Outro dia, depois de muito tempo, troquei umas palavras com a Joana, umas das habitantes da inesquecível Casa da Pasta.
Fazia muito tempo também que não conversava com algum deles... eram 8 seus reais habitantes, mais eu e a Manu, moradores adotivos.
Além de mim, da Joana, portuguesa e da Manu, italiana, viveram lá a Kika, alemã, a Clare, escocesa, mais a Michela, o Stefano, o Marco, o Paulo e a Melania, todos italianos.
No início, eu , na busca por conhecer pessoas novas, ia sempre jantar no restaurante central da universidade do Porto, lá comiam muitos estudantes recém chegados à cidade como eu. Na volta, quase sempre passava pela Casa da Pasta, que ficava no meio de caminho pra minha. Muitas vezes, ia dormir com uma segunda janta em meu estômago.
Com a passar do tempo eu não chegava mais ao restaurante central, a Casa da Pasta era meu destino quase certo, isso quando ela não era apenas passagem para outro ponto final.
Depois de não aguentar mais a intrometida Dona Florisbela, proprietária da casa onde aluguei um quarto por cerca de 3 meses, a Casa da Pasta foi refúgio. Lá fiquei um mês antes de conseguir encontrar um outro quarto com um preço que eu poderia pagar. Foi, inclusive, graças a Dona Florisbela que os conheci. Quando cheguei pra me acomodar em um de seus quartos, alguns de meus futuros amigos estavam na sala, estudando português, com alemão e um espanhol que também vieram a ser vítimas da portuguesa. Acabei virando um bom professor.
Foi durante meus dias na Casa da Pasta que vi meus amigos partirem pro Natal, numa das experiências mais tristes daquele ano. Que foi por sinal a grande responsável pela viagem mais incrível que já fiz.
Quase no mesmo dia que falei com a Joana fui jantar com a Susanne num restaurante aqui perto de casa. Um pouco antes da comida chegar ouço uma música começar...
"Voi gente per bene che pace cercate, la pace per fare quello che voi volete, ma se questo è il prezzo vogliamo la guerra, vogliamo vedervi finire sottoterra. Ma se questo è il prezzo lo abbiamo pagato, nessuno più al mondo dev'essere sfruttato. heh!!"
Alguns instantes mais tarde a Casa da Pasta pulsava mais forte em minha mente... não havia quem ficasse parado ao som da Contessa. Poucas não foram as vezes que uma grande festa não foi animada, ainda mais, pelos Modena City Ramblers. Algumas de minhas melhores festas foram lá.
Eu, como todos os outros não italianos, não entendia quase nada do que era cantado. Mas sempre percebi o lado revolucionário daquela música. Talvez tão revolucionário como foi aquele ano pra mim. Ano vivido com extrema intensidade... As pessoas que estiveram por lá comigo sabem do que falo. Felizmente convivo todos os dias com alguém que também fez parte daquilo. Que me ajuda a não esquecer das coisas. Em Albergue Espanhol é possível de se entender um pouco de meus sentimentos, além de se ter uma bela idéia do que a Casa da Pasta significa.
O que mais me espantou depois de ouvir aquela música não foi a explosão de sentimentos que ela causou em mim, ou o fato dela me levar à minha querida Casa da Pasta. Mas sim o tempo que levou pra eu a reconhecer. Foi de certo modo um choque me realisar que muitas coisas de um passado nem tanto distante pareciam já estar perdidas. Acho que estou mergulhando muito fundo no presente.
Com certeza tenho que continuar vivendo o presente, mas de hoje em diante vou brigar ainda mais pra não esquecer o passado... tenho que procurar meus "velhos" amigos.
Clare, Kika, Joana, Manu, Marco, Melania, Michela, Paulo e Stefano, tenho saudades...
Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
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