Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

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sábado, 21 de novembro de 2009

Respeito


A região onde trabalho é bastante característica aqui em Amsterdam. Por ser nova, seu planejamento e construções se diferenciam bastante de grande parte da cidade. Prédios comerciais altos de arquetura modernosa, ruas e calçadas largas e shoppingcenter fazem por lá parte da paisagem.
Por suas características, esta região da cidade atraiu uma população específica, entre os quais: idosos e imigrantes classe business.
Os idosos aproveitam da acessibilidade criada pelas ruas e calçadas largas e os imigrantes escolhem as casas, ou apartamentos grandes, próximos aos locais de trabalho.

Um dia, na minha concepção, uma das grandes diferenças entre Brasil e Holanda, ou mesmo outro país "rico e desenvolvido" foi o respeito à população, seja pelos governantes ou mesmo de forma geral... hoje já não sei mais...

Por causa do trabalho, acabei conhecendo uma família inglesa na qual o filho participa de várias de nossas atividades esportivas. A mãe é cadeirante.
Por estas dias encontrei esta mãe, enquanto eu visitava uma de nossas clínicas de tênis de mesa. Ela estava frustrada por ter que ficar na chuva, do lado de fora, esperando alguém passar para que a ajudasse a entrar no ginásio da escola, já que os dois degraus que levam à porta são barreiras intransponíveis pra ela e sua cadeira de rodas.

Até a pouco tempo, muitos velhinhos das redondezas matavam as horas sentados nos bancos do shopping do bairro... dalí acompanhavam o movimento e mantinham algum contato social.
Os novos proprientários do shopping resolveram fazer uma faxina geral, mudaram a fachada, trocaram o piso, deram nova cor às paredes. Os bancos dos velhinhos foram trocados... vieram outros novos, sem encosto.

A mãe inglesa, já cansou de pedir a escola rampas de acesso por ali. Como resposta ela sempre ouve: "somos obrigados a instalar as rampas caso algum aluno delas necessite."
Como ela diz: "isso é a Holanda!"

Lá, sem encosto, os velhinhos já não se sentam mais...

Os respeito sempre existe... mas desde que ele não interfira no próprio bolso, afinal construir rampas de acesso pelo escola, pois causa de uma mãe, deve custar muito dinheiro e velhinhos tomando conta de um shopping, sem lá muito consumir, é com certeza prejudicial aos negócios.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Velha infância


Por estes dias tive que ir à estação central, aqui em Amsterdam. Fui esperar um trem que viria de Bruxelas. Mas que na minha cabeça vinha de outro lugar... lá das bandas de São José, de uma imaginária estação "Abília Machado".


O trem trazia consigo dois amigos, conhecidos desde que eu era como nesta foto aqui ao lado. Quando nem sabia que era gente e o meu mundo era gigante como aquelas ruas.


Um dos pecados que eu pago por viver esta vida meio aventureira, é ter que deixar muitas coisas para trás. Entre elas, ficou minha infância... meio perdida por aí. Afinal, já faz muito tempo que, em meu dia-a-dia, nada mais há que a ela me remeta.


Por um breve instante eles voltaram a fazer parte de meu dia-a-dia, e por serem tão presentes em minha infância, parece que a me trouxeram de presente, pro lugar onde vivo como adulto.


Hoje o trem já se foi, e com ele aqueles dois. Ainda melhor que ter vivos os meus dias de criança é sentir que, mesmo depois de muito tempo, eles continuam meus amigos...

domingo, 17 de maio de 2009

Mais um...



Há cerca de dois anos e meio eu escrevia um email que enviaria ao Brasil, no qual falava da oportunidade de poder treinar num clube amador de futebol daqui. Eu terminava o email da seguinte maneira:

"Vamos ver como vou me sair... se for bem, vou começar a treinar constantemente e quem sabe possa até disputar os campeonatos amadores por aqui... seria gostoso voltar a jogar. Seria bom também conhecer mais gente, falar mais holandês, entre outros.
Bem, vou indo por aqui!"

Eu acabei conseguindo treinar em dois clubes. O primeiro ficava, com a magrela, a cinco minutos de casa. Fui muito bem recebido, era uma equipe com gente bacana, na maioria pessoas de origem estrangeira, como se diz por aqui: "não holandeses". Como eu.
Pro segundo, do outro lado da cidade, tinha que pedalar 35 minutos. Voltar de lá, depois do primeiro treino, já sem pernas e com o frio da última semana de outono não foi nada animador. A aquipe era formada apenas por holandeses. Ali, o único "não holandês" seria eu.
Ambos os treinadores pediram pra eu voltar. Não foi difícil escolher... os 35 minutos de bicicleta depois do treino passaram a fazer parte de minha rotina.
Não foi fácil ficar por lá. Meu corpo não estava mais acostumado a dois treinos e um jogo semanais. Em meu primeiro ano tive mais lesões que em todos os outros anos de minha vida. Tendinites, torções e estiramentos me acompanhavam naquelas noites geladas na volta pra casa.
Eu já me comunicava bastante bem em holandês, mas entender o treinador durante os treinos era tarefa árdua. Participar ativamente das conversas de bar depois do jogos impossível. Na maioria das vezes dava vontade de sair de fininho... me perguntava se alguém iria perceber. Mas eu me segurava e ficava no meio deles o maior tempo possível.
Não é fácil chegar de fora num grupo ou sociedade já formados e vir a fazer ativamente parte deles. Felizmente pude aprender que quem tem que dar o primeiro passo somos nós, e que depois do primeiro passo, vem o segundo, o terceiro, o quarto e assim por diante. A caminhada é longa.
Depois de dois anos e meio, eu tenho absoluta certeza que a minha opção pelo clube no qual eu seria o diferente (o "não holandês") foi a melhor possível. Hoje enfrento bem melhor os problemas encontrados, tenho certeza que perceberiam se eu saísse de fininho de alguma roda, sou convidado pra aniversários e casamentos. Fiz amigos que me ajudaram a compreender melhor o modo de vida holandês.
Depois de mim, outros "não holandeses" chegaram ao clube. Ambos de origem marroquina, porém nascidos na Holanda. O primeiro não se adaptou muito bem ao clube e no meio da temporada nos abandonou. O segundo, Youssef, conseguiu se adaptar um pouco melhor, mas mesmo assim preferiu procurar outro time pra jogar ano que vem.
Ontem, logo depois de nosso úlitmo jogo ainda no campo, perguntaram, meio que criticando, por que ele procurou outro time pro ano que vem... afinal acreditamos ser um time tão bacana.

- Mas eu, pelo menos, sou o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada neste clube! - disse ele, meio que fugindo da pergunta, antes de ir pro vestiário.

Alguns concordaram e ainda se disseram impressionados com o esforço que ele tinha feito pra se integrar.

- Como assim, o Youssef é o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada com a gente? - eu perguntei.
- Você não se lembra daquele outro "marroquino", o Adil, que ano passado largou o time no meio do campeonato?
- Claro que me lembro, mas parece que vocês se esqueceram que faz dois anos e meio que eu jogo por aqui.

Depois de algumas risadas, um deles diz:

- Mas pra gente você é um holandês que fala com um sotaque meio diferente!!


Pra mim, eu continuo um brasileiro... feliz por saber que depois de uma longa caminhada cheguei onde queria. Ser apenas mais um.

domingo, 26 de outubro de 2008

Ainda não foi desta vez...


* Parece que ando escrevendo bem... tanto que um amigo me pediu pra escrever um texto pro blog dele. Há textos bastante bacanas por lá, um deles é o que segue abaixo.
Quando vivia em São Paulo ele era uma compania distante, mas era importante... pra chegar até ele eram cerca de 30 minutos, sem trânsito. A partir daí a viagem era quase sempre rápida e confortável.

Em Amsterdam ele fica a poucos minutos de casa, de bicicleta. Com ele poderia ir ao trabalho, levando inclusive a magrela, e pra vários outros pontos da cidade. Eu nunca ouvi dizer que o daqui é o melhor do mundo, mais limpo, mais bonito, ou mais bem cuidado. Mas funciona muito bem, e está em plena expansão. Mesmo assim, se ele não estivesse por aqui não sentiria muita falta... pois eu vou mesmo é pedalando.

