Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

É proíbido fumar!



Imaginem a situação... um cara meio resfriado, vias aéreas debilitadas, devido a chuva que ele tomou no dia anterior enquanto pedalava por seu mais novo destino turístico. Ele entra num bar, vê várias pessoas fumando e uma fumaceira que se espalha por todos os cantos do ambiente.

O cara pensa: "Estou em casa". Sem pestanejar saca o maço de cigarros do bolso e vai logo dando suas tragadas.

Porém, sem demorar muito é abordado por um dos garçons:

- Senhor, seria possível apagar o seu cigarro?
- Como?!
- Seria possível apagar o seu cigarro?
- Por que?
- O senhor não sabe que é proibido fumar em estabelecimentos comerciais na Holanda?
- Tava imaginando que sim, após passar por vários bares nesta cidade e ver aqueles adesivinhos de proibido fumar. Porém, encontrei este "santo local" com várias pessoas baforando. Aí imaginei que em alguns lugares era permitido e noutros não. Mas enquanto estava aqui, feliz da vida, ouço do senhor que não posso fumar. Não tô entendendo nada! -Diz ele enquanto olha pros lados e vê aquela névoa densa que quase o impede de ver o outro lado do lugar. Ele insiste em fumar.
- Eu não vou apagar meu cigarro! Por que eu? Será que tem há ver com o fato de ser estrangeiro?!
- Não senhor, somos frequentados na maioria das vezes por estrangeiros.
- Me desculpe, percebo que o senhor está pedindo com educação, mas tenho que dizer que me sinto afrontado com seu pedido.
- Não é minha intenção afrontar o senhor.
- Por que raios então o senhor pede pra eu apagar o cigarro enquanto todo mundo ao meu redor continua de cigarro aceso na mão?
- É que a partir de primeiro de julho há uma lei que proíbe o fumo em todos os estabelecimentos comerciais.
- Hahahaha... mais uma vez, por que eu e não eles? Agora só de relance conto umas 20 pessoas com cigarro acedo!
- O senhor tem razão, mas no cigarro deles não há fumo.
- Como é que é?!
- Pois é, não há fumo no cigarro deles, e sim maconha. Fumo é contra a lei, maconha não!
- Posso colocar uma pouco de maconha aqui e continuar fumando, precido da nicotina do tabaco pra acabar com a minha pilha. Fumar lá fora é cruel! A chuva que começou ontem não parou até agora. Estou todo resfriado por causa dela.
- Sinto muito, maconha só purinha, se nela houver um pouquinho fumo estaremos infringindo a lei...

Pois é, pode parecer loucura, mas a partir de primeiro de julho isso pode acontecer por aqui sim.
Finalmente, depois de muito tempo de atraso com relação a outros países por aí, o fumo em bares, restaurantes e discotecas foi proibido na Holanda. Sair a noite ficou mais gostoso, mais saudável, pelo menos pra quem só passa na frente dos Coffeshops. Mas antes de imaginar que a continuação da liberação do consumo de maconha, e outras drogas chamadas leves, nos Choffeshops tem algo a ver com liberdade, mente progressista, estas coisas... este fato está mesmo é relacionado a questões econômicas.

É interessante pra Holanda tentar estimular o menor consumo de cigarros. Questão de saúde pública: menos dinheiro aplicado na saúde pra tratar dos efeitos do cigarro. Mas não seria interessante pra Holanda atrapalhar uma de suas mais importantes fontes de renda: o Turismo. Milhares de turistas desembarcam por aqui, todos os dias, afim de se amontoar nos Coffeshops e se entupir de suas mercadorias. Detalhe... café mesmo, só é encontrado por lá no nome!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pela primeira vez um tio


Eu já o conheço há muito tempo... jogávamos bola juntos e íamos à mesma colônia de férias quando crianças. O clube da Petrobrás era onde tudo acontecia.

Na faculdade foi meu bixo. Por lá ele passou a ser Terra. Com ele e meu irmão, demos vida aos Tropeiros. Casa bacana e feliz que abrigava gente do Vale do Paraíba naquela loucura de São Paulo. Na faculdade ele virou amigo de verdade.

O cara escolheu uma vida como a minha... enquanto eu respirava ares portugueses ele batalhava na chuva londrina. Quando eu encontrei minha holandesa ele se achou com uma da Irlanda.

Depois de mais de anos nos vimos de novo... da ultima vez ele era apenas meu amigo Janio. E hoje meu amigo é Pai, de duas crianças lindas.

Foi um final de semana como nenhum outro. Foi pela primeira vez que eu me senti um tio...

Lembranças a Janio, Liz, Anabel e Rafael...

Pra ver algumas fotos do final de semana é só conferir aqui

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Antes só


Outro dia estava no trabalho quando toca meu telefone. Não podia atender. Algum tempo depois ouço a caixa postal:

- Senhor Felipe, falo da prefeitura de Amsterdam e o senhor Flávio precisa entrar em contato com o senhor. Por favor retorne esta ligação.

Sem qualquer sobre de dúvidas retornei.

- Me desculpe senhor, mas apenas com o primeiro nome não podemos identificar a pessoa. O senhor não sabe o sobrenome deste Flávio?

