Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

domingo, 16 de agosto de 2009

São Goar


Eu nunca tinha ouvido falar dele. Sint Goar em alemão... fiquei tentando imaginar se haveria uma tradução pro português: Gonçalo... Gonçalves... Guiomar... não, ele era desconhecido mesmo.

Tínhamos saído cedo de Bonn, iríamos percorrer um trecho do Rio Reno, aquele mesmo que ajudou a Holanda a ser o país que é hoje em dia. Se na Holanda ele corre cercado por diques, naquele pedaço da Alemanha são os morros que o cercam. Se ao lado dos diques eram os moinhos de vento que guardavam os holandeses das águas do Rio Reno, encravados naqueles morros estão muitos castelos que outrora guardavam o próprio rio.

O passeio estava gostoso, a região, apesar de não estar na maioria dos destinos de quem vem passear por estes lados, merece ser visitada. Ali, cada curva o Reno nos presentea com um castelo... alguns apenas em ruinas, outros ainda bem inteiros... uns de conto de fadas, outros de filme de guerra.
Subiríamos o rio de carro e, sem pressa alguma, pararíamos quantas vezes fosse necessário, para poder desfrutar de tudo que fosse possível pelo caminho.
Já tínhamos feito bastante. As paradas em Remagen, Koblenz e Boppard valeram a pena... o dia foi passando rápido. Já era perto das cinco e ainda não tínhamos entrado em castelo algum. Sint Goar era nossa próxima parada!

Quem seria São Goar?!

No começo da vila um senhor nos avisou: "Já passa das cinco. Ele provavelmente vai estar fechado. Mas dá pra vocês verem os arredores."

Depois de passarmos por tantos castelos seria uma decepção apenas "ver os arredores" No estacionamento, ao lado de fora das suas muralhas, os parquimetros já não mais funcionavam. A partir das cinco o estacionamento é gratuito... algo tinha que ser positivo naquele momento! Nós fomos ver os arredores.
Num portal que dava acesso a um pátio externo do castelo, dois senhores, sentados numa mesa, impedem nossa entrada.

- there is party today! - apontando uma medalha em seu pescoço
- four euros! - dizia o outro, hostentando a mesma medalha. A medalha era de uma congregação de "cavalheiros" existente há vários séculos, que uma vez por ano organiza a tal festa no castelo.

Simpaticamente ele explicava:

- normal, pay there - apontando pro portão do castelo - today, pay here.

Tentei explicar que não estavamos muito interessados na festa e que gostaríamos mesmo é de visitar o castelo. Um deles se levantou. Momentos depois ele voltou.

- it is open! Today, four euros see castel and enjoy party! - meu pobre inglês era melhor que o deles.

Por quase duas horas nos perdemos por ali, no Castelo de São Goar. Dos castelos que já vi, este foi um dos mais bacanas... muito grande, imponente, em ruinas, mas com muitas salas e túneis ainda de pé.
A música começou. Uma bandinha de empolgados alemães fez o povo começar a se soltar. O ambiente nos convidou a nos sentarmos. Aquela mesa implorou por umas cervejas, e alguns refrigerantes. A bebida exigiu um tira gosto: joelhos de porco e salchichões foram nos servidos... cantamos pra Loreley!

Não havia mais como sair de lá. Com muito prazer jogamos fora nosso roteiro, trocando o que ainda estaria por vir por uma noite inesquecível em Sint Goar!


"São Goar,
nunca tinha ouvido falar do senhor, mas agradeço pelas graças alcançadas: uma noite pra não se esquecer e o estacionamento... que foi de graça!
"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Velha infância


Por estes dias tive que ir à estação central, aqui em Amsterdam. Fui esperar um trem que viria de Bruxelas. Mas que na minha cabeça vinha de outro lugar... lá das bandas de São José, de uma imaginária estação "Abília Machado".


O trem trazia consigo dois amigos, conhecidos desde que eu era como nesta foto aqui ao lado. Quando nem sabia que era gente e o meu mundo era gigante como aquelas ruas.


Um dos pecados que eu pago por viver esta vida meio aventureira, é ter que deixar muitas coisas para trás. Entre elas, ficou minha infância... meio perdida por aí. Afinal, já faz muito tempo que, em meu dia-a-dia, nada mais há que a ela me remeta.


Por um breve instante eles voltaram a fazer parte de meu dia-a-dia, e por serem tão presentes em minha infância, parece que a me trouxeram de presente, pro lugar onde vivo como adulto.


Hoje o trem já se foi, e com ele aqueles dois. Ainda melhor que ter vivos os meus dias de criança é sentir que, mesmo depois de muito tempo, eles continuam meus amigos...