Em São Paulo, quando voltava lá das bandas do Jacanã, naquele último trem que eu não poderia perder, pois chegaria em casa "só amanha de manhã", eu ia quase dormindo. Trem vazio. Cabeça encostada na janela e pés esticados sobre o banco da frente. Numa destas entra um policial e gentimente pede pra que eu me sentasse direito.

Semana passada tive que pegar o metrô, numa rara oportunidade. Vagão vazio, era bem cedo. A cabeça encostava na janela. Entram três policiais.

- O senhor tem autorização da empresa pra colocar os pés sobre o banco?
- Não entendi - retirando prontamente o fone de ouvido do tocador de MP3.
- O senhor tem autorização da empresa pra colocar os pés sobre o banco?
- Não senhor.
- Posso ver seu documento de identidade?
- Um momento...

O policial recebe o RG, retira um bloco do bolso e começa a anotar algumas coisas.

- Seu endereço por favor?

O endereço é anotado no mesmo bloco, e logo depois o RG é devolvido.

Quando eu imaginava que aquilo já havia terminado, eis que vem uma nova pergunta:

- Qual foi o motivo?
- O que?
- Por qual motivo o senhor estava viajando com os pés sobre o banco? - Eu quis rir
- Mmm... Porque é mais gostoso sentar assim
- Foi por conforto então?!
- Isso - o motivo foi anotado também no mesmo bloco.

O policial deu bom dia e foi, com seus colegas, pro outro lado do vagão.

Em São Paulo, eu nunca deixei de colocar meus pés no banco da frente por causa daquele encontro com o policial. Não me lembro direito, mas imagino que logo depois que ele saiu voltei a me esticar.

Por aqui, por mais vazio que o metrô estiver, a partir de agora, meu pés ficarão mesmo é no chão. Afinal acho que 35 euros de multa por viajar com os pés sobre o banco devem doer no fundo da alma. Ainda não foi desta vez, felizmente o transgressor não era eu, ele estava sentado a alguns metros de mim. Eu, curioso, apenas ouvia o desenrolar daquele "crime".
A cabeça voltou a se encostar na janela...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Casa da Pasta

Outro dia, depois de muito tempo, troquei umas palavras com a Joana, umas das habitantes da inesquecível Casa da Pasta.
Fazia muito tempo também que não conversava com algum deles... eram 8 seus reais habitantes, mais eu e a Manu, moradores adotivos.
Além de mim, da Joana, portuguesa e da Manu, italiana, viveram lá a Kika, alemã, a Clare, escocesa, mais a Michela, o Stefano, o Marco, o Paulo e a Melania, todos italianos.

No início, eu , na busca por conhecer pessoas novas, ia sempre jantar no restaurante central da universidade do Porto, lá comiam muitos estudantes recém chegados à cidade como eu. Na volta, quase sempre passava pela Casa da Pasta, que ficava no meio de caminho pra minha. Muitas vezes, ia dormir com uma segunda janta em meu estômago.
Com a passar do tempo eu não chegava mais ao restaurante central, a Casa da Pasta era meu destino quase certo, isso quando ela não era apenas passagem para outro ponto final.
Depois de não aguentar mais a intrometida Dona Florisbela, proprietária da casa onde aluguei um quarto por cerca de 3 meses, a Casa da Pasta foi refúgio. Lá fiquei um mês antes de conseguir encontrar um outro quarto com um preço que eu poderia pagar. Foi, inclusive, graças a Dona Florisbela que os conheci. Quando cheguei pra me acomodar em um de seus quartos, alguns de meus futuros amigos estavam na sala, estudando português, com alemão e um espanhol que também vieram a ser vítimas da portuguesa. Acabei virando um bom professor.
Foi durante meus dias na Casa da Pasta que vi meus amigos partirem pro Natal, numa das experiências mais tristes daquele ano. Que foi por sinal a grande responsável pela viagem mais incrível que já fiz.

Quase no mesmo dia que falei com a Joana fui jantar com a Susanne num restaurante aqui perto de casa. Um pouco antes da comida chegar ouço uma música começar...

"Voi gente per bene che pace cercate, la pace per fare quello che voi volete, ma se questo è il prezzo vogliamo la guerra, vogliamo vedervi finire sottoterra. Ma se questo è il prezzo lo abbiamo pagato, nessuno più al mondo dev'essere sfruttato. heh!!"

Alguns instantes mais tarde a Casa da Pasta pulsava mais forte em minha mente... não havia quem ficasse parado ao som da Contessa. Poucas não foram as vezes que uma grande festa não foi animada, ainda mais, pelos Modena City Ramblers. Algumas de minhas melhores festas foram lá.
Eu, como todos os outros não italianos, não entendia quase nada do que era cantado. Mas sempre percebi o lado revolucionário daquela música. Talvez tão revolucionário como foi aquele ano pra mim. Ano vivido com extrema intensidade... As pessoas que estiveram por lá comigo sabem do que falo. Felizmente convivo todos os dias com alguém que também fez parte daquilo. Que me ajuda a não esquecer das coisas. Em Albergue Espanhol é possível de se entender um pouco de meus sentimentos, além de se ter uma bela idéia do que a Casa da Pasta significa.



O que mais me espantou depois de ouvir aquela música não foi a explosão de sentimentos que ela causou em mim, ou o fato dela me levar à minha querida Casa da Pasta. Mas sim o tempo que levou pra eu a reconhecer. Foi de certo modo um choque me realisar que muitas coisas de um passado nem tanto distante pareciam já estar perdidas. Acho que estou mergulhando muito fundo no presente.
Com certeza tenho que continuar vivendo o presente, mas de hoje em diante vou brigar ainda mais pra não esquecer o passado... tenho que procurar meus "velhos" amigos.
Clare, Kika, Joana, Manu, Marco, Melania, Michela, Paulo e Stefano, tenho saudades...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Viva a desobediência - II




Saiu no "Parool", jornal de circulação municipal aqui de Amsterdam um dia depois da nossa primeira partida do campeonato, na seção de Futebol Amador. Amanha vamos pro nosso quarto jogo.
Este ano eu me considero um pouco mais desobediente...


A gastronomic story


Segunda feira, perto da 8 da noite. Sempre pedalando do trabalho pra mais um treino com meu time de futebol.

Eu vou sempre direto do trabalho pro treino. Na segunda, quase sempre sem muita vontade. As pernas estão ainda meio pesadas do jogo do sábado, dores musculares ainda presentes, isso quando não há algo mais doendo. Depois, só chego em casa bem tarde, passando das 11 da noite.
Na segunda eu saio do trabalho umas 7h, como num restaurante indonesiano e pedalo pro clube. Vou sempre devagar, fazendo a digestão... com aquela moleza que dá quando estamos de barriga cheia.

Amsterdam nesta hora é uma loucura, todo mundo saindo do trabalho, quase todo mundo com pressa... mas eu, na segunda, vou sempre devagar. Desta vez, no meio do caminho cruzo em poster colado numa parede. "Estômago" estava escrito nele. Mas o que me chamou atenção foi o aquele garfo de filme de terror. Continuei meu caminho, aproveitando do que restava de minha tranquilidade antes da correria do treino começar.


Na quarta pedalo sempre mais depressa. Saio do trabalho as 6:15h. Tenho pouco tempo pra comer e estar em campo as 7h. Faço o mesmo caminho mais ligado. Chego pra treinar até com mais vontade! De comer pouco pra não ficar de barriga cheia, as vezes treino até com um pouco de fome.
Nesta quarta, cruzo mais uma vez o tal garfo. "Caramba! Estômago é português!" Mesmo com o tempo apertado paro pra ver o cartaz:
- Vencedor de vários prêmios, inclusive no festival de cinema de Rotterdam.
- Atores pra mim desconhecidos, a excessão do Paulo Miklos que faz uma participação especial.
- Em cartaz desde 4 de setembro em algumas salas de Amsterdam.


Sexta feira, 9:45 da noite, estávamos eu e a Susanne numa sala de um cinema por aqui. Foi muito bacana! Nós dois gostamos muito.

Só ainda não entendi a diferença do cartaz brasileiro pro internacional... mas bem, felizmente, ele chamou a minha atenção. "Estômago - A gastronomic story" sugiro!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Engrandecendo meu CV - Parte II



Há algum tempo falei aqui sobre meu currículo paralelo. Naquela ocasião, estas minhas atividades alternativas, digo, sem qualquer relação com minha carreira profissional, ainda eram de extrema importância, pois devido as minhas idas e vindas, sempre precisava de fontes alternativas de dinheiro.
Segue abaixo a penúltima atualização deste meu CV:

- Vigia de piscina de hotel (Portugal);
- Cobrador de banheiro (Holanda);
- Faxineiro de banheiro (Holanda);
- Professor de Português (Holanda);
- Pendurador de casacos em boate (Holanda);
- Diarista (Holanda) e
- Cobaia profissional de estudos acadêmicos (Holanda).

