Nesta vida não tenho muitas conquistas materiais, porém as histórias são diversas. Quem eu seria sem minhas histórias? Não seria eu.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Trondheim


Seria um sonho... sair do trabalho lá em São José, a cerca de 80 km do litoral, passar em casa, largar umas coisas, pegar outras e ir de encontro e ele, nem que fosse pra dar uma espiada, sentir a maresia ou receber uns bons fluídos de Janaína... Parece loucura...

A última era glacial abriu várias feridas no território da Noruega. O gelo que ia se derretendo e se escorregando em direção ao oceano rasgou várias partes do país. Pra fechar estas feriadas o mar se encarregou de seguir interior a dentro, criando os fiordes. Por isso, viver lá, a cerca de 80km do litoral pode não significar viver longe de uma praia. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem até Maomé.
Como quase nada pode ser perfeito, a temperatura da água nas regiões escandinávias não é convidativa a um banhinho de mar depois do trabalho, ou em qualquer hora do dia... mas valem a maresia e o visual.

Eu desembarquei em Trondheim na quinta a noite. Fui visitar meu irmão, aproveitando o fato de não trabalhar às sextas e de que, por aqui, depois do domingo de Páscoa há o feriado do segundo dia de Páscoa. O Daniel, depois de alguns períodos de vai e vem, está vivendo na Noruega desde de fevereiro.
Era a primeira noite de primavera mas ruas e calçadas ainda estavam cobertas de gelo. Foi muito bom ver meu irmão em sua nova casa, ver que ele está tocando a vida bem e feliz.
Nos três primeiros dias fomos pra montanhas, eu pra esquiar e ele fazendo snowboard. Como era engraçado olhar pro meu lado, na verdade na maioria das vezes tinha que olhar pra frente, pois o Daniel tá mandando muito bem e por isso eu acabava ficando pra trás... mas bem, era engraçado nos ver ali e ao mesmo tempo me lembrar de quando éramos crianças e corríamos juntos nas ruas perto de casa. Os mesmos pés que ganharam juntos os primeiros pares de chuteiras, passaram o dia todo gastando uma bola num campinho atrás de casa e imaginando que elas eram as maiores conquistas existentes no mundo, deslizavam hoje, novamente juntos, montanhas geladas em Vassfjellet.
Esquiar é uma ato familiar, as crianças ainda nem bem conseguem caminhar e já estão acompanhadas dos pais e as vezes dos avós calçadas num par de esquis. É bacana ver como as pessoas aproveitam o inverno juntas. Muitas famílias subiam os elevadores com uma mochila bem grande e no meio da descida paravam num canto qualquer, abriam um cobertor sobre a neve e aproveitavam ali o dia de sol. Como se estivessem numa parque qualquer. Churrasqueiras portáteis queimavam adoidado...

Por vezes eu cheguei a me imaginar em Minas Gerais, pra onde olhava via morros, era ladeira pra tudo o quanto é lado. Pra chegar à casa do Daniel tinha que subir... pra sair, descer. Viver por lá é um constante exercício de tonificação muscular das pernas e bunda. Mas diferente de Minas os morros não eram verdes da cor dos nossos pastos, mas branquinhos... e em vez da variedade de árvores do que restou de nossas florestas e uma grande predominância de pinheiros.

Eu nunca tinha visto o encontro do mar com montanhas cobertas de neve... impressiona. Eu não sabia que patos gostavam de água salgada! Fiquei ainda mais tentado a conhecer outros cantos da Noruega com montanhas ainda mais altas a beira dos fiordes.
Aproveitando as ótimas condições do clima no feriado. Com máximas de cerca de - 2 graus fomos fazer um churrasquinho na beira do mar. Pode parecer mentira, mas mesmo com tanto frio, num dia de Sol e sem vento é possível até pra dois irmão brasileiros aproveitar o dia ao ar livre. As salsichas assadas ficaram deliciosas, o refri estava sempre geladinho... era difícil querer ir embora.