Eu não sabia. Nem tentei forçar a barra, todos aqui são encontrados pelo sobrenome, ou data de nascimento. Não haveria jeitinho que eu pudesse dar pra poder contactar o tal Flávio. E eu conheço alguns Flávios. Fiquei meio angustiado, de certa maneira torcendo pra que no dia seguinte alguém da prefeitura me voltasse a ligar.

Quase 11h da noite, toca o telefone.

- Fala Felipe, aqui é o Flávio, tudo bem?
- Tudo.
- Então, tô precisando de um lugar pra morar, você conhece alguém que pode dividir o apartamento comigo? Eu tô no hotel “qualquer coisa”, mas aqui é caro e não dá pra ficar muito tempo, por isso quero que você me ajude a encontrar um lugar pra morar.
- Espere aí... quem é você?
- Sou Flávio, de João Pessoa. Cheguei aqui em Amsterdam ontem a noite. Vou viver aqui. Por isso você tem que me ajudar a encontrar um lugar pra morar. Você não quer vir me encontrar agora? A gente poderia conversar um pouco. Quero que você me diga como você tirou seu visto.


- Desculpe... mas como você conseguiu meu telefone?


Puta longa história, mas pra resumir: muitas pessoas, a começar pela pessoa da prefeitura, tentaram informar pro cidadão, que não falava nada de inglês, muito menos de holandês, que ele poderia permanecer por aqui por 3 meses como TURISTA e depois ele teria que ir embora. Ser TURISTA significa passear, conhecer, gastar dinheiro e embarcar de volta! A idéia de virar estudante e tirar visto não existe por aqui. Mas a chatice e a inconveniência do cidadão fizeram com que alguém, depois de muitos alguéns, desse meu telefone pra ele, pois este alguém sabia que eu poderia explicar pro cidadão que os planos deles não eram para nada reais. Depois de ouvir toda a historia, sobre como ele chegou até mim, ainda ouço mais uma vez:


- Você não pode vir me encontrar, aqui no meu hotel?


- Flávio, são quase 11 da noite. Eu não vou sair pra te encontrar.
- E amanha?
- Eu trabalho.
- Eu vou ao seu trabalho.
- Você não vai ao meu trabalho.
- Na hora do almoço.
- Não!
- Mas você tem que me ajudar a conseguir o visto, como você conseguiu o seu? Vou estudar holandês pra tirar um visto de estudante, mas pra isso eu tenho que arrumar um lugar pra morar, aqui é muito caro...

A conversa ainda não terminou aqui... foi difícil convencer a figura que não haveria maneira dele conseguir um visto, que o jeitinho que ele estava procurando não existe por aqui. Também foi complicado dele entender que eu, mesmo me considerando uma boa pessoa, não costumo ajudar pessoas como ele, que acham que tudo se resolve, que acham que podem importunar uma cidade inteira e ainda me ligar as 11 da noite como se fossemos amigos de infância.

As vezes ainda me perguntam por que eu não quero contato com todo brasileiro que vejo por aqui, prefiro andar só a me aproximar de figuras como esta.

Com os pés na areia


Ontem eu teria uma surpresa... desde a semana passada que a Susanne tinha me pedido pra deixar a noite de quarta livre. Minha curiosidade é monstruosa. Foram muitas tentativas de arrancar dela qual seria o plano.
Por volta das oito saímos de casa. Noite (ainda tarde) bem gostosa. No meio do caminho, nos sentamos a beira de um canal pra tomar um grande copo de sorvete. Um sorteve da “Kibon”, em que até dois sabores são batidos com frutas a escolha (morango, cereja, kiwi...) e outras coisas (granola, chocolate, castanha de caju...). Só por este sorvete a beira de um canal nosso programa já havia valido a pena. Ele é um dos maiores concorrentes de meu preferido, mas inexistente por aqui, Milkshake de Ovomaltine do Bob’s.
Terminado o sorvete, caminhamos por mais alguns canais até chegar a uma pequena rua, com um cinema e um bar/balada bem conhecidos. A rua cheia, muitas camisas do Brasil, vestidas por brasileiros e holandeses. Seria alguma mostra de cinema brasileiro, ou uma balada brasileira? Cinema não era... todo mundo ia pro bar/balada. Balada não poderia ser, ainda era meio cedo pra isso.
Já saí muito, mas hoje não sinto falta. Mas não imaginava que iria desfrutar tanto daquela noite.
Este bar/balada não é muito grande e apesar de cheio não estava lotado. Havia muitos brasileiros, algumas caras conhecidas, mas nenhum amigo. A maioria era holandesa. Era mesmo uma balada.
Da última vez, tive que ir bem longe pra cair na noite, foi durante minhas 18 horas em Madrid. Desta vez foi a balada que me levou pra bem longe... cheguei a pisar na areia, dançando numa praia qualquer.
Hoje mesmo, um dia depois, voltei a viajar. Era só pensar no show que estava novamente por aí.
Foi a terceira vez que os vi tocando... todas as vezes me diverti bastante, espero vê-los pelo menos por mais uma vez, mas esta terá que ser numa terça e no Pelourinho.
O Olodum foi rico. O Oludum foi pobre. O Oludum foi regae e o Olodum foi rocky... o Olodum me levou de vez...
E isso foi tudo uma surpresa!

