Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

domingo, 20 de setembro de 2009

Tijd voor een feestje!

Como diz o texto do convite: como assim, crise dos trinta?

Passou bem rápido... a tal crise é só uma piada, mas o sentimento é de que foi tudo muito rápido. Passei grande parte da minha vida achando que demoraria uma eternidade pra chegar aqui. E aqui estou! Felizmente, fazendo piada... e muito bem acompanhado.

Infelizmente faltou um bocado de gente em nossa festa, com as escolhas que fizemos é quase impossível ter todo mundo junto, quase sempre fica um gostinho de que está faltando um pedaço. Mas devido a estas escolhas, vamos ser obrigados a traduzir o convite e, mesmo meio atrasado, comemorar uma vez mais no final do ano...

domingo, 16 de agosto de 2009

São Goar


Eu nunca tinha ouvido falar dele. Sint Goar em alemão... fiquei tentando imaginar se haveria uma tradução pro português: Gonçalo... Gonçalves... Guiomar... não, ele era desconhecido mesmo.

Tínhamos saído cedo de Bonn, iríamos percorrer um trecho do Rio Reno, aquele mesmo que ajudou a Holanda a ser o país que é hoje em dia. Se na Holanda ele corre cercado por diques, naquele pedaço da Alemanha são os morros que o cercam. Se ao lado dos diques eram os moinhos de vento que guardavam os holandeses das águas do Rio Reno, encravados naqueles morros estão muitos castelos que outrora guardavam o próprio rio.

O passeio estava gostoso, a região, apesar de não estar na maioria dos destinos de quem vem passear por estes lados, merece ser visitada. Ali, cada curva o Reno nos presentea com um castelo... alguns apenas em ruinas, outros ainda bem inteiros... uns de conto de fadas, outros de filme de guerra.
Subiríamos o rio de carro e, sem pressa alguma, pararíamos quantas vezes fosse necessário, para poder desfrutar de tudo que fosse possível pelo caminho.
Já tínhamos feito bastante. As paradas em Remagen, Koblenz e Boppard valeram a pena... o dia foi passando rápido. Já era perto das cinco e ainda não tínhamos entrado em castelo algum. Sint Goar era nossa próxima parada!

Quem seria São Goar?!

No começo da vila um senhor nos avisou: "Já passa das cinco. Ele provavelmente vai estar fechado. Mas dá pra vocês verem os arredores."

Depois de passarmos por tantos castelos seria uma decepção apenas "ver os arredores" No estacionamento, ao lado de fora das suas muralhas, os parquimetros já não mais funcionavam. A partir das cinco o estacionamento é gratuito... algo tinha que ser positivo naquele momento! Nós fomos ver os arredores.
Num portal que dava acesso a um pátio externo do castelo, dois senhores, sentados numa mesa, impedem nossa entrada.

- there is party today! - apontando uma medalha em seu pescoço
- four euros! - dizia o outro, hostentando a mesma medalha. A medalha era de uma congregação de "cavalheiros" existente há vários séculos, que uma vez por ano organiza a tal festa no castelo.

Simpaticamente ele explicava:

- normal, pay there - apontando pro portão do castelo - today, pay here.

Tentei explicar que não estavamos muito interessados na festa e que gostaríamos mesmo é de visitar o castelo. Um deles se levantou. Momentos depois ele voltou.

- it is open! Today, four euros see castel and enjoy party! - meu pobre inglês era melhor que o deles.

Por quase duas horas nos perdemos por ali, no Castelo de São Goar. Dos castelos que já vi, este foi um dos mais bacanas... muito grande, imponente, em ruinas, mas com muitas salas e túneis ainda de pé.
A música começou. Uma bandinha de empolgados alemães fez o povo começar a se soltar. O ambiente nos convidou a nos sentarmos. Aquela mesa implorou por umas cervejas, e alguns refrigerantes. A bebida exigiu um tira gosto: joelhos de porco e salchichões foram nos servidos... cantamos pra Loreley!

