Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sábado, 5 de abril de 2008

Já não havia mais tempo...


Minha passada na Noruega pra visitar meu irmão, me fez retornar aos meus primeiros dias por aqui, quando o holandês ainda era uma coisa do outro mundo. O norueguês, como o holandês, é um idioma no qual não compreendemos uma palavra sequer, no qual ouvimos sons que acreditávamos antes não existir (alguns fonemas holandeses não consigo pronunciar até hoje).
Foi engraçado ouvir as pessoas na rua e tentar imaginar sobre o que estavam falando, ou entrar novamente no mercado e ver que não era possível compreender as instruções de preparo de uma comida congelada... mas foi engraçado por ser passageiro e por saber que esta fase aqui na Holanda pra mim foi superada (fico desejando sorte ao meu irmão!). Atualmente, acho que eu e a Susanne conversamos mais em holandês que em português.
Infelizmente eu não fiz ainda um bom curso de holandês, ainda tenho problemas no trabalho, quando tenho que escrever documentos importantes, ou fazer um pequeno texto pra promover algumas das nossas atividades no jornal do bairro. Mas até agora venho levando tudo numa boa e sentindo ainda um bom desenvolvimento a cada dia.
Mas, acredito que mesmo se tivesse feito um bom curso, teria também os mesmos probleminhas vividos no dia a dia de quem aprende um novo idioma (sugiro a leitura de um outro texto meu: Bonequinha vermelha).

Como no português, por vezes, diferentes letras, quando pronunciadas, acabam tendo em determinadas situações um mesmo som. Como por exemplo: escrevemos leite, mas (com excessão de algumas regiões do Brasil) falamos leiti. A Susanne sempre ficava com a cabeça quent(i) quand(u) eu dizia: “olha... esta palavra é escrita com E e não com I”. Ou, “e esta é com O e não U”
Aqui também acontece disto... por exemplo: um T e um D, quando aparecem sem vogal na sequência, são pronunciados quase da mesma maneira. Só por referência, todos os verbos, quando conjugados na segunda e terceira pessoa do singular terminam ou com T ou com D mudos. Por um lado é sempre uma loucura: “devo escrever com T ou com D?” Mas por outro lado facilita... afinal na hora de falar não precisamos pensar muito.

Como no trabalho tenho muito contato com crianças, acabo sendo obrigado a melhorar meu holandês diariamente, pois eles, diferentemente dos adultos, sempre reagem aos meus erros. Muitas vezes até me ajudam. Se bem que já aconteceu de crianças tirando um sarro bem forte da minha maneira de falar, ou de alguns erros que cometia. O mais incrível é que isso acorre na grande maioria dos casos com filhos de imigrantes, os quais os pais que vivem aqui por muitos anos falam um holandês incrivelmente pior que o meu, ou sequer falar holandês.

Pois bem, outro dia estava conversando com um grupo que ia jogar um partida de futebol, na qual um deles deveria ser o árbitro. Antes de escolher um candidato, fiz um discurso sobre a maneira como o pequeno árbitro deveria se portar... foi aí que veio a pérola.
Árbitro aqui é: SCHEIDS. (não tentem pronunciar... não vai ficar sequer parecido, haha) Este D do final, por não ter uma vogal depois dele acaba tendo o som parecido com o T.
Pra construir um verbo a partir do substantivo colocamos aqui EN ao final da palavra.
Quando fui falar que o árbitro deveria “arbitrar seriamente”, sei lá por qual motivo me esqueci do S do SCHEIDS, adicionando apenas EN ao final da palavra. Com isso, aquele som em comum de D e T deixou de existir (o som em comum deveria se transformar em DEN ou TEN). Assim, tive que, numa fração de segundos, optar entre D e T ... veio a última.
A palavra pronunciada foi SCHEITEN, em vez de SCHEIDEN, que na verdade deveria ser SCHEIDSEN (se não tivesse me esquecido do S). E o que disse foi: “O árbrito vai ter que SCHEITEN com seriedade!”
Eu tentei me corrigir, mas já não havia mais tempo... a turma, uns 16 garotos de 8 a 12 anos, veio abaixo.

SCHEITEN em holandês significa cagar. Não é nem algo mais infantil e puro como fazer cocô, ou mais formal como defecar... eu disse mesmo é: “o árbitro vai ter que cagar com seriedade!”

2 comentários:

magrão disse...

Felipe,o que voce disse aí para a garotada deve ter sido muito engraçado mesmo, eu até imagino a cena,mas se eles conhecessem um pouquinho de "BRASIL" sabe!a frase não seria tão engraçada não,aqui tanta gente(politicos,autoridades e até o povo) FAZ TANTA CAGADA COM TANTA SERIEDADE,que a frase pelo menos para nós tem MUITO SENTIDO... HAHAHAHAHAH!!!!!!!

Gabriela Falcão disse...

Oi São José,
Sobre esse texto estava mesmo comentando com um amigo sobre como é difícil ler/ouvir e entender qualquer palavra em Holandês! Isso porque eu estava folheando um guia de conversação para viagens e o da Holanda era o dos mais difíceis...

bem, é uma das coisas que me aguarda!!!
beijos.