Hoje em dia, uma fonte alternativa de dinheiro é ainda sempre bem vinda, porém, não mais necessária. Mas isto não é impedimento algum para que eu continue a engrandecer meu currículo paralelo, afinal, mesmo tendo ganhado um bom trocado com algumas delas, o que fica de verdade são as histórias...

Pois bem, nestes dias que se passaram fui contratado, na base da amizade, por uma jornalista brasileira, para guiar uma equipe de reportagem que está trabalhando na elaboração de uma reportagem (talvez documentário) sobre o aquecimento global.

Minhas obrigações foram:

- Encontrar a equipe no aeroporto e guiá-los ao hotel;
- Apresentar Amstedam a novos e velhos visitantes;
- Escolher bons lugares pra jantar e
- Guiar a equipe até os locais de filmagem e pesquisa (a Susanne me cobriu quando não pude me ausentar de meu trabalho).

Não posso dizer que tenha sido mais difícil guiar esta equipe do que guiar amigos de passagem por Amsterdam, porém, tive que ter mais responsabilidade ao selecionar as histórias que conto. Afinal qualquer meia verdade poderia comprometer o trabalho de gente muito séria. Por isso só contava os "causos" nos quais estava 100% convicto da verdade.
Foram dias puxados... nos quais dormi menos que o normal. Mas foram dias muito bacanas.
Primeiro porque, pela primeira vez as histórias que contei e as coisas que mostrei não farão parte "apenas" das lembranças e álbuns fotográficos de algum amigo. Pela primeira vez contribuí pra algo ainda maior. Quando a reportagem (ou talvez o documentário) ficar pronta saberei que há ali uma pequena contribuição minha.
E segundo pois, baboseiras de atividade profissional a parte, recebi aqui, além da jornalista, uma grande e velha amiga.
Por acaso, a Nádia foi das primeiras pessoas a me visitar na Holanda. Quando ela esteve aqui da primeira vez, junto com o Diego, eu ainda não conhecia quase nada, me perdia com eles o tempo todo por Amsterdam. Pude descobrir junto com eles alguns pedaços desta cidade. Hoje, já quase não me perco mais, sei muito bem onde ir e o que quero mostrar... desta vez, foi como mostrar a minha própria casa.
É difícil prometer, mas farei de tudo pra estar em São José no próximo dia 19 de abril.

Voltando às baboseiras... meu CV não parou por aí. Além de incluir naquela lista: "Guia de equipe de reportagem", minha experiência em outro ramo profissional vem aumentando de vento em polpa.
A Susanne está, desde fevereiro último, estudando fotografia. O objetivo dela é virar fotógrafa profissional e para isso, durante o curso, que dura 3 anos, ela tem que fazer muitos ensaios, com diferentes temas e objetivos. Não dá pra ser um bom namorado sem dar uma grande força pra ela. E dar uma força significa, entre outras coisas, estar de frente pra câmera, ser fotografado. Virei modelo.
Na primeira vez foi meio estranho. Depois fui me acostumando e hoje até me divirto. Pro último ensaio no qual fui modelo, tive que ficar por mais de 3 horas em frente da câmera... e deste tempo todo, só por uns 10 minutos eu tinha alguma roupa. Virei modelo nu!
Os ensaios são sempre discutidos por toda a classe... Há algumas semanas conheci uma colega de classe da Susanne. Depois de me apresentar eu ouvi: "Legal de conhecer! Já tinha te visto em fotos." haha

Pra quem duvida de meu potencial como modelo, ou pra quem quer conferir o potencial da Susanne como fotógrafa... vai aí uma pequena mostra: haha




quarta-feira, 30 de julho de 2008

É proíbido fumar!



Imaginem a situação... um cara meio resfriado, vias aéreas debilitadas, devido a chuva que ele tomou no dia anterior enquanto pedalava por seu mais novo destino turístico. Ele entra num bar, vê várias pessoas fumando e uma fumaceira que se espalha por todos os cantos do ambiente.

O cara pensa: "Estou em casa". Sem pestanejar saca o maço de cigarros do bolso e vai logo dando suas tragadas.

Porém, sem demorar muito é abordado por um dos garçons:

- Senhor, seria possível apagar o seu cigarro?
- Como?!
- Seria possível apagar o seu cigarro?
- Por que?
- O senhor não sabe que é proibido fumar em estabelecimentos comerciais na Holanda?
- Tava imaginando que sim, após passar por vários bares nesta cidade e ver aqueles adesivinhos de proibido fumar. Porém, encontrei este "santo local" com várias pessoas baforando. Aí imaginei que em alguns lugares era permitido e noutros não. Mas enquanto estava aqui, feliz da vida, ouço do senhor que não posso fumar. Não tô entendendo nada! -Diz ele enquanto olha pros lados e vê aquela névoa densa que quase o impede de ver o outro lado do lugar. Ele insiste em fumar.
- Eu não vou apagar meu cigarro! Por que eu? Será que tem há ver com o fato de ser estrangeiro?!
- Não senhor, somos frequentados na maioria das vezes por estrangeiros.
- Me desculpe, percebo que o senhor está pedindo com educação, mas tenho que dizer que me sinto afrontado com seu pedido.
- Não é minha intenção afrontar o senhor.
- Por que raios então o senhor pede pra eu apagar o cigarro enquanto todo mundo ao meu redor continua de cigarro aceso na mão?
- É que a partir de primeiro de julho há uma lei que proíbe o fumo em todos os estabelecimentos comerciais.
- Hahahaha... mais uma vez, por que eu e não eles? Agora só de relance conto umas 20 pessoas com cigarro acedo!
- O senhor tem razão, mas no cigarro deles não há fumo.
- Como é que é?!
- Pois é, não há fumo no cigarro deles, e sim maconha. Fumo é contra a lei, maconha não!
- Posso colocar uma pouco de maconha aqui e continuar fumando, precido da nicotina do tabaco pra acabar com a minha pilha. Fumar lá fora é cruel! A chuva que começou ontem não parou até agora. Estou todo resfriado por causa dela.
- Sinto muito, maconha só purinha, se nela houver um pouquinho fumo estaremos infringindo a lei...

Pois é, pode parecer loucura, mas a partir de primeiro de julho isso pode acontecer por aqui sim.
Finalmente, depois de muito tempo de atraso com relação a outros países por aí, o fumo em bares, restaurantes e discotecas foi proibido na Holanda. Sair a noite ficou mais gostoso, mais saudável, pelo menos pra quem só passa na frente dos Coffeshops. Mas antes de imaginar que a continuação da liberação do consumo de maconha, e outras drogas chamadas leves, nos Choffeshops tem algo a ver com liberdade, mente progressista, estas coisas... este fato está mesmo é relacionado a questões econômicas.

É interessante pra Holanda tentar estimular o menor consumo de cigarros. Questão de saúde pública: menos dinheiro aplicado na saúde pra tratar dos efeitos do cigarro. Mas não seria interessante pra Holanda atrapalhar uma de suas mais importantes fontes de renda: o Turismo. Milhares de turistas desembarcam por aqui, todos os dias, afim de se amontoar nos Coffeshops e se entupir de suas mercadorias. Detalhe... café mesmo, só é encontrado por lá no nome!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Antes só


Outro dia estava no trabalho quando toca meu telefone. Não podia atender. Algum tempo depois ouço a caixa postal:

- Senhor Felipe, falo da prefeitura de Amsterdam e o senhor Flávio precisa entrar em contato com o senhor. Por favor retorne esta ligação.

Sem qualquer sobre de dúvidas retornei.

- Me desculpe senhor, mas apenas com o primeiro nome não podemos identificar a pessoa. O senhor não sabe o sobrenome deste Flávio?

Eu não sabia. Nem tentei forçar a barra, todos aqui são encontrados pelo sobrenome, ou data de nascimento. Não haveria jeitinho que eu pudesse dar pra poder contactar o tal Flávio. E eu conheço alguns Flávios. Fiquei meio angustiado, de certa maneira torcendo pra que no dia seguinte alguém da prefeitura me voltasse a ligar.

