guiomar... não, ele era desconhecido mesmo.

Tínhamos saído cedo de Bonn, iríamos percorrer um trecho do Rio Reno, aquele mesmo que ajudou a Holanda a ser o país que é hoje em dia. Se na Holanda ele corre cercado por diques, naquele pedaço da Alemanha são os morros que o cercam. Se ao lado dos diques eram os moinhos de vento que guardavam os holandeses das águas do Rio Reno, encravados naqueles morros estão muitos castelos que outrora guardavam o próprio rio.

O passeio estava gostoso, a região, apesar de não estar na maioria dos destinos de quem vem passear por estes lados, merece ser visitada. Ali, cada curva o Reno nos presentea com um castelo... alguns apenas em ruinas, outros ainda bem inteiros... uns de conto de fadas, outros de filme de guerra.
Subiríamos o rio de carro e, sem pressa alguma, pararíamos quantas vezes fosse necessário, para poder desfrutar de tudo que fosse possível pelo caminho.
Já tínhamos feito bastante. As paradas em Remagen, Koblenz e Boppard valeram a pena... o dia foi passando rápido. Já era perto das cinco e ainda não tínhamos entrado em castelo algum. Sint Goar era nossa próxima parada!

Quem seria São Goar?!

No começo da vila um senhor nos avisou: "Já passa das cinco. Ele provavelmente vai estar fechado. Mas dá pra vocês verem os arredores."

Depois de passarmos por tantos castelos seria uma decepção apenas "ver os arredores" No estacionamento, ao lado de fora das suas muralhas, os parquimetros já não mais funcionavam. A partir das cinco o estacionamento é gratuito... algo tinha que ser positivo naquele momento! Nós fomos ver os arredores.
Num portal que dava acesso a um pátio externo do castelo, dois senhores, sentados numa mesa, impedem nossa entrada.

- there is party today! - apontando uma medalha em seu pescoço
- four euros! - dizia o outro, hostentando a mesma medalha. A medalha era de uma congregação de "cavalheiros" existente há vários séculos, que uma vez por ano organiza a tal festa no castelo.

Simpaticamente ele explicava:

- normal, pay there - apontando pro portão do castelo - today, pay here.

Tentei explicar que não estavamos muito interessados na festa e que gostaríamos mesmo é de visitar o castelo. Um deles se levantou. Momentos depois ele voltou.

- it is open! Today, four euros see castel and enjoy party! - meu pobre inglês era melhor que o deles.

Por quase duas horas nos perdemos por ali, no Castelo de São Goar. Dos castelos que já vi, este foi um dos mais bacanas... muito grande, imponente, em ruinas, mas com muitas salas e túneis ainda de pé.
A música começou. Uma bandinha de empolgados alemães fez o povo começar a se soltar. O ambiente nos convidou a nos sentarmos. Aquela mesa implorou por umas cervejas, e alguns refrigerantes. A bebida exigiu um tira gosto: joelhos de porco e salchichões foram nos servidos... cantamos pra Loreley!

Não havia mais como sair de lá. Com muito prazer jogamos fora nosso roteiro, trocando o que ainda estaria por vir por uma noite inesquecível em Sint Goar!


"São Goar,
nunca tinha ouvido falar do senhor, mas agradeço pelas graças alcançadas: uma noite pra não se esquecer e o estacionamento... que foi de graça!
"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Velha infância


Por estes dias tive que ir à estação central, aqui em Amsterdam. Fui esperar um trem que viria de Bruxelas. Mas que na minha cabeça vinha de outro lugar... lá das bandas de São José, de uma imaginária estação "Abília Machado".


O trem trazia consigo dois amigos, conhecidos desde que eu era como nesta foto aqui ao lado. Quando nem sabia que era gente e o meu mundo era gigante como aquelas ruas.


Um dos pecados que eu pago por viver esta vida meio aventureira, é ter que deixar muitas coisas para trás. Entre elas, ficou minha infância... meio perdida por aí. Afinal, já faz muito tempo que, em meu dia-a-dia, nada mais há que a ela me remeta.


Por um breve instante eles voltaram a fazer parte de meu dia-a-dia, e por serem tão presentes em minha infância, parece que a me trouxeram de presente, pro lugar onde vivo como adulto.