Não havia mais como sair de lá. Com muito prazer jogamos fora nosso roteiro, trocando o que ainda estaria por vir por uma noite inesquecível em Sint Goar!


"São Goar,
nunca tinha ouvido falar do senhor, mas agradeço pelas graças alcançadas: uma noite pra não se esquecer e o estacionamento... que foi de graça!
"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Velha infância


Por estes dias tive que ir à estação central, aqui em Amsterdam. Fui esperar um trem que viria de Bruxelas. Mas que na minha cabeça vinha de outro lugar... lá das bandas de São José, de uma imaginária estação "Abília Machado".


O trem trazia consigo dois amigos, conhecidos desde que eu era como nesta foto aqui ao lado. Quando nem sabia que era gente e o meu mundo era gigante como aquelas ruas.


Um dos pecados que eu pago por viver esta vida meio aventureira, é ter que deixar muitas coisas para trás. Entre elas, ficou minha infância... meio perdida por aí. Afinal, já faz muito tempo que, em meu dia-a-dia, nada mais há que a ela me remeta.


Por um breve instante eles voltaram a fazer parte de meu dia-a-dia, e por serem tão presentes em minha infância, parece que a me trouxeram de presente, pro lugar onde vivo como adulto.


Hoje o trem já se foi, e com ele aqueles dois. Ainda melhor que ter vivos os meus dias de criança é sentir que, mesmo depois de muito tempo, eles continuam meus amigos...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Em nome da arte

Outra vez já falei aqui que de minha investida no mundo fotográfico... coisa louca até pra mim. Nunca pensei que um dia iria ficar fazendo caras e poses de frente pra uma câmera, ainda mais ficar correndo, saltando, voando ( e caindo sobre duas pequenas almofadas) em cima de um telhado.
Quando estavámos trabalhando na quarta foto o vento começou a soprar mais forte, uma cunhada foi escalada pra segurar a iluminação.
Enquanto fazíamos a última foto, eu lá com tudo ao vento, a Su de câmera em punho e a cunhada de olho na iluminação, uma visinha do prédio ao lado resolve pendurar as roupas em sua varanda.
Ficar com vergonha pra quê... vida de modelo é assim mesmo. Tudo em nome da arte!
Mas espera aí! Eu não sou modelo, mas tudo bem, afinal tudo em nome dos estudos da patroa.



Qualquer hora vou colocar meu "book" por aqui...

foto's by Susanne Reuling

domingo, 17 de maio de 2009

Mais um...



Há cerca de dois anos e meio eu escrevia um email que enviaria ao Brasil, no qual falava da oportunidade de poder treinar num clube amador de futebol daqui. Eu terminava o email da seguinte maneira:

"Vamos ver como vou me sair... se for bem, vou começar a treinar constantemente e quem sabe possa até disputar os campeonatos amadores por aqui... seria gostoso voltar a jogar. Seria bom também conhecer mais gente, falar mais holandês, entre outros.
Bem, vou indo por aqui!"