Quase 11h da noite, toca o telefone.

- Fala Felipe, aqui é o Flávio, tudo bem?
- Tudo.
- Então, tô precisando de um lugar pra morar, você conhece alguém que pode dividir o apartamento comigo? Eu tô no hotel “qualquer coisa”, mas aqui é caro e não dá pra ficar muito tempo, por isso quero que você me ajude a encontrar um lugar pra morar.
- Espere aí... quem é você?
- Sou Flávio, de João Pessoa. Cheguei aqui em Amsterdam ontem a noite. Vou viver aqui. Por isso você tem que me ajudar a encontrar um lugar pra morar. Você não quer vir me encontrar agora? A gente poderia conversar um pouco. Quero que você me diga como você tirou seu visto.


- Desculpe... mas como você conseguiu meu telefone?


Puta longa história, mas pra resumir: muitas pessoas, a começar pela pessoa da prefeitura, tentaram informar pro cidadão, que não falava nada de inglês, muito menos de holandês, que ele poderia permanecer por aqui por 3 meses como TURISTA e depois ele teria que ir embora. Ser TURISTA significa passear, conhecer, gastar dinheiro e embarcar de volta! A idéia de virar estudante e tirar visto não existe por aqui. Mas a chatice e a inconveniência do cidadão fizeram com que alguém, depois de muitos alguéns, desse meu telefone pra ele, pois este alguém sabia que eu poderia explicar pro cidadão que os planos deles não eram para nada reais. Depois de ouvir toda a historia, sobre como ele chegou até mim, ainda ouço mais uma vez:


- Você não pode vir me encontrar, aqui no meu hotel?


- Flávio, são quase 11 da noite. Eu não vou sair pra te encontrar.
- E amanha?
- Eu trabalho.
- Eu vou ao seu trabalho.
- Você não vai ao meu trabalho.
- Na hora do almoço.
- Não!
- Mas você tem que me ajudar a conseguir o visto, como você conseguiu o seu? Vou estudar holandês pra tirar um visto de estudante, mas pra isso eu tenho que arrumar um lugar pra morar, aqui é muito caro...

A conversa ainda não terminou aqui... foi difícil convencer a figura que não haveria maneira dele conseguir um visto, que o jeitinho que ele estava procurando não existe por aqui. Também foi complicado dele entender que eu, mesmo me considerando uma boa pessoa, não costumo ajudar pessoas como ele, que acham que tudo se resolve, que acham que podem importunar uma cidade inteira e ainda me ligar as 11 da noite como se fossemos amigos de infância.

As vezes ainda me perguntam por que eu não quero contato com todo brasileiro que vejo por aqui, prefiro andar só a me aproximar de figuras como esta.

Com os pés na areia


Ontem eu teria uma surpresa... desde a semana passada que a Susanne tinha me pedido pra deixar a noite de quarta livre. Minha curiosidade é monstruosa. Foram muitas tentativas de arrancar dela qual seria o plano.
Por volta das oito saímos de casa. Noite (ainda tarde) bem gostosa. No meio do caminho, nos sentamos a beira de um canal pra tomar um grande copo de sorvete. Um sorteve da “Kibon”, em que até dois sabores são batidos com frutas a escolha (morango, cereja, kiwi...) e outras coisas (granola, chocolate, castanha de caju...). Só por este sorvete a beira de um canal nosso programa já havia valido a pena. Ele é um dos maiores concorrentes de meu preferido, mas inexistente por aqui, Milkshake de Ovomaltine do Bob’s.
Terminado o sorvete, caminhamos por mais alguns canais até chegar a uma pequena rua, com um cinema e um bar/balada bem conhecidos. A rua cheia, muitas camisas do Brasil, vestidas por brasileiros e holandeses. Seria alguma mostra de cinema brasileiro, ou uma balada brasileira? Cinema não era... todo mundo ia pro bar/balada. Balada não poderia ser, ainda era meio cedo pra isso.
Já saí muito, mas hoje não sinto falta. Mas não imaginava que iria desfrutar tanto daquela noite.
Este bar/balada não é muito grande e apesar de cheio não estava lotado. Havia muitos brasileiros, algumas caras conhecidas, mas nenhum amigo. A maioria era holandesa. Era mesmo uma balada.
Da última vez, tive que ir bem longe pra cair na noite, foi durante minhas 18 horas em Madrid. Desta vez foi a balada que me levou pra bem longe... cheguei a pisar na areia, dançando numa praia qualquer.
Hoje mesmo, um dia depois, voltei a viajar. Era só pensar no show que estava novamente por aí.
Foi a terceira vez que os vi tocando... todas as vezes me diverti bastante, espero vê-los pelo menos por mais uma vez, mas esta terá que ser numa terça e no Pelourinho.
O Olodum foi rico. O Oludum foi pobre. O Oludum foi regae e o Olodum foi rocky... o Olodum me levou de vez...
E isso foi tudo uma surpresa!

domingo, 18 de maio de 2008

Pare!


Sábado de manha, ruas vazias. Ia tranquilo.

- O senhor poderia encostar?

A pergunta foi colocada de uma maneira educada, mas ela era cheia de ordem. Não tive dúvida, com súplicas internas (“multa não! Por favor!!!”) encostei logo a frente.
O primeiro encostou ao meu lado, e segundo parou um pouco mais adiante, pra dar cobertura.

- O senhor acabou de passar por um sinal vermelho.

Poderia dar um perdido, fingir que não entendia o que ele estava falando... tinha poucos segundos pra reagir... descartei esta opção.

- Pois é, passei sim.

O outro só olhava... se depender da cara dele vou ter que pagar mesmo.

- Por que o senhor fez isso?

Não havia carros, era uma cruzamento pequenino, daqueles que todo mundo já fingiu não ver um dia... não tinha qualquer motivo pra ter feito isso. Fiz por pura preguiça de parar, e depois ter que acelerar... menti.

- Estou com pressa, e como não vinha ninguém, passei.

Eu nunca fui multado na vida! Nem naqueles radares mandraques da Tamoios... Mas acho que desta vez não passa. A cara do outro policial continuava a mesma.

- Então o senhor fez isso com consciência...

Só fiz uma cara concordando que tinha feito algo errado mesmo mas que, de alguma forma, mostrava um certo arrependimento.

Acho que a cara foi boa... pelo menos o coração daquele policial era, ele me pediu pra não repetir o gesto, me deu bom dia e se foi.
O outro nem bom dia deu. Se eles revezarem as funções (quem aborda e quem dá cobertura), a próxima “vítima” vai pagar a multa com certeza.
Fiquei aliviado, afinal, tomar minha primeira multa de trânsito por passar num sinal vermelho de bicicleta seria muito cruel!

Eles saíram na minha frente, também pedalando. Pra não correr riscos de vê-los mudarem de idéia e mostrar que realmente estava com pressa, o que não era verdade, me aproveitei que pra bicicletas não há limite de velocidade, pedalei bem forte e, fingindo que não os via, passei os dois como um foguete...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Viva a desobediência


Jogo futebol desde muleque. Mesmo tendo treinado em vários lugares quando criança, considero que o que aprendi de melhor foi na rua. Onde jogava o dia todo. O conselho mais importante de todos veio de meu pai, ao ver que tinha emprestado o pé direito de meu tênis pra um amigo que chegara descalço pra pelada:

- Por que você emprestou seu seu tênis pra ele?
- É que ele chuta com a direita e eu com a esquerda, assim nós dois podemos chutar!
- Pois, calce seu tênis no pé direito e comece a chutar com ele também...

Desde que cheguei por aqui tenho treinado com uma equipe da terceira divisão amadora da Holanda. Com apenas duas divisões profissionais, é possível dizer que este é o quinto nível do futebol holandês, que mesmo regionalizado apresenta um nível técnico bastante bom.