Hoje o trem já se foi, e com ele aqueles dois. Ainda melhor que ter vivos os meus dias de criança é sentir que, mesmo depois de muito tempo, eles continuam meus amigos...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Em nome da arte

Outra vez já falei aqui que de minha investida no mundo fotográfico... coisa louca até pra mim. Nunca pensei que um dia iria ficar fazendo caras e poses de frente pra uma câmera, ainda mais ficar correndo, saltando, voando ( e caindo sobre duas pequenas almofadas) em cima de um telhado.
Quando estavámos trabalhando na quarta foto o vento começou a soprar mais forte, uma cunhada foi escalada pra segurar a iluminação.
Enquanto fazíamos a última foto, eu lá com tudo ao vento, a Su de câmera em punho e a cunhada de olho na iluminação, uma visinha do prédio ao lado resolve pendurar as roupas em sua varanda.
Ficar com vergonha pra quê... vida de modelo é assim mesmo. Tudo em nome da arte!
Mas espera aí! Eu não sou modelo, mas tudo bem, afinal tudo em nome dos estudos da patroa.



Qualquer hora vou colocar meu "book" por aqui...

foto's by Susanne Reuling

domingo, 17 de maio de 2009

Mais um...



Há cerca de dois anos e meio eu escrevia um email que enviaria ao Brasil, no qual falava da oportunidade de poder treinar num clube amador de futebol daqui. Eu terminava o email da seguinte maneira:

"Vamos ver como vou me sair... se for bem, vou começar a treinar constantemente e quem sabe possa até disputar os campeonatos amadores por aqui... seria gostoso voltar a jogar. Seria bom também conhecer mais gente, falar mais holandês, entre outros.
Bem, vou indo por aqui!"

Eu acabei conseguindo treinar em dois clubes. O primeiro ficava, com a magrela, a cinco minutos de casa. Fui muito bem recebido, era uma equipe com gente bacana, na maioria pessoas de origem estrangeira, como se diz por aqui: "não holandeses". Como eu.
Pro segundo, do outro lado da cidade, tinha que pedalar 35 minutos. Voltar de lá, depois do primeiro treino, já sem pernas e com o frio da última semana de outono não foi nada animador. A aquipe era formada apenas por holandeses. Ali, o único "não holandês" seria eu.
Ambos os treinadores pediram pra eu voltar. Não foi difícil escolher... os 35 minutos de bicicleta depois do treino passaram a fazer parte de minha rotina.
Não foi fácil ficar por lá. Meu corpo não estava mais acostumado a dois treinos e um jogo semanais. Em meu primeiro ano tive mais lesões que em todos os outros anos de minha vida. Tendinites, torções e estiramentos me acompanhavam naquelas noites geladas na volta pra casa.
Eu já me comunicava bastante bem em holandês, mas entender o treinador durante os treinos era tarefa árdua. Participar ativamente das conversas de bar depois do jogos impossível. Na maioria das vezes dava vontade de sair de fininho... me perguntava se alguém iria perceber. Mas eu me segurava e ficava no meio deles o maior tempo possível.
Não é fácil chegar de fora num grupo ou sociedade já formados e vir a fazer ativamente parte deles. Felizmente pude aprender que quem tem que dar o primeiro passo somos nós, e que depois do primeiro passo, vem o segundo, o terceiro, o quarto e assim por diante. A caminhada é longa.
Depois de dois anos e meio, eu tenho absoluta certeza que a minha opção pelo clube no qual eu seria o diferente (o "não holandês") foi a melhor possível. Hoje enfrento bem melhor os problemas encontrados, tenho certeza que perceberiam se eu saísse de fininho de alguma roda, sou convidado pra aniversários e casamentos. Fiz amigos que me ajudaram a compreender melhor o modo de vida holandês.
Depois de mim, outros "não holandeses" chegaram ao clube. Ambos de origem marroquina, porém nascidos na Holanda. O primeiro não se adaptou muito bem ao clube e no meio da temporada nos abandonou. O segundo, Youssef, conseguiu se adaptar um pouco melhor, mas mesmo assim preferiu procurar outro time pra jogar ano que vem.
Ontem, logo depois de nosso úlitmo jogo ainda no campo, perguntaram, meio que criticando, por que ele procurou outro time pro ano que vem... afinal acreditamos ser um time tão bacana.

