Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sábado, 28 de agosto de 2010

Um alô

A Susanne as vezes se espanta por eu quanse nunca tentar fazer contato com meus conterrâneos por aqui.
É comum ouvir o português brasileiro pelas ruas. Na grande maioria das vezes me contendo em apenas ouvir um pouquinho. Sei lá... acho que sou aqui a mesma pessoa que sempre fui. Quando vivia no Brasil não saía pela rua falando com todo mundo que cruzasse meu caminho.

Com as chuvas que estão caindo por aqui, deixei minha bicicleta no trabalho e peguei o metrô pra ir a uma reunião. Sentado, vejo alguém se aproximar e, com um gesto, pedir pra se sentar ao meu lado.
Dando passagem eu disse: "só porque eu gostei de sua camisa" - em português. Ele vestia uma camisa do São Paulo.

Era perto do meio dia, já estava pensando no meu almoço. A resposta, na forma de pergunta, veio lenta:

- Você é brasileiro? - O cheiro da cachaça veio forte
- Sou sim.
- Eu ti vi lá na estação RAI, com sua namorada! - nem me lembro a última vez que peguei um metro com a Susanne
- Acho que você está me confundindo - ele, mesmo lentamente, não parou mais de falar. Dava pra ficar bêbado pelo cheiro. Me lembrei de um "outro encontro"

...

- Eu conheço todo mundo aqui. Dou conselhos. Se os caras querem passar umas férias no Brasil, eu até ajudo. Já vivo aqui há muito tempo. Sei de tudo...
- Bom chegou minha estação. Vou indo. Um abraço.
- Falô meu! Meu nome é Vini... quando encontrar alguém por aí, manda um alô!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tempo e espaço


Umas das coisas que mais me frustrava, ao começar minha vida por aqui, era o fato de quase nunca encontrar conhecidos por aí... e quando eventualmente os encontrava era um encontro meio sem história.

Aquelas coisas de, por acaso, rever um amigo e com ele se lembrar do passado, tinham ficado pra trás.

Felizmente o tempo vai passando, as amizades aumentando e a história se constrói. Porém, mesmo sendo esta uma história muito bacana, a saudade daquele passado e daqueles que fizeram parte dele continua.

Mas, outro dia, quase como mágica... encontro alguns amigos. A conversa era gostosa, porém... mais pausada que o normal. No meio dela, outras caras foram aparecendo, o papo foi se alongando, de um jeito que ele parecia não acabar mais.

As pérolas rolavam...

- a da professora toda sargentona pega vendo pornografia num laboratório da faculdade.
- a do maluco que se esqueceu de por a sunga e foi nadar na hora do almoço.
- a dos três manés em Avaré, que emprestaram ocarro de um amigo, enxeram ele de mulher, não botaram cinto e acabram sozinhos no hospital, pois um deles ficou com um pé todo ralado depois que a porta do carona se abriu numa curva.
- as das lavagens do corredor e de seus acidentados, que uma vez por ano invadiam de sunguinha o hospital universitário da USP
- as das corridas pelado
- as dos orgulhosos barangueiros...

Na verdade esta conversa ainda não acabou... a cada dia alguém se lembra de algo mais.

Difícil deveria ser se empreitar por aí nos tempos em que nosso mundo era bem menor... quando não haviam coisas como um facebook... que trouxe velhos conhecidos a uma mesma conversa, mesmo que o tempo e o espaço nos impeçam de se encontrar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ordens

Quando ainda estava bastante envolvido com treinamento esportivo, andei escrevendo alguns artigos para um site especializado.
Mesmo não tendo escrito texto algum já faz um tempinho, volta e meia, ainda recebo email de leitores do site, com perguntas, pedidos de ajuda/estágio, elogios. Mesmo não trabalhando mais diretamente com treinamento é bom saber que algumas de minhas idéias são aproveitadas por aí... raramente dou alguma resposta.

assunto: treinamento em futebol

Felipe,
sou universitário em XXXXX, e gostaria que vc pudesse responder a duas perguntas em meu trabalho:
1) Crie 02 treinamentos básicos no futebol.
R:
2) Crie 02 treinamentos Especificos no Futebol.
R:
abraço
XXXXXXX
Pela primeira vez tinha recebido ordens...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Mais que um jogo


Quando vivi em Portugal, uma família patrícia me acolheu como se dela eu fizesse parte... mas fora daquela casa, não havia o quê me fizesse sentir fazer parte daquilo tudo, sendo um igual no meio deles. Talvez fosse eu mesmo que me via como uma diferente.

Já faz mais de três anos que por aqui estou... meu esforço pra aprender o idioma e entender este país valeram muito a pena. Não me lembro de um momento em que me sinta uma carta fora do baralho. Como já disse um amigo: "pra mim você é um holandês que fala meio diferente".

Era final da EUFA Cup... Porto x Celtic, da Escócia. Muitos amigos, internacionais e brasileiros, iriam assistir ao jogo juntos. Decidi sair sozinho. Da avenida dos Aliados gritávamos todos: Puuuoooorrrtooo!! Não se importaram de onde vinha, acho se quer repararam em meu sotaque. Não os achei desconfiados... Fiz mais contato com eles por ali, naqueles 90 minutos, do que no resto do tempo que fiquei por lá.

O convite foi feito: "o jogo começa as 20.30h... traga sua bebida e seja bem vindo, desde que você não torça pros de vermelho!!" Vários amigos apareceram e, como combinado, a torcida foi pro Brasil... houve porém diversão com o sufoco alheio, ainda mais sendo a Corea do Norte a pressionar um penta campeão! Apesar da amizade, uma tal rivalidade aparecia, principalmente entre os boleiros holandeses e o brasileiro. O nosso futebol ainda faz muito sucesso por aí, mas tenho certeza que não seriam apenas os argentinos a sorrir com nossa derrota... "se a gente for hexa vocês vão ter que me aturar!!!!"

Que poder tem este jogo: um dia nos faz iguais... no outro, transforma os amigos em grandes rivais.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Gritos


Os pedais giravam rápidos... estávamos já quase em casa.

Em meio a gritos meio sem sentido... Help!!!!Help!!!!

Com a noite escura, só as distinguimos dos marrecos devido aos gritos de desespero. Duas cabeças lutavam pra não se afundar no meio daquele canal

Nossas bicicletas e nossos casacos ficaram pela grama...

"Eu não aguento mais!!!!" De cima de um dos barcos alcançamos aqueles dois... um terceiro par de mãos apareceu pra nos dar uma força.

"Você está bem?!" Os olhos estalados, como aos do Munch, me diziam muito apesar da falta de resposta.

As sirenes gritáram por todos os lados... bombeiros, polícia e ambulâncias.

"A polícia tá vindo?!" - ele queria fugir... mas sem forças ficou sentado.

O silêncio dela se quebrou: "tem gente na água!!!! tem gente na água!!!!" sendo que ela mesma já estava em terra.

Não cruzássemos aquela ponte... teriam dado muito trabalho aqueles dois

No meio daquela zona... saímos de fininho.

Com pés molhados seguimos nosso caminho.