O jogo por aqui, seja na primeira divisão profissional ou na terceira amadora, é uma correria. Quando um holandês assiste um jogo brasileiro ele diz que chega a ter sono, pois “jogamos em camera lenta”. A regra aqui é passar a bola. Não dar o terceiro toque é quase uma obrigação. Também há a questão relacionada a saúde: o terceiro toque na bola é muitas vezes acompanhado de um carrinho, principalmente quando estamos de costas pro marcador – que saudades dos campos secos e duros do Brasil inibidores de carrinhos dispensáveis. Não sou fominha, nem fazedor de truques, só que por vezes me encho de ficar jogando a dois toques e fico com a bola uns segundos a mais que o normal (por aqui). Sábado passado não tínhamos sequer jogado 30 minutos de uma partida amistosa quando meu treinador me sacou: “Você ia acabar machucado!”. Hoje posso reconher o quanto é difícil pra um jogador brasileiro se adaptar num outro país. Sinto isso a cada treino... acada jogo.

Por vezes fico frustrado por não jogar como eu gostaria. Sendo um pouco melhor seria ainda mais desobediente. Mandaria com mais frequência os dois toques pra'quele lugar (mas não posso negar que as vezes ele é muito importante e que aprendi bastante jogando por aqui). Ao ser questionado pelo treinador ou por meus colegas, por querer ficar com a bola, segundo eles, por tempo demais, poderia dizer: “futebol não é assim ou assado... futebol é bola na rede!”. Poderia deixar com maior frequência os zagueiros falando sozinhos. Meus tornozelos não sofreriam tanto... Infelizmente não sou melhor que sou, mas felizmente continuo desfrutando de correr atrás de uma bola (mesmo dando mais passes de primeira que gostaria), sem falar das intermináveis discussões e análises no bar do clube depois dos jogos, daquela dorzinha muscular do dia seguinte e de tudo que vive um boleiro amador.

Hoje percebo que meus conterrâneos que deram certo por aqui podiam fazer no jogo tudo aquilo que eu gostaria, eram desobedientes de boca cheia... o mais interessante é que vários dos melhores jogadores holandeses que conheço parecem não ter aprendido a jogar de acordo com as regras daqui. Por isso acho engraçada a idolatria por este modelo, por esta cartilha.
Hoje continuo vendo a Holanda como um país formador de muitos jogadores, mas acredito que eles só são o que são, pois são (ou foram) desobedientes e não seguem (ou seguiram) com frenquência as regras exigidas por aqui.


Gullit e Rijkaard: filhos de imigrantes. Cresceram jogando futebol nas ruas de Amsterdam. Local preferido: uma praça aqui perto de casa.

Seedorf e Davids: nascidos no Suriname, imigraram pra Holanda quando crianças, tenho certeza que as ruas e os Guetos daqui foram suas maiores escolas.

Cruijff: Maior nome da história do futebol Holandês, também crescido em Amsterdam. Afirma constantemente que as crianças devem jogar mais futebol na rua, pois na rua são feitos os jogadores. Se dispôs ano passado a liderar um grupo de trabalho pra tentar tirar o Ajax do limbo que o clube se encontra. Uma de suas grandes ambições era remodelar toda a escola de formação de jogadores do clube. Seu plano não foi aprovado pelo futuro treinador do Ajax, Van Basten.

Van Basten: Atual treinador da seleção. Pelas discussões que acompanhei sobre o caso envolvendo o Cruijff e Ajax, acho que ele segue a cartilha (Toda regra deve ter sua excessão). Mas talvez seja por isso que teve muitos problemas com vários jogadores da seleção (ou que fizeram parte dela): Seedorf, Davids, van Bommel, Nistelrooy, Kluivert...

domingo, 9 de março de 2008

Circo de Solei

Amsterdam, 27 de agosto de 2007

O final de semana foi movimentado aqui em Amsterdam. Foi a abertura da temporada cultural na cidade. Vários shows em vários locais, a maioria abertos ao público. O palco central ficava num bairro construído sobre uma ilha artificial. Por ser um canto novo da cidade as construções são completamente diferentes do que a gente pode ver pela cidade. Mas também é bonito... acho que vou começar a incluir a Ilha de Java nos próximos passeios turísticos que eu fizer por aqui...
A noite foi bem gostosa, aproveitamos bastante, mas a volta pra casa foi uma loucura, que trânsito. Todo mundo tinha que escoar pra cidade por uma única ponte... Uns queriam chegar rápido, outros não estavam nem aí... e o nível alcólico estava lá pra cima! No meio daquilo tudo ainda os “folgados” dos pedestres que fugiam das calçadas e vinham botar mais lenha na fogueira... o único alento é que nesse trânsito a gente não sente aquele cheiro de escapamento, afinal, estava todo mundo pedalando.

Falando em bicicletas... as bicicletas aqui em Amsterdam são quase sempre em modelos bem usados... por vários motivos pouca gente se arrisca a comprar modelos novos. A minha por exemplo... as partes que poderiam enferrujar já estão pra lá de enferrujadas. Ela tem um quadro velho, preto, e todo decorada com adesivos de coração, cada um mais colorido que o outro. O pedal vai o tempo apitando, parece um carro de boi, e por aí vai... Ainda acho muito engraçado ver bicicletas tão, ou mais, usadas que a minha carregando sobre ela um engravadado, ou uma senhora toda elegante...
Sinceramente, eu posso dizer que as holandesas pedalando no trânsito brasileiro causariam grandes acidentes. Fiquem tranquilas... não quero dizer que mulheres são barbeiras... Mas imaginem só uma mulher loira, alta, bonita (pra não dizer outra coisa) vestida com uma calça com cintura bem baixa, que quando ela se senta, quase todos os homens aí no Brasil ficam esticando o olho pra ver se o cofrinho vai aparecer? Pois é... imaginem essa mulher pedalando na sua frente (ou na frente do motorista ao seu lado, caso você seja mulher)? !
Mas bem, ainda haveria uma situação mais grave... imaginem que a mesma mulher, em vez de vestir uma calça com cintura baixa, tenha resolvido trabalhar de saia e que ela esteja pedalando na sua frente, mas no sentido contrário... seria colisão frontal na certa!!
Normalmente as mulheres de saia pedalam com uma das mão quase que em prontidão pra tentar impedir que o vento faça o que seria natural... mas o vento é sempre mais rápido e as saias voam com ele!. Outro dia estava chovendo um pouco quando ia pro trabalho... no caminho uma mulher pedalando de saia e segurando o guarda chuva. Imaginem o dilema dela.
No domingo, ultimo dia dos concertos abertos ao público, nós fomos mais uma vez ao palco daquela ilha... pegamos vários trechos de musicais que estão sendo apresentados por aqui. Vimos inclusive uma parte de um musical bem conhecido, “Les Miserables”. Achei bem bacana. Mas o mais interessante estava pra vir... no primeiro dia vimos um trecho do espetáculo “Afrika”. Uma espécie de Circo de Solei que conta apenas com artistas africanos e no qual tudo é relacionado com aquele continente. O cara parecia não ter ossos... foi incrível. Bem, se esta apresentação já tinha sido muito boa, imaginem a do Circo de Solei, que iria fechar as apresentações do final de semana... eu fiquei imaginando...
Logo que os musicais terminaram nos perguntamos, como poderia haver ali uma apresentanção do Circo de Solei com os instrumentos da orquestra que tinha acabado de tocar tomando tanto espaço no palco. Devia ser algum truque deles...
Um pouco antes das 10:30, horário marcado pro show começar, entram com uma mesa onde um DJ iria se apresentar... Circo de Solei com DJ... uma combinação interessante.
O DJ começa... ao fundo, um grande telão com imagens de um dos shows do Circo de Solei... As luzes e a fumaça aumentavam a minha ansiedade... A música tecno rolando e eu me perguntando: por onde os caras vão entar? O que eles vão fazer?
Eles são reconhecidos em todo o mundo como do melhor que há em entreternimento e espetáculo... eu estava prestes a ver um trechinho e de graça!!!
As músicas continuaram rolando... as imagens no telão também... o DJ tentava animar o público, eu não me animava... algumas pessoas começaram a ir embora, mas eu não quis ir... achei difícil acreditar naquilo tudo. Quando o “show” acabou vieram aplausos e vaias, eu colaborei com as ultimas... a Susanne tentava me animar... mas não dava... tinham roubado o doce desta criança.
E eu ainda tinha que enfrentar aquele trânsito louco pra chegar em casa!

Os alucinados

Amsterdam, 10 de maio de 2007

- “I’ll jump! I’ll jump!”
E a galera delirava!!!! – “Pula!”
Embaixo um casal de policiais, bem educados, pedindo pros dois malucos descerem. Algo inimaginável no Brasil.