- Mas eu, pelo menos, sou o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada neste clube! - disse ele, meio que fugindo da pergunta, antes de ir pro vestiário.

Alguns concordaram e ainda se disseram impressionados com o esforço que ele tinha feito pra se integrar.

- Como assim, o Youssef é o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada com a gente? - eu perguntei.
- Você não se lembra daquele outro "marroquino", o Adil, que ano passado largou o time no meio do campeonato?
- Claro que me lembro, mas parece que vocês se esqueceram que faz dois anos e meio que eu jogo por aqui.

Depois de algumas risadas, um deles diz:

- Mas pra gente você é um holandês que fala com um sotaque meio diferente!!


Pra mim, eu continuo um brasileiro... feliz por saber que depois de uma longa caminhada cheguei onde queria. Ser apenas mais um.

domingo, 3 de maio de 2009

"Esquecimento"


A mala que estava nas costas era bem pesada, e os dois tripés que levava me atrapalharam um bocado pra entrar naquele ônibus. O que eu mais queria era logo me sentar, pra me livrar por alguns instantes daquele peso que eu carregava.
Logo que validei meu bilhete, fui procurando meu assento.

- Você não esqueceu alguma coisa? - disse o motorista.
- O que o senhor disse?
- Você não se esqueceu de algo?

Refiz, mentalmente, meu passos: "entrei no bumba, validei o bilhete, a maquininha confirmou a validação, pois a luz verde piscou..." e respondi:

- Acho que não! - seguro que nada faltava.
- Boa noite - disse o motorista holandês com uma simpatia gigantesca. Emendando logo em seguida um: tudo bem com você?

Depois de retribuir a saudação e me desculpar pela falta de educação, me sentei logo na primeira poltrona. Eu só pude rir da situação e admirar aquela simpática figura, um quebra gelo nestes dias cada vez mais antissociais em que vivemos.
Depois de descer do ônibus me realisei como a gente, independente do lugar, pode se distanciar do mundo que nos cerca. Ficamos tão concentrados em nós mesmos que acabamos por nos esquecer de quem está ao nosso lado.
Tenho quase certeza sobre o que aquele motorista gostaria de ter me perguntado quando pequei minhas tralhas e, preocupado em não deixar nada pra trás, saltei dequele ônibus.

- Você não estaria, novamente, se esquecendo de algo?

domingo, 22 de março de 2009

Pai e filho


Um dia desses, ao sair do trabalho vi daquelas cenas bacanas que faz a maioria dos homens, ainda sem filhos, sonhar com os seus... e a maioria dos pais, com crianças crescidas, lembrarem de quando eles eram pequenos,
Pai e filho, aproveitavam o sol da última semana de inverno e se divertiam na praça. Por vezes o pai mostrava algumas coisas e o filho tentava, na maioria delas em vão, imitar. Já por outras duelavam um contra o outro.
Num mercado próximo, fui buscar algumas coisas pra comer. Me sentei na praça e enquanto comia, me divertia um pouco vendo aqueles dois.
Muitos dos que passavam viam lá algo especial, alguns como eu, também pararam para ver. Um senhor se aproximou um pouco mais e assistia aquilo feliz como uma criança. Talvez ele, como eu, ria da tarefa árdua daquele muleque. Afinal, jogar contra um pai daquele é covardia!
Como meu lanche tinha se acabado e o meu futebol me esperava, peguei minha bicicleta e dali parti.
Parti com vontade de ficar e, talvez... quem sabe, tentar ajudar o garoto a ganhar uns duelos contra o pai - ninguém mais ninguém menos que Ruud Gullit.



