Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Senhor bandeira...


Aqui cada time leva um bandeira... o deles tinha acabado de anular um gol meu. Nada de complicado: num rebote do goleiro eu botei pra dentro. Mas ele estava lá, com bem mais de trinta em cada perna, levantando seu objeto de trabalho. Não seria minha glória, mas seria o 2x2.
Alguns minutos depois fui substituído... parei perto do alambrado pra conversar com amigo, que tinha saído antes de mim.
Sua resposta confirmou o que eu já sabia: não estava impedido!
Dois senhores, provavelmente com a mesma idade do bandeira, se divertiam com o meu lamento.

- senhores, eu estava impedido ou não?

Enquanto um balançava negativamente a cabeça o outro disse:

- você não estava impedido... mas só por bem pouquinho - em seguida uma longa risada.
- poxa... mesmo com este tanto de gente boa aí o bandera de vocês ainda dá uma ajudinha?!?!
- pois é, tá vendo aquele aí, o número 5. É meu filho, já jogou no Ajax e no Barcelona...

Algum tempo depois um deles me pergunta:

- você por acaso é belga?
- não senhor.
- de onde você vem então? Não reconheço o seu sotaque.
- se o bandeira dos senhores não tivesse anulado o meu gol eu teria comemorado assim... imetei a comemoração do Bebeto contra a Holanda em 94.
- hahaha... você é brasileiro! As pessoas aqui não esquecem do Bebeto.
- pois saiba que eu joguei contra o Pelé. Aqui no estádio olímpico de Amsterdam. E nós ganhamos de 1x0! - todo orgulhoso.
- e eu apitei aquele jogo - disse o outro.
- ah... e senhor deveria ter um bandeira com este - o bandeira acabava de cruzar a nossa frente.
- eles riam...

- bandeira! estes senhores aqui estão me dizendo que o senhor se equivocou quando anulou o meu gol.
- os dois continuava rindo...

Ele parou, olhou pra'queles dois e disse:

- estes aí... estes dois... eles não sabem de nada!

A risada foi geral...

terça-feira, 6 de abril de 2010

A minha glória

Contra-ataque pro nosso time. Recebo a bola em velocidade... um marcador vem em minha direção. Com um corte seco, ele - que não é qualquer um - cai. Eu conduzo a bola mais um pouco.
Logo ao cruzar a linha da grande área, um pouco a esquerda da meia lua, vejo um companheiro livre perto da marca do penalty.
Ele grita quase desesperado: Passa a bola Felipe!!!!
A chuva caia forte, o campo todo elameado... o tempo meio que parou:

- Acabei de deixar meu marcador no chão. Ainda mais ele, que há muitos anos quase me faz agonizar. E enquanto eu quase agonizava, vocês todos pulavam de alegria! Se tem alguém que vai fazer este gol, esse alguém sou eu!"

A noite era fria. A multidão se esqueceu de São João e se enfiou naquele galpão velho pra torcer pra um baixinho. Com meus 14 anos sofri feito um coitado, ainda mais quando ele - que agora ainda tenta se levantar - marcou aquele gol... Em hipótese alguma, eu passaria aquela bola.

Pro desespero de meu colega, ele viu um chute sair cruzado... Seria a minha glória!



Felizmente, tínhamos o Branco, e ele fez daquela noite fria uma grande festa... Infelizmente, não sou melhor do que sou e a minha bola não foi pra onde eu queria...

Pra ser sincero, não me importo muito em ter perdido aquele gol, ou mesmo que nós tenhamos perdido com um gol no finalzinho... a lembrança do Aron Winter caído no chão e o prazer em enfrentar aqueles que, até outro dia, jogavam em outros campos (Barcelona, Inter de Milão, Lazio, Bordeaux, Ajax, entre outros) vale mais que qualquer coisa.