No dia anterior tinha sido o “Dia da Rainha”. Acho que posso dizer com certeza que esta é a maior festa holandesa. As ruas de Amsterdam ficam forradas de pessoas, a maioria vestinho laranja e os canais ficam tomados por barcos. Foi a primeira vez que eu vi um congestionamento de barcos na minha vida!
Em cada praça encontramos palcos com show de músicas ao vivo ou um DJ. Muito bacana. Nos faz lembrar bem o nosso carnaval. Se alguém puder escolher um final de semana no ano pra vir a Amsterdam eu sugiro o final de semana do Koninginnedag. Deu pra aproveitar bastante a festa, ainda mais porque o clima colaborou... foi um dia de sol bem gostoso. A única frustração foi me encontrar com alguns amigos de meu time de futebol e perceber que ainda não cheguei num estágio que possa compreender um bêbado num dia de festa. Quem sabe no próximo ano.
Este dia é pra homenagiar o dia do aniversário de uma antiga rainha. A atual resolveu manter a data, dia 30 de abril, mas mesmo que este não seja seu aniversário as homenagens são direcionadas a ela. Eu não estou nem aí pra rainha, mas como a festa é boa eu me junto com certeza às homenagens. Agora só quero ver como vai ser quando a atual princesa for promovida... vou continuar festejando, mas saudar uma rainha que por baixo da camisa laranja veste azul e branco vai ser mais difícil. Enquanto pra todo mundo ela será rainha pra mim ela será “hermana”! hah

Como eu falei, é meio um carnaval. A bebedeira começa na noite anterior e se estende pelo dia todo... acho que alguns, principalmente os estrangeiros, em vez de curtir ressaca do dia seguinte resolvem retardá-las pelos CoffeShops da cidade. Sinceramente acho que os dois malucos fizeram isso.

Ambos estavam sobre uma grua que deveria estar sendo usada pra retirar os enfeites do dia anterior. Um deles continuava a gritar: “I’ll jump”. A galera, que é igual em todo o lugar do mundo, continuava a pedir: “Pula!” Os policiais, agora já com a ajuda dos bombeiros, e um grande colchão de ar embaixo daquilo, continuavam com a educada tentativa de convencer os dois malucos a descer.
A grua do carro dos bombeiros ajudou um dos policiais a se aproximar dos dois. O policial continuou educado até descarregar um frasco de spray de pimenta na cara de um dos doidos. O outro pulou! A galera delirou! O salto foi em direção de um canal que passava ao lado. Um foi preso com a cara toda ardida, o outro todo gelado!

O mês de abril aqui é marcado pela passagem do inverno pra primavera... nesta passagem contuma-se acontecer de tudo, é uma confusão climática só menos doida que os malucos da grua. Por aqui há um ditado: “April doet wat hij wilt!” (Abril faz o que ele quer). Ou seja, as quatro estações do ano podem ser vistas em intervalos de dias. Mas este ano abril fez o que eu quiz!!!!! Foi um mês de sol e temperaturas agradáveis. Muito bom pra pedalar, jogar tênis em quadra aberta e até pra ir à praia e entrar na água! Puta que água fria! O primeiro dia que eu sai de casa de bermudas e havainas foi incrível... o sorriso ia de orelha a orelha!
Bem, abril passou e infelizmente maio não vai fazer o que eu quero... o vento está forte pra caramba e a chuva vem e vai! Sair de casa voltou a ser aquela aventura de nunca saber se vamos chegar secos ao nosso destino.

Num dos ensolarados finais de semana de abril eu fui a um parque muito conhecido por aqui. Todo mundo quando pensa na Holanda pensa em algumas coisas específicas, dentre delas as Tulipas. É um parque que na verdade é um grande jardim com as mais variadas formas e cores de Tulipas que se possa imaginar. Tem hora que não se pode contar o número de cores vistas de uma só vez.
Eu sempre ouvi no Brasil que umas das maiores concentrações de japoneses no mundo fora do Japão está no bairro da Liberdade em São Paulo. Mas vou falar que depois da visita ao Keukenhof eu duvido desta afirmação. Atrás de cada Tulipa tem um japonês com uma câmera na mão. Isso quando a câmera não era um filmadora e eles não ficavam lá um tempo filmando uma flor. Eu concordo, é bonito pra caramba, mas é muito estranho ficar filmando flores se elas não vão piscar pra câmera, ou fazer uma pose...

Outro dia fui jantar com a Susanne num restaurante aqui perto de casa. Quando pedimos o cardádio ouvimos: “Sorry, I don’t speak dutch”. Como é comum isso por aqui! Há pessoas que vivem aqui durante muito tempo e não aprendem uma palavra de Holandês. Muitos dizem que como todo mundo fala inglês não há a necessidade de se aprender o idioma local. É muito bacana que quase todo mundo fala inglês, mas estou começando a achar que os holandeses deveriam ser um pouco mais franceses... Mas bem, numa outra mesa quando chamaram o tal garçom ele mais uma vez começou: “Sorry, I don’t speak dutch”. E na sequencia ele completou: “I don’t speak dutch because I came from (...). ” Como se fosse um impedimento pra quem vem do tal país aprender holandês. Ainda bem que ele não falou que era brasileiro.

Com a proximidade do verão o número de turistas aumenta, assim alguns fatos curiosos começam a aparecer. Não é raro quando alguns turistas se dirigem a alguma holandesa e perguntam: “Você pode tirar uma foto?”. Quando a resposta é positiva um dos turistas abraça a coitada e o outro vai registrar o momento! Só fico imaginando as histórias que devem ser contadas nos países de origem

Nada como um bom vizinho

Amsterdam, 29 de março de 2007

Por aqui vai indo tudo bem... a primavera este ano felizmente chegou junto com o equinócio (o que não é muito normal por aqui.)... se bem que falar em “felizmente” pode ser meio irracional, afinal vivendo na Holanda, ou seja, nos Países Baixos, não deveria ficar muito feliz assim ao perceber os sinais do aquecimento global. Afinal, se este problema continuar daqui a alguns anos vou ter que procurar uma casa barco pra morar, igual à daquela menina da novela que vivia aqui em Amsterdam!

Mas bem, já que tá esquentando mesmo, melhor aproveitar! E foi o que fizemos no domingo. Depois de montar umas prateleiras no nosso quarto e um pequeno armário na sala fomos aproveitar os primeiros momentos de primavera em nossa sacada! Pois é... eu tenho uma sacada!!!! Depois de mais de quatro meses vivendo neste apartamento eu pude finalmente curtir minha sacada. Como foi gostoso tomar sol de camiseta enquanto tomava suco e comida uma “bomba de chocolate”... No final do dia falei com minha família no Brasil. Ao comentar sobre os incríveis e ensolarados momentos na sacada e informar a agradável temperatura que tivemos durante o dia ouvi: “credo! Que frio!!!” hahah... tudo é relativo. Pra quem estava num dia de outono a 30 graus um agradável dia de primavera a 13 parece ser gelado mesmo!

As diferenças daqui pra vida que eu sempre levei no Brasil são muitas mesmo. O que eu sempre tento não fazer é ficar comparando as coisas... vou sempre vivendo da melhor maneira possível, desfrutando daquilo que eu gosto e aceitando aquilo que prefiria não conviver.
Uma das coisas mais interessantes, e de certa forma muito diferente do que sempre tive no Brasil, é a necessidade de se viver em diferentes idiomas. Eu posso dizer que toda a minha vida no Brasil eu vivi quase que exclusivamente em português. Um segundo idioma era quase que restrito às aulas de inglês e a leitura de livros e artigos científicos na faculdade. Bem, minha vida aqui é obrigatoriamente vivida em pelo menos dois idiomas, o português e o holandês. Se bem que há alguns momentos que eu e a Susanne não sabemos mais em qual idioma conversamos... é uma salada. Além destes dois o inglês é muito presente por aqui em nosso dia a dia, seja através da TV, de um turista pedindo informação, ou de um colega estrangeiro que vive aqui e ainda não fala holandês, por exemplo... pra quem viveu a vida toda em um sistema “unidiomático” falar três diferentes idiomas num único dia é uma tarefa que faz a cabeça ferver.
Outro dia estava com um amigo holandês que me apresentou um conhecido colombiano. Resolvi que aquele era o momento pra praticar meu portunhol. Até que não fiz muito feio. Porém, quando o amigo holandês me fez uma pergunta em inglês, pra que o colombiano pudesse entender a coisa ficou feia... quatro idiomas pra esta cabeça aqui é muita coisa... a cabeça entrou em estado de sublimação*. A pergunta era simples. Entender nunca é o problema... mas da minha boca não saía palavra alguma. E quando elas saíram, vinha cada uma num idioma...