sábado, 14 de fevereiro de 2009

Conclusões à primeira vista


Eu já morava em Portugal havia um tempo... estava acostumado com as coisas. Já tinha aprendido muito bem a aceitar as diferenças e compreendia perfeitamente que, mesmo compartilhando um idioma, Portugal não era o Brasil. Eu conseguia desfrutar bastante de minha vida, mas, mesmo aceitando muito bem algumas coisas indesejadas, ainda haviam momentos que chegavam a me tirar do sério.
Como quase sempre, passava num mercado perto de casa pra comprar coisas pra comer. Desde a primeira vez que ali entrei, vi uma placa que dizia ser proíbida a entrada com bolsas e mochilas. Estas deveriam ser deixadas nos armários indicados.
Duas coisas me faziam não deixar minha mochila por lá: tinha que pagar 50 cents para alugar um armário e quase ninguém os usava. Quase todos carregavam suas bolsas.
Eis que um dia, ao passar pelo caixa, foi me solicitado que eu mostrasse o que eu tinha no interior de minha mochila. Queriam verificar se eu tinha "pego" algo.
O sangue ferveu. Por que a senhora portuguesa que estava na minha frente, com uma bolsa debaixo do braço, não tinha sido revistada? Esconder uma coisa na bolsa dela seria muito mais simples, por estar pendurada logo abaixo do braço, do que na minha, que estava nas costas!
Fiquei com tanta raiva daquela situação: "malditos colonizadores!!!! Roubaram tudo o que era riqueza nossa e agora acham que só por ser brasileiro (eu vestia uma camisa do Brasil) eu ia roubar deles." Eu queria xingar... mas não o fiz. Conferiram minha bolsa, paguei a conta e fui embora com uma melancia entalada na garganta.
Lá quase não voltei mais. Passei a comprar minhas coisas num outro supermercado. A raiva diminuiu... mas não passou.


Eu já estava há cerca de três semanas com minha família holandesa pelo Brasil. Tínhamos passado os últimos 12 dias na Bahia. Todos estavam encantados com a facilidade que brasileiros têm em conversar com estranhos, seja onde for, na padaria, no mercado, na rua, no ônibus... Na Bahia então, a coisa é ainda mais cativante.
Estávamos a caminho do aeroporto e, com nossas bolsas, ocupávamos todo o fundo daquele micro-ônibus. Conversa vai, conversa vem e mais um bahiano vira nosso amigo. Ele queria conversar com todo mundo, usando a Susanne e a mim como tradutores.
Depois de algum tempo viajando com eles pelo Brasil, eu até já sabia o que as pessoas iriam perguntar. Numa conversa rápida, as perguntas são basicamente as mesmas. Ficava bem fáçil de responder: De onde eles vêem? Estão gostando? O que eles comem por lá? Qual a comida que eles mais gostaram aqui? É frio lá? Tão sentindo muito calor aqui? e por aí vai...
Depois de algum tempinho de conversa o pessoal da minha família começou a conversar entre si, sobre as diferenças, neste ponto, existente entre Brasil e Holanda. Pra eles os brasileiros pareciam bem mais simpáticos, amigáveis, sendo aquele rapaz um grande exemplo disso.
Como eles conversavam entre sí, e as opiniões iam e vinham, acabaram nem por perceber que o bahiano amigo foi-se embora... perderam assim, a oportunidade de se despedir daquela agradável figura, que no momento so mostrava mais um exemplo de simpatia brasileira. "Foi uma pena."


Eu tinha voltado a Portugal pra defender minha dissertação. Passeava por aquele pedaço do Porto onde tinha vivido. Que boas lembranças... devido a vontade de comer algo decidi tentar deixar de lado minha raiva e entrar novamente naquele mercado. Depois de mais de um ano eu teria que ser capaz de entar ali sem que o sangue subisse pra cabeça.
Logo que peguei minhas coisas entro na fila mais curta dos caixas. A caixa era a mesma. O sengue meio que subiu. "Hoje eu não aceitaria quieto uma coisa daquelas!!" Tinha certeza que ela tinha se esquecido de mim, mas eu não me esquecia dela.
Ao casal de velhinhos da minha frente ela pediu pra ver a bolsa. Já a minha... ela deixou passar.

Enquanto o pessoal da minha família conversava entre si, minha conversa com nosso amigo continuou. Ele sentava uns três bancos a minha frente e ficava o tempo todo virado pra trás. Eu, quase no piloto automático, ouço então uma pergunta não tão comum pra'quele tipo de conversa, mas minha resposta saiu quase tão automática quanto as outras: "como eles vêem da parte católica da Holanda, se dizem católicos, mas não são praticantes, principalmente os filhos. Já eu, quando estou no Brasil e posso, frequento um centro de umbanda." A conversa acabou quase ali. Nosso simpático amigo logo voltou a se sentar virado para frente... assim ele permaneceu até que se levantou e, sem qualquer adeus, saltou do ônibus a caminho de sua igreja, com sua bíblia debaixo do braço.