Eu acabei conseguindo treinar em dois clubes. O primeiro ficava, com a magrela, a cinco minutos de casa. Fui muito bem recebido, era uma equipe com gente bacana, na maioria pessoas de origem estrangeira, como se diz por aqui: "não holandeses". Como eu.
Pro segundo, do outro lado da cidade, tinha que pedalar 35 minutos. Voltar de lá, depois do primeiro treino, já sem pernas e com o frio da última semana de outono não foi nada animador. A aquipe era formada apenas por holandeses. Ali, o único "não holandês" seria eu.
Ambos os treinadores pediram pra eu voltar. Não foi difícil escolher... os 35 minutos de bicicleta depois do treino passaram a fazer parte de minha rotina.
Não foi fácil ficar por lá. Meu corpo não estava mais acostumado a dois treinos e um jogo semanais. Em meu primeiro ano tive mais lesões que em todos os outros anos de minha vida. Tendinites, torções e estiramentos me acompanhavam naquelas noites geladas na volta pra casa.
Eu já me comunicava bastante bem em holandês, mas entender o treinador durante os treinos era tarefa árdua. Participar ativamente das conversas de bar depois do jogos impossível. Na maioria das vezes dava vontade de sair de fininho... me perguntava se alguém iria perceber. Mas eu me segurava e ficava no meio deles o maior tempo possível.
Não é fácil chegar de fora num grupo ou sociedade já formados e vir a fazer ativamente parte deles. Felizmente pude aprender que quem tem que dar o primeiro passo somos nós, e que depois do primeiro passo, vem o segundo, o terceiro, o quarto e assim por diante. A caminhada é longa.
Depois de dois anos e meio, eu tenho absoluta certeza que a minha opção pelo clube no qual eu seria o diferente (o "não holandês") foi a melhor possível. Hoje enfrento bem melhor os problemas encontrados, tenho certeza que perceberiam se eu saísse de fininho de alguma roda, sou convidado pra aniversários e casamentos. Fiz amigos que me ajudaram a compreender melhor o modo de vida holandês.
Depois de mim, outros "não holandeses" chegaram ao clube. Ambos de origem marroquina, porém nascidos na Holanda. O primeiro não se adaptou muito bem ao clube e no meio da temporada nos abandonou. O segundo, Youssef, conseguiu se adaptar um pouco melhor, mas mesmo assim preferiu procurar outro time pra jogar ano que vem.
Ontem, logo depois de nosso úlitmo jogo ainda no campo, perguntaram, meio que criticando, por que ele procurou outro time pro ano que vem... afinal acreditamos ser um time tão bacana.

- Mas eu, pelo menos, sou o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada neste clube! - disse ele, meio que fugindo da pergunta, antes de ir pro vestiário.

Alguns concordaram e ainda se disseram impressionados com o esforço que ele tinha feito pra se integrar.

- Como assim, o Youssef é o primeiro "não holandês" a terminar uma temporada com a gente? - eu perguntei.
- Você não se lembra daquele outro "marroquino", o Adil, que ano passado largou o time no meio do campeonato?
- Claro que me lembro, mas parece que vocês se esqueceram que faz dois anos e meio que eu jogo por aqui.

Depois de algumas risadas, um deles diz:

- Mas pra gente você é um holandês que fala com um sotaque meio diferente!!


Pra mim, eu continuo um brasileiro... feliz por saber que depois de uma longa caminhada cheguei onde queria. Ser apenas mais um.

domingo, 3 de maio de 2009

"Esquecimento"


A mala que estava nas costas era bem pesada, e os dois tripés que levava me atrapalharam um bocado pra entrar naquele ônibus. O que eu mais queria era logo me sentar, pra me livrar por alguns instantes daquele peso que eu carregava.
Logo que validei meu bilhete, fui procurando meu assento.

- Você não esqueceu alguma coisa? - disse o motorista.
- O que o senhor disse?
- Você não se esqueceu de algo?

Refiz, mentalmente, meu passos: "entrei no bumba, validei o bilhete, a maquininha confirmou a validação, pois a luz verde piscou..." e respondi:

- Acho que não! - seguro que nada faltava.
- Boa noite - disse o motorista holandês com uma simpatia gigantesca. Emendando logo em seguida um: tudo bem com você?

Depois de retribuir a saudação e me desculpar pela falta de educação, me sentei logo na primeira poltrona. Eu só pude rir da situação e admirar aquela simpática figura, um quebra gelo nestes dias cada vez mais antissociais em que vivemos.
Depois de descer do ônibus me realisei como a gente, independente do lugar, pode se distanciar do mundo que nos cerca. Ficamos tão concentrados em nós mesmos que acabamos por nos esquecer de quem está ao nosso lado.
Tenho quase certeza sobre o que aquele motorista gostaria de ter me perguntado quando pequei minhas tralhas e, preocupado em não deixar nada pra trás, saltei dequele ônibus.

- Você não estaria, novamente, se esquecendo de algo?