Foram muito bons meus dias por lá. Vi mais uma vez como nós podemos viver e aproveitar a vida em condições bem diferentes das que normalmente conhecemos, condições que pra muitos seriam inaceitáveis. Voltei pra casa feliz. Feliz por ter conhecido mais um pedacinho deste mundo e, principalmente, por ter estado lá com meu irmão. Como já falei, foi bom ter visto que ele vai levando tudo numa boa, que ele está batalhando e conquistando seus objetivos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

O Cantinho das Rosas


Estes dias ouvi dizer que até no Jornal Nacional andaram falando a respeito, como sempre mostraram o lado “pra frente” de Amsterdam, onde pode-se tudo. Pude conferir, pela internet que alguns portais de notícias brasileiros deram também atenção ao Voldelpark.
O Voldelpark é um dos mais famosos parques de Amsterdam. Ele fica numa das regiões mais visitadas da cidade, bem próximo aos museus do Van Gogh e Rijksmuseum. Quase dentro do parque há uma pousada da juventude, o que também facilita a aproximação dos turistas. Quando estive aqui pela primeira vez me hospedei nesta pousada inclusive.
O parque é bem bonito, grande e visitado por todo tipo de pessoas. Mesmo no inverno, com um clima nada ameno, a quantidade de pessoas praticando esporte impressiona. O pessoal aqui não deixa de se exercitar por nada.
No verão os gramados ficam lotados, pessoas fazendo piqueniques, jogando futebol, friesbee, ou mesmo simplesmente estiradas pra desfrutar do sol. O sol aqui é muito mais venerado que no Brasil, afinal o outono sempre chega rápido.
Apreciar o sol pelos parques de Amsterdam é uma delícia. Não vejo a hora da primavera virar primavera de verdade, com seus dias mais longos e mais quentes, pra podermos voltar a frequentar nosso parque preferido, que no caso não é o Voldelpark e sim o Westerpark.
A parte negativa dos parques por aqui, no meu modo de ver, diferentemente do que as notícias poderiam ter sugerido (uma delas dizia: "em breve sexo será permitido, mas os cães sem coleira não"), são pra mim os cachorros. Não eles diretamente, mas sim o rastro de cocô deixado pelos parques, e ruas em geral. Pode-se dizer o país é de primeiro mundo, mas a educação dos donos de cachorro não existe. Antes de se se deitar em qualquer gramado por aqui, aconselho uma bela inspeção anti-cocô canino. Agora, sexo, o assunto das notícias, em qualquer dos parques daqui eu nunca vi.
Voltando ao Vondelpark, há uma parte dele que, pelo que parece, é onde o bicho pega ao anoitecer.
Outro dia, conversando com uns amigos do meu time de futebol, ouço o seguinte relato: “o rapaz que vive comigo, decidiu, depois de muito tempo, criar coragem e sair pra correr depois do trabalho. Ele estava na pista de cooper do Voldelpark, mas como não corria há muito tempo, teve que parar pra se sentar e pegar um ar.
Ele estava todo quebrado e, tentando se concentrar pra voltar a correr, não deu a mínima pra alguém que se sentou ao seu lado. Até que o alguém coloca a mão em sua perna. A concentração foi embora e o ar encheu os pulmões pra poder dizer: ‘Que isso meu? Não jogo no seu time não! O que você tem na cabeça?’. ‘Sou eu quem pergunto... se você não joga no meu time o que faz sentado aqui, ao anoitecer, num dos bancos do Cantinho das Rosas?’ ‘O parque é público e me sento onde quiser!’ ‘É... mas se você não joga no meu time você não deveria estar aqui, sentado, ao anoitecer. Afinal, aqui é o Cantinho das Rosas, nossa área! E por isso, quem se senta aqui joga no meu time!’ ‘Mas eu não jogo!’ ‘Então sai daqui!‘ ‘Como assim, sai daqui?! Já falei isso aqui é público, todo mundo pode se sentar aqui.’ ‘Todo mundo que jogue no meu time!!’ ...”
Enfim, segundo o relato, contado e ouvido ao som de muitas gargalhadas a discussão ainda se estendeu um bocado e nenhum dos dois conseguiu convencer o outro de sua razão.
A Holanda não é assim tão pra frente ao ponto de liberar geral o bacanal nos parques públicos, turistas não vão passear pelos parques vendo pessoas se pegando como fazem no bairro da luz vermelha pra ver prostitutas. A idéia é regularizar uma coisa que já acontece. Mas, por enquanto, isso é apenas uma proposta de um partido político. Se ela virá algum dia a ser regulamentada já é outra história.
Por trás desta proposta está a idéia de que regulamentando-se uma coisa, pode-se ter um maior controle sobre ela, evitando que por exemplo, que discussões como a descrita voltem a ocorrer.
Discussões como a citada são motivos de muitas risadas, mas a violência em decorrência delas não... e violência por aqui também existe!
Se alguma das minhas futuras visitas quiser fazer uma visita ao Voldelpark, sem problemas, eu acompanho, mas independente da proposta ser aceita ou não, pelo Cantinho das Rosas, eu só passo durante o dia.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Regras são regras...