Passei um ano tendo raiva de uma situação na qual tinha sido discriminado. Preconceito assim nunca tinha sentido. Mas este preconceito eu só senti, pois o preconceituoso na verdade fui eu... felizmente pude compreender que aquela moça, provavelmente, deve ter que verificar uma amostra das pessoas que entra no mercado, desrespeitando uma norma da casa, ou seja carregando uma bolsa. Uma vez fui eu... outra vez um casal de velhinhos, portugueses, longe de qualquer suspeita.

Pra minha família, foi uma surpresa descobrir que a simpatia pode ter um limite bem determinado. Ser amistoso com um estranho tudo bem, mas com um infiel não... se eu não tivesse explicado a situação pra eles, talvez continuariam a usar o rapaz com um exemplo da ampla simpatia brasileira.

A primeira vista tomamos muitas conclusões que se mostram equivocadas. Felizmente hoje em dia tento pensar duas, três vêzes antes tirar as minhas, sejam elas negativas, ou positivas. Não nego que brasileiros podem ser discriminados por aqui, mas tenho minhas dúvidas na maioria das coisas que ouço. Admito a simpatia brasileira, mas sei bem que ela não é tão grande como gostaríamos...

A primeira vista qualquer um diria que o monstrengo de trás é duas vezes maior que o da frente...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O ponto de vista da História


Por tolices da vida, eu disse por muito tempo que não gostava de história... Porém, com o tempo fui percebendo que só olhando pro passado eu compreenderia melhor o presente. E como por aqui o passado e presente andam de mãos muito bem dadas acabei por me interessar ainda mais pela coisa.
Em muitas passagens por aqui pude ver, e sentir, a história como nunca tinha visto antes... era só fechar os olhos e eu estava lá, naqueles livros que durante muito tempo pareciam apenas um peso a mais nas minhas costas.
A história por estes lados começou a ser escrita um bocado antes da nossa. Olhar pro desenvolvimento de nosso país é ver que usamos como modelo muito do que já era praticado há tempos na Europa, falo de educação, justiça, religião, trabalho, política, entre muitas outras coisas que foram impostas por nossos colonizadores. Desde então parece que estamos correndo atrás do tempo, com o sonho de um dia sermos desenvolvidos como eles.

Mesmo depois de minha família holandesa passar um mês rodando pelo Brasil, ela não conseguiu encontrar o tipo de pessoa que mais representasse o brasileiro. Deste lado de cá ainda se pode estilizar o habitante de um determinado país.
Ter contato com o brasileiro é ver que somos paulistas, caiçaras, bahianos, índios, cariocas... e a perder de vista. Nós somos uma mistura de um monte de coisas. Até nossas populações locais, como a caiçara, conseguem ser uma mistura. Ali há sangue índio, português e negro. Meu avô, outro nativo, pernambucano sertanejo, conseguiu herdar de alguém a pele clara e os olhos verdes.

Os mesmos holandeses que no passado ignoraram fronteiras, viajaram pelo mundo, aprenderam idiomas, deram olhos verdes ao meu avô, forçaram populações de diferentes povos africanos a viverem juntos numa nova terra distante, fizeram comércio com quem quer que fosse, hoje têm uma dificuldade muito grande em aceitar muitos dos imigrantes que aqui chegaram a partir das décadas de 70 e 80. Este povo que, ao longo dos tempos, sempre aceitou as diferenças dos outros, no país dos outros, mostra hoje ter muitos problemas em aceitar a diferença destes mesmos outros... mas agora no país deles.
Tenho certeza que a cada ciclo de imigração no Brasil, a começar pelos colonizadores/invasores, trouxe seus sérios conflitos, seus choques de culturas. Mas não dá pra negar que, mesmo não tendo acabado com todos os nossos problemas, hoje somos todos brasileiros. Somos Tanakas Oliveira, Sennas da Silva, Haagensen de Souza...
Neste mundo que vivemos, sempre em "desenvolvimento", as fronteiras são cada vez menores. Atualmente, cerca de 40% das pessoas que vivem em Amsterdam não possuem origem holandesa e negar que estes sejam também holandeses é um grande erro. Queira-se ou não, este país já não é mais um país branquinho, de olhos claros e mente bem liberal. Aquele modelo que representa(va) o cidadão de holandês deve ser repensado.