sábado, 19 de julho de 2008

Na Terra dos Trolls


Quando eu ouvia falar da Noruega eu só conseguia pensar em duas coisas: Vikings e frio
Não foi a minha primeira passagem por lá, mas desta vez vi mais, senti mais, pude enfim conhecer melhor o país, numa época na qual ele não está coberto de branco e a noite não existe.
Aproveitando que meus pais estavam por estes lados fomos todos visitar o Daniel. Ficamos 10 dias, dos quais 5 viajando e 5 onde o meu irmão mora, e onde já estive, Trondheim.
Chegando por lá já pude encontrar uma cidade completamente diferente da visitada meses atrás. Temperatura uns 30 graus mais elevada e ruas lotadas. A neve encanta, mais também esconde. As vezes me sentia num outro lugar.
Como foi engraçado ter este encontro familiar por àquelas bandas... se alguém algum dia imaginou que minha família pudesse cair no mundo, não acredito que este alguém chegou assim tão longe a ponto de nos ver na escandinávia. E detalhe, procurando uma sombrinha, devido ao calor.
Viajar é sempre muito bom, nos mostra coisas novas, quebra paradigmas (na Noruega até o leite vendido no supermercado é estatal, afinal, que outro tipo de empresa pensaria em pagar um preço justo pra manter o nível de vida dos pequenos fazendeiros... enfim, uma visita a escandinávia poderia ser bem positiva pra uns bicudos que conheço). Estes 10 dias me fizeram voltar pra casa completamente enlouquecido com a paisagem natural vista por lá. A Terra dos Vikings, onde os Vikings parecem ter dado lugar ao Trolls (pelo menos por onde passamos), nunca esteve em minha lista de principais destinos, mas hoje é um dos “tops” de meus lugares visitados.
Demos um rolê bacana por lá, por estradas pequeninas que fazem lembrar muito bem o trecho de serra da Osvaldo Cruz (Taubaté-Ubatuba). Viajar por lá não condiz com estar com pressa. Além das seguidas curvas em 180 graus as inúmeras balsas fazem com que a gente chegue ao nosso destino bem devagar, com tempo suficiente pra aproveitar a viagem.
Nós descemos a partir de Trondheim sentido sudeste... nesta direção, as montanhas arredondadas, que se parecem com as das nossas Minas, vão ficando cada vez mais altas e pontudas. Por serem altas,mesmo no verão seus cumes continuam nevados. Porém derretendo. A água escorre por todos os lados e, muitas vezes, direto pros fiordes em cachoeiras gigantescas. Perdi a conta das cachoeiras da fumaça ou dos véus de noiva de centenas de metros vistos por lá. Quando a água não consegue escorrer, fica represada no alto das montanhas em lagos de água bem azul, que parecem nos ficar convidado pra um banhinho.

A paisagem deste pedaço da Noruega que visitamos é surreal. Esta mistura de montanha, neve, cachoeiras, lagos e mar é uma coisa rara... e por isso, se algum dia alguém quiser um conselho meu quando estiver vindo pra estes lados direi: vá a Terra dos Vikings, pegue a Estrada do Trolls e chegue até Geiranger. Inesquecível!


PS: detalhe, o calor norueguês era tamanho que as águas cristalinas dos fiordes conseguiram convencer mais da metade da família a se aventurar. Tudo doeu... mas valeu o banho nas águas de Janaína.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pai e Mãe




Minha casa nunca foi tão grande... minha casa é pequenina, de um tamanho perfeito pra duas pessoas começarem a vida. Minha casa ficou gigante, ela cresceu pra acomodar aqui meu pai e minha mãe. Passamos um mês delicioso. Rapidinho, passei a ter a sensação que meus pais pertenciam ao meu cotidiano. Era muito normal tê-los por aqui, parecia que sempre foi assim... era uma normalidade perfeita.
Viajamos pra ver meu irmão. Família Mota reunida na Noruega... coisa inimaginável a tempos atrás... coisa real hoje em dia... coisa inesquecível viajar por meio de fiordes, montanhas e cachoeiras, nesta incrível Noruega, num carro cheio de gente de família.
Receber visitas por aqui sempre é muito bom. Espero continuar a recebê-las por muito tempo. Já tinha recebido todo o tipo de gente: amigos das antigas meio distantes nos últimos tempos; amigos dos amigos; ex- cunhada; novos amigos; amigos das antigas que continuam amigos e família. Mas pai e mãe é diferente. Esta passagem deles juntos por aqui era das coisas que eu mais desejava desde de minha vinda. Finalmente eles vieram e conferiram juntos como andam as coisas. Felizmente eles não "me viram chorando e nem vão precisar mentir, 'pros da pesada', que eu vou levando..."
Hoje meus pais já foram embora, estão novamente onde eles pertencem... minha casa continua grande, mas agora de uma maneira diferente.
É um grande mais vazio... mais vazio de gente, mas cheio de lembranças.