Acompanhada de várias vizinhas lá se foi ela pra porta da escola. A fila na verdade ainda não tinha começado... elas foram as primeiras. Eu era um dos primeiros. Depois de quatro dias de revezamento, entre mãe, pai, tios, tias e vizinhos meu lugar foi garantido. Lá era assim... ou nossa família passava várias noites na fila pra estudar na Palmyra, escola da prefeitura, ou corríamos o risco de ter que ir pra Ana Candida, escola do estado, onde a maioria dos pais não queria ver seus filhos.
Dar uma voltas com ele já foi até desejo de criança... de certa maneira foi ele que me introduziu a São Paulo. A primeira vez que estive por lá sozinho foi ele que me levou ao meu destino. Nele sempre me senti seguro, respeitado. Enquanto por lá vivi, ele fez parte de minha vida. De poucas coisas os paulistanos se orgulhavam tanto: "o nosso é o melhor do mundo!"
Em todo o tempo que vivi em São Paulo convivi com aquelas obras. Não me lembro de por lá passar sem ver trabalhadores no meio daquele mar de lama. Estranho como a gente se acostuma com estas coisas. Como pode ser normal aceitarmos viver ao lado daquele esgoto, sempre parados no trânsito. Felizmente o trabalho daqueles homens e daquelas máquinas traria algo de positivo praquela cidade.
Pais que queriam uma educação boa pros seus filhos, e não tinham dinheiro pra uma escola particular, encaravam aquela fila. A chance de ver os filhos longe da escola do estado valia qualquer esforço. Hoje, mais de 25 anos depois, imagio que meus pais passariam semanas naquela fila. Com professores na família sei que a qualidade da nossa educação estudal não melhorou muito. Lá, naquela época, era difícil de se repetir... hoje impossível não passar de ano.
Ao sair por aí começei a questionar como ele poderia ser o melhor do mundo, ainda mais com uma tarifa tão elevada. Ignorar que ele cresceu alguns quilômetros seria incoerência, mas compreender como uma cidade tão grande e tão rica tenha um metrô daquele tamanho, hoje em dia tão lotado e que entra em colapso por causa de uma blusa é impossível.
Depois de viver por um ano ao lado de outro rio, percebi o quanto deplorável são aquelas águas. Depois de viver alguns anos abaixo do nível do mar me entristece a falta de controle daquelas enchentes. Me entristece ainda mais saber que um governo investe tanto pra uma marginal sem enchentes, como tanto foi prometido naqueles anos que por lá estive, enquanto seu sucessor volta a se esquecer dequeles rios, jogando tudo o que foi feito pelo ralo.
De longe não compreendo como pode um partido ficar tanto tempo no poder sem quase nada fazer para oferecer a São Paulo o que São Paulo precisa.
De longe eu me espanto o povo paulista se acostumar com a desgraça... e por consequência, mesmo depois de 16 anos seguidos de um mesmo governo, não exigir mudanças.
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