Uma coisa que me deixa também sempre feliz é o fato do português brasileiro ser muito valorizado por aqui. É muito comum se entrar num bar ou restaurante e ouvir música brasileira. Não falo de Gilberdo Gil, Caetano, ou Garota de Ipanema... são cantores e bandas quase desconhecidos em nosso país mas que doam (ou vendem) suas vozes pra pra deixar o ambiente daqui mais agradável, mais “gezellig”. Segundo o que ouço por aqui, nosso português soa gostoso e é um idioma perfeito pro “Lounge”, um estilo musical dos mais ouvidos nos bares e restaurantes. Pois é... enquanto aqui vejo valorização do nosso idioma (que um dia não foi nosso mas agora é) em nosso próprio país ele é desvalorizado... basta olharmos pra lojas de madame que pra se diferenciarem das lojas de pobres colocam seus produtos em “off”, mas nunca entram em liquidação.

Como eu falei no outro email, ficamos algum tempo sem computador. O novo foi comprado pela internet e entregue pelo correio. Curiosamente vieram nos entregar uma semana antes do planejado, na semana que estivemos viajando pra esquiar. Quando chegamos, haviam três comunicados da empresa de entregas nos informando que eles tinham estado aqui e que só voltariam mais uma vez, numa segunda feira. Depois disso nosso computador iria novamente pro final da fila de entregas.
Na segunda, passei a manha toda em casa, torcendo pra encomenda chegar e nada. As duas da tarde eu tinha uma aula de holandês e depois tinha que ir trabalhar. “Caramba, alguém tinha que receber aquilo pra mim!”. Meus únicos vizinhos que ficam o dia todo “em casa” são os do piso térreo. Eu poderia pedir pra eles receberem o compudador pra mim, caso o entregador viesse enquanto eu estivesse fora. Mas estava meio inibido, nunca tinha falado com eles e nunca tinha imaginado que falaria... Não tive opção. A senhora me falou que não teria problema. Se ela não estivesse lá o filho dela estaria.
Quando voltei, dei uma passada lá novamente e ela me disse que tinha recebido computador e que ele estava guardado nos fundos. Depois de agradecê-la ela me disse: “wij zijn toch buren!!!!” (seria algo como: “pra que servem os vizinhos?!”).
Pois é, nada como uma boa vizinhança, hoje, sempre que desço faço de questão de os cumprimentar... pra quem não se lembra, meu vizinho do piso térreo é um Coffe Shop (o Whauw Coffe Shop), e nestes lugares aqui na Holanda além de café são vendidos também, legalmente, maconha e outras drogas do gênero.
O pior, ou mais estranho, foi eu ter que ir aos fundos (local onde se guarda a mercadoria) pra pegar as caixas com o computador, teclado e monitor... se havia um lugar onde eu nunca tinha me imaginado estar era alí...

Assim a vida vai indo, agora com os pássaros cantando e os pernelongos zunindo!
Eu tenho que providenciar uma tela pra janela do meu quarto!


*passagem da água dos estado sólido diretamente pro estado gas

Engrandecendo meu CV e "Kraakbeweging"

Amsterdam, 29 de janeiro de 2007

Por aqui continua tudo bem. Semana passada eu engrandeci ainda mais a minha lista de experiências profissionais de meu currículum paralelo. Nestas andanças que já fiz, além de me preocupar em elevar a qualidade do meu currículum vitae, acabei por realizar uma grande quantidade de atividades que além de muitas histórias me renderam também um bocado de dinheiro…entre elas:

- Vigia de piscina de hotel (Portugal);
- Homem estátua (Portugal);
- Auxiliar de limpeza de praias poluídas por derramamento de petróleo (Espanha) – está certo que com esta eu não ganhei dinheiro, mas valeram as refeições e o lugar pra dormir;
- Cobrador de banheiro (Holanda);
- Faxineiro de banheiro (Holanda);
- Professor de Português (Holanda);
- Pendurador de casacos em boate (Holanda) e
- Diarista (Holanda)

Agora posso incluir nesta lista: Cobaia profissional de estudos acadêmicos. Me pagaram 25 euros pra me sentar numa mesa por duas horas e responder várias questões sobre holandês (Idioma). Se minha licença de trabalho demorar um pouco mais a sair que o esperado, acho que vou levar esta nova atividade um pouco mais a sério, afinal experiência com isto eu já tenho, pois na época de faculdade participávamos sempre de experimentos… só que naquela época tudo de forma amadora… em prol da ciência!


Outro dia estava lendo umas matérias de um jornal de minha querida São José, aí no Brasil. É muito interessante acompanhar as coisas que acontecem em nossa terra natal com a consciência viciada por um outro tipo de realidade. O problema que o jornal relatava era sobre um pedaço de terra em São José ocupado (pra alguns), ou invadido (pra outros), pelo povão em busca de justiça social (pra alguns) ou devido à sua ignorância, manipulados por interesses político/sociais maiores (pra outros). Bem, não vou defender bandeira alguma, meus emails nunca tiveram este propósito, quero apenas relatar coisas que acontecem por aqui que me fazem ver de outra maneira acontecimentos em terras brasileiras.
Amsterdam não é uma cidade muito grande, mas é uma cidade muito populosa. Como tudo aqui é muito bem planejado, o governo municipal não permite que a cidade cresça, pois cidade muito grande é mais difícil de ser administrada e os problemas acabam surgindo com mais facilidade. Mesmo com tudo muito planejado, há um problema por aqui que parece ser meio difícil de resolver: Como a cidade é muito populosa e não há interesse em crescimento geográfico as pessoas têm certa dificuldade em encontrar um lugar pra morar, não como no Brasil, por falta de dinheiro, mas sim por falta de lugar mesmo. Uma família de classe média que em muitas outras cidade por aqui encontraria um apartamento, ou uma casa pra alugar e ter uma vida tranquila pode passar aperto em Amsterdam por falta de opções.
Eu por exemplo vivo num prédio “anti-kraak”. O prédio tem que ser restaurado, mas a restauração provavelmente não acontecerá antes do verão de 2008 (mas a qualquer momento podemos receber uma carta dizendo que temos que sair pois a restauração vai começar), por isso os donos do prédio alugam os apartamentos por um preço bem mais baixo que o normal para que os apartamentos não fiquem vazios, pois se eles ficarem vazios eles são ocupados (pra alguns), ou invadidos (pra outros), pelos “Krakers”. Por vezes vemos pela cidade faixas em prédios residenciais com os dizeres: “estas residências foram possíveis devido ao kraakbeweging”. Pois é, num país de tem uma taxa de educação muito mais elevada que a nossa no Brasil, apartamentos ou casas vazias numa cidade onde as pessoas precisam de lugar pra morar são inaceitáveis. Quando isso acontece, os mesmos são ocupados por pessoas que fazem parte de um movimento social – o kraakbeweging, e muitas vezes os ocupantes ganham, depois de algum tempo e muita luta, o direito à posse do local. Pois é, alguns problemas parecem ser exclusivos de países subdesenvolvidos… mas só parecem!

Mais uma curiosidade sobre meu prédio… como muitos sabem na Holanda algumas drogas, proibidas no Brasil e em grande parte do mundo, são legalizadas. Alguns bares, conhecidos aqui como CoffeShops, têm autorização pra venda. Nestes bares, pessoas compram um cigarro de maconha como se comprassem uma lata de cerveja por exemplo. Se não me engano, o consumo só pode ser feito no próprio bar ou em casa. Mesmo com a legalização, é muito mais comum ver alguém consumindo maconha no Brasil que na Holanda. Enfim, meu prédio tem 4 andares e no térreo funciona o “Whaw Coffehop”. Já me acostumei com isso, mas ainda acho uma pena que o lugar onde compro comida é mais distante de minha casa que um lugar onde compra-se drogas.