Umas das maiores críticas dos holandeses, com relação ao próprio país, é que por aqui existem muitas regras, tudo é muito bem definido, estabelecido, objetivo...
É bastante diferente, pra quem vem do Brasil, ouvir pessoas reclamando disto. Pra nós, acostumados com uma país também de muitas regras, mas onde poucas funcionam, soa muito estranho ouvir reclamações desta natureza, de um lugar onde as crianças são obrigadas a ir a escola entre os 5 e os 18 anos e se elas não forem, os pais respondem judicialmente ao fato. Que se você não tem trabalho e está sem perspectivas, você se inscreve num “Centro de Trabalho e Remuneração” e eles encontrarão um trabalho pra você. Dum lugar onde chegamos à qualquer ponto de ônibus e podemos ver quantos minutos mais temos que esperar. Pra não ficar me alongando muito, vou logo dizendo que nunca tinha compreendido muito bem esta crítica dos holandeses. Porém, há algumas semanas, numa sexta feira, vejo uma reportagem na TV sobre as férias escolares que viriam na semana a seguir.
Neste época do ano, as escolas do país entram em férias por uma semana, pra comemorar a primavera que está pra chegar. Quase todos com filhos na escola, pegam esta semana pra viajar, geralmente rumo as montanhas de Áustria, França ou Itália. Pra fazer valer a história que o país é muito organizado, cada região do país entra de férias numa semana diferente, para que o país todo não vá pra estrada na mesma hora e assim possa continuar funcionando. Infelizmente, os congestionamentos são ainda bem grandes na sexta e no sábado anterior a semana de férias. As estradas ficam lotadas de carros com bagageiros carregados de esquis, snowboards e com pessoas ansiosas pra encontrar a neve nas montanhas.
A tal reportagem mostrava as pessoas que enforcaram um dia do estudo das crianças e foram pra estrada um pouco mais cedo, pra fugir dos congestionamentos e ganhar um dia de férias. As crianças efervescentes... afinal, quem não adoraria trocar um dia todo de aula (as crianças aqui ficam até as 15:30 na escola) por um dia a mais nas montanhas.
Em contrapartida, a mesma reportagem mostrava uma escola, um pouco mais vazia que o normal, na qual a direção afirmava que iria até a casa das crianças que tinham faltado para conferir o motivo da ausência. Caso a família não fosse encontrada e houvessem evidências de que ela teria partido, antecipadamente, pras férias, os pais seriam, devido ao parágrafo blá blá bla, do artigo trá lá lá, da lei sei lá qual, multados em cerca de 200 reais por criança, pois não haviam justificativas reais para os filhos se ausentarem de UM dia de aula. UM DIA!!!! Regras são regras...
Será que daria pra ganhar um dinheirinho extra por aqui??