Eu vivo me perguntando quando é que os holandeses vão perceber que as coisas mudaram, e que elas vão mudar ainda mais. Quando é que eles vão perceber que ou eles se misturam ou esta tensão entre os eles e os "forasteiros" nunca vai acabar e com certeza vai ainda aumentar!
Nós nos misturamos há muito tempo. Acabamos por absorver o que vinha de fora, desenvolvendo um sentido nacionalista em comum.
Parece que desta vez, não somos nós que corremos atrás do tempo...
Será que algum dia eles vão olhar pra nossa história?

sábado, 17 de janeiro de 2009

De braços abertos


Há pouco mais de dois anos eu prometi a minha família holandesa que os levaria pra visitar meu país. Seria uma bela maneira de os agradecer por tudo o que fizeram por mim desde a primeira vez que passei por aqui, seria uma maneira de apresentar meu país aqueles que me apresentaram tão bem ao país onde vivo, que hoje é também um poquinho meu.

Seria uma maneira também de realisar um sonho... o de ver minha família grande como nunca.


Foi quase todo mundo, estivemos aí, contando comigo em 10 pessoas. Os levei a cantos conhecidos, como Ubatuba, Ilha Grande e Maringá -RJ, mas também fomos a destinos já há tempos desejados, Foz do Iguaçú, Salvador e Chapada Diamantina.
Foi uma mistura deliciosa de conhecido e desconhecido, praia e montanha, cidade e vilarejo com várias festas de família. De um simples churrasco de final de semana, que comparado a um churrasco holandês de simples não tem nada, à celebração do Natal. Sem esquecer o inesquecível aniversário de meu Pai, quando comemoramos juntos seus 60 anos, numa grande mistura de verde e amarelo com laranja...

Depois de rodar tanto é dificil escolher o mais bonito. Simplesmente desfruto de ter conhecido um pouco mais de meu país, que de tão grande, não importa o quanto eu viaje, haverá ainda muito pra conhecer.
Fico feliz por poder ter vagado pela imensidão da Chapada Diamantina, com ponto alto a beleza do Cachoeirão, onde a água simplesmente brota naqueles imensos penhascos e cai devagarzinho até formar uma riozinho que se perde naquele canyon; por ter sentido a magia de um Pelourinho assustadoramente bonito durante uma caminhada solitária as 6:00h da manha; por ter visto violência da Garganta do Diabo, que apreciada do lado argentino faz qualquer brasileiro admitir que os "hermanos" ficaram com a melhor parte daquele parque; por ter me espantado com a surrealidade de Aventureiros, num dos cantos mais bonitos que eu já vi na Ilha Grande... ou mesmo de voltar a desfrutar de coisas já conhecidas, como nadar com tartarugas na Ilha Grande; apreciar o Mirante da Dona Chica, na estrada que vai pra Praia de Almada em Ubatuba; tomar um banho de mar na primeira hora do ano... rever alguns amigos; estar em família, sem que dela falte um pedaço...
Esta viagem foi no início um gesto de agradecimento meu para pessoas que me receberam tão bem... mesmo antes de nossa viagem terminar, na qual fui, com ajuda da Susanne, o organisador de tudo, todos ficaram muito agradecidos pela maneira que eu consegui mostrar a eles meu país, e minha gente. Mas depois desta viagem acabei por perceber que mais uma vez criei uma dívida com eles. Fui apresentado a um Brasil do qual eu só tinha ouvido falar. Eu vi uma país feliz por receber gente de fora, curioso por saber um pouquinho mais de quem o visita, se comunicando sem que os idiomas se entendam. Um país que se espantava ao descobrir que havia alguém igual a ele no meio daqueles de fora, talvez como uma mostra de que os de fora são mais parecidos com a gente do que sempre imaginamos.
Eu vi um país de braços abertos que encanta a qualquer um... mesmo aquele que conhece muitos de seus problemas.
Fotos da viagem...