Relembrando as longas histórias

Amsterdam, 16 de janeiro de 2007


Por aqui a vida vai me levando… e como diria a filosofia popular “há males que vêm para o bem”.
Como fiquei alguns anos sem qualquer rotina de treino de futebol e jogava apenas algumas vezes por brincadeira, meu corpo ficou “desacostumado” a treinar. Não… não virei preguiçoso, o que acontece é que demoro muito mais que o normal pra me recuperar de um treino, ou de um jogo. Por isso algumas dores nunca vão embora, pois quando elas estão sumindo eu treino aí elas voltam… será que isso tem algo a ver com a idade também?!
Por causa de uma delas fui obrigado pelo treinador a falar com um fisioterapeuta trabalha no clube no clube. Por sorte, o americano (o cara estuda aqui na Holanda e faz uns bicos lá no clube) não veio e quem estava lá era um holandês. Atendimento rolando, conversa vai, conversa vem e não é que o cara tem uma clínica de fisio, tem planos pra aumentar a clínica nos próximos meses e vai precisar de pessoas com a minha formação profissional! Por favor… cruzem os dedos!

Já vão quase dois meses que estou por aqui… meu holandês vai indo muito bem. Acho que já estou num estágio de uma criança de uns 10-12 anos (quando começamos a fazer as primeiras piadas e já conseguimos tirar sarro em algumas ocasiões!).

Outro dia estava andando numa rua comercial aqui em Amsterdam, daquelas que em São José dos Campos são conhecidas como calçadão. Eu sentia que andar alí era complicado, parecia que eu era o único que ia. Todo mundo vinha. Já não sou muito fã destes lugares, desse jeito então… por sorte encontrei o que procurava, caminhei em direção a loja que estava ao meu lado direito e percebi que tudo ficou mais tranquilo, já não esbarrava em mais ninguém. Antes de entrar na loja olhei mei intrigado pro calçadão e percebi que eu tinha andado todo o tempo na contramão!!!!!! Caramba… que vai… vai à direita. Quem vem… vem à esquerda. Tão simples.

Ontem eu me encontrei, aqui em Amsterdam, com uma amiga italiana que conheci no Porto. A Emanuella. Ela e o namorado, também italiano, vieram passar alguns dias por aqui. Já se iam mais de 3 anos e meio que não nos víamos. É sempre delicioso encontrar meus amigos de Portugal. A amizade que construímos por lá foi muito verdadeira. A magia do intercâmbio universitário é que ele reúne pessoas muito diferentes que num outro contexto nunca se reuniriam. Assim, quando nos encontramos fora daquele mundo onde tudo aconteceu, a amizade e o carinho ainda estão muito fortes mas alguma coisa parece ser diferente. Estar com esta minha amiga foi muito gostoso, nós tínhamos feito tanto no Porto, tínhamos tanto pra conversar e relembrar…por algum tempo ela foi a italiana de um brasileiro amigo meu, enquanto eu fui o brasileiro de uma italiana amiga dela. Este quarteto foi inseparável por algumas festas… fizemos coisas que vão ficar guardadas pra sempre. (“Luiz, posso contar aquela, daquela madrugada, depois daquela festa?!”). Este tipo de reecontro só nos mostra o quanto aquele ano foi especial. Momentos de profundo silêncio acompanharam quase todos os encontros que tive com meus amigos de intercâmbio… é tanto pra dizer e perguntar que as vezes não sabemos como começar.

Hoje a vida segue seu rumo, eu em especial tenho muito ainda pra conquistar, estou apenas começando. Mas como é bom poder, do alto de meus 27 anos (isso não é nada!!!!), reencontrar pessoas que me fazem lembrar de tudo que já fiz.


PS: um cartão postal de Morro de São Paulo iria ficar bem bonito numa parece aqui de casa

As vezes é bom não perceber as coisas...

Amsterdam, 14 de dezembro de 2006

Eu tinha combinado por telefone com um treinador de uma equipe amadora de futebol pra eu ir fazer um teste ontem. Estava acordado que eu treinaria com e equipe B do clube. A equipe A joga pela terceira divisão amadora da Holanda, se pensarmos que só há duas divisões profissionais, a equipe disputa na verdade a quinta divisão nacional.
Pelo que eu tinha percebido, a principal função da equipe B é manter os caras treinando pra, quando necessário, fornecer alguns jogadores pra ficar no banco de reservas da equipe A.
Bem, pra mim que nos ulimos 7 meses quase nem tinha visto a cor da bola seria uma melhor opção treinar com uma equipe mais fraca mesmo.
Cheguei um pouco mais cedo no clube que o horário combinado com o treinador. Pra chegar lá eu tenho que pedalar uns 35 minutos e me dei algum tempo de reserva caso me perdesse pelo caminho. Ainda não havia quase ninguém no clube e pedi pra uma senhora que trabalha no bar do clube pra me avisar quando o treinador chegasse.
Foram chegando os jogadores, muitos por sinal. Para quê tanta gente treinando na equipe B?! Mas bem... era um pouco estranho, pois alguns tinham “cara” de quem sabia jogar e outros me pareciam bem pernas de pau. Apesar desta análise ser bem precipitada ela até que funciona algumas vezes. Eu pensava: “caramba, deve ser um grupo bastante heterogêneo e isso não é muito bom pro treino. Mas vou me empenhar aqui, pois voltar pra loucura dos dois toques do outro clube eu não quero”.
Quase na hora de começar o treino, ainda não tinha visto o treinador, os jogadores foram pro vestiário. Falei pra um deles que tinha combinado de treinar mas ainda não tinha visto o treinador pra saber se estava tudo certo, aí ele falou que se estava combinado não tinha problema de eu me trocar e falar com ele depois.
Ao chegar ao vestiário vi duas salas. Entrei logo na primeira, me apresentei, disse que ia “fazer um teste” e comecei a me trocar. Nestas horas ser brasileiro é sempre um bom cartão de visitas. Ao sair do vestiário consegui, finalmente, falar com o treinador que se limitou a dizer pra eu ir pro campo que lá conversávamos.
No campo, tinham dois grupos de jogadores jogando bobinho. Fui logo ao primeiro e pedi pra jogar... lógico que fui pro bobo, mas fui bem recebido.
No meio do jogo, vejo o treinador passando atrás de mim, se dirigindo pro outro grupo e logo começando um aquecimento. Uma das pessoas que estava jogando bobinho do meu grupo parou a brincadeira e puxou o aquecimento. Pensei: “este deve ser um auxiliar, vamos começar o treino separados e depois do aquecimento eu falo com o treinador.”
Durante o aquecimento, que já estava um pouco pesado pra mim, conversava com um dos jogadores quando perguntei qual o nível daquela equipe. O rapaz ia dizendo que era bom, que os jogadores eram boas pessoas, por isso era gostoso de se treinar e jogar com o grupo e que a equipe jogava pela “Tweede Klasse” (referente à quinta divisão nacional). Ai eu perguntei: “Ué! Mas não é que equipe A que joga na Tweede Klaase?”:

- Claro! Esta é a equipe A. Aquela com o treinador Carlos (o que tinha combinado comigo de eu fazer um teste na equipe B) é a equipe B.

Caracas... sete meses sem praticamente jogar e venho logo parar aqui na equipe A. Não que eu achava que não teria nível, mas fisicamente havia uma grande chance de desastre!
Falei com o treinador que eu não tinha percebido que aquela era a equipe A e que tinha combinado com o treinador Carlos de treinar na equipe B. Ele disse que não tinha problema e que eu treinaria mesmo com eles. Como já falei, neste ponto, ser brasileiro é um bom cartão de visitas.
Bem, já que estava na chuva, o negócio era me molhar!!!! Meu coração as vezes vinha na minha boca, mas até que fisicamente não decepcionei. Fiz ainda um belo gol e no final ficou acertado pra eu voltar no próximo treino.
Quando voltei pro vestiário, percebi que todos equeles que tinham treinado comigo, ou seja, que eram da equipe A estavam no mesmo vestiário que eu, ou melhor, que eu estava no vestiário deles.
Fiquei pensando o que aconteceria no Brasil se um jogador desconhecido chega pra treinar num clube, onde há divisão entre as equipes A e B, já entra logo no vestiário da equipe A, depois se convida pra fazer parte da roda de bobos da equipe A e ainda vai treinar... nesta hora, foi melhor não estar no Brasil, pois além de minhas muitas dores musculares, teria também, com certeza, minhas canelas, meus tornozelos e possivelmente algo mais, no mínimo, doloridos! Hahahah

No final das contas... As vezes é bom não pereber as coisas direito... já que, por isto, pulei a etapa de treinar com os pangarés e fui direto pro time principal! Haha