segunda-feira, 10 de março de 2008

18 horas




Fazia tempo que um dia meu não tinha sido tão longo... acordei as 5:30 da matina e, fora algumas cochiladas no caminho de volta, só fui dormir perto da uma da tarde do dia seguinte.
O propósito era rever uns amigos, ouvir muitas histórias e contar algumas das minhas. Madrid foi o lugar ideal pra nos reunirmos. Como seria qualquer outro lugar que acolhesse aquele encontro. Não importava onde, o barato foi a convivência durante aquelas 18 horas.
Como quase sempre, foi incrível reencontrar velhos amigos, principalmente amigos de tanta convivência nos tempos de faculdade. Porém, melhor que isso foi perceber que existiu também grande afinidade com as pessoas que eles se tornaram. Além de relembrar o passado, nós vivemos o presente e ainda tagarelamos sobre o futuro. Voltei pra Amsterdam todo quebrado, fedendo a cigarro (é incrível como fumam estes espanhóis)... mas feliz.
Feliz por ter reencontrado os amigos, Wally e Jorge, por ter conhecido a Jordan, namorada do Jorge e companheira dele nós últimos dois anos do projeto peregrino. Feliz também pelo privilegiado que sou, ao ponto de poder me dar ao luxo de tirar um dia livre de trabalho e fazer um bate volta em Madrid... E ainda cruzamos o Rogério, antigo companheiro do time de futebol da faculdade, que atualmente vive em Madrid.
Bem, tenho que dizer que uma nova faceta do Wally surpreendeu tanto a mim quando ao Jorge. Estávamos no meio da balada quando anunciaram o show de um travesti. O Wally, antigo trabalhador daquele bar, prontamente nos disse: “Eu vou subir no palco e vocês vão ver que o traveco vai pegar no meu...”. Assustados nos perguntávamos: “Que história é essa de subir no palco pra ser acariciado publicamente por um travesti?!?!“ Bem, demos muitas risadas e não é que o danado do travesti foi brincar com dele mesmo!

domingo, 9 de março de 2008

Férias na minha própria casa




Amsterdam 25 de fevereiro de 2008

Faz tempo que não escrevo... desde que cheguei do Brasil me falta um pouco de vontade de escrever. Nem mesmo eu sei direito o motivo. É uma coisa bem interna, eu escrevo pra mim mesmo e meus relatos saem mais por necessidade própria de deixar registrado as coisas que passam pela minha cabeça. Depois de enviar meus emails eu leio e releio as coisas que escrevi. Fica quase tudo bem diferente do que é enviado por mim.
Antes de ir ao Brasil recebi meu pai e meu irmão por aqui. Não era a melhor época pra vir à Holanda. O outono é aqui é muito chuvoso, o que dificulta a fazer turismo. Melhor um dia seco com menos 10 graus que um dia de outono holandês com seus 10 graus e chuva interminável.
Meu pai veio em compania do Daniel. Meu irmão teria uma reunião de trabalho em Amsterdam. Pra quem nunca esteve fora do Brasil, e há apenas um ano frequenta cursos de inglês, ter uma compania destas em sua primeira viagem internacional seria muito bacana.
Meu Pai aproveitou a oportunidade... desembarcou por aqui, debaixo de vários casacos, com muita vontade de conhecer e se comunicar.
Muito além do turismo eu tentei apresentar ao meu Pai um país novo, com uma cultura nova (cultura esta formada por várias culturas) e às pessoas que dividem comigo minha vida por aqui.
As duas semanas se passaram bem rápido, mas foram muito boas, tanto pra mim como pra ele... em junho meu Pai volta, agora já mais confiante, trazendo minha Mãe.
Meu Pai foi embora numa segunda feira. Meu irmão tinha ido uns dias antes, pois tinha que trabalhar. De tão nervoso, por ter que sozinho andar pela imensidão que é o aeroporto de Amsterdam, ele não conseguiu nem se despedir direito... mas não fez mal... alguns dias depois estávamos desembarcando em São Paulo.
Depois de vê-lo tão nervoso na despedida, foi bem engraçado ouvir dele que ele cruzou um peruano completamente perdido no aeroporto e ainda foi guiá-lo antes de pegar seu voo...
Vai aqui em pequeno vídeo... filmado por mim equanto fazia algo de mais rotineiro por aqui, mas que naquele dia era diferente de sempre!

http://br.youtube.com/watch?v=kGnE3tGTvGo

Família grande, festiva e com boas cozinheiras é uma delícia... num final de semana já pudemos reencontrar quase todo mundo, bagunçar um bocado e, eu particularmente, contribuír bastante pros 4 quilos que ganhei num mês.
O gostoso de ficar longe é que chegando em casa somos mimados de montão... eram os bolos do Felipe, as mangas do Felipe, o queijo de nozinho do Felipe, a torta de sonho de valsa do Felipe...

Foi a primeira vez que fui a passeio ao meu próprio país. Estive em lugares antes deconhecidos e em muitos lugares já bastante visitados. Tudo parecia diferente... o bonito ficou mais belo e o feio... pior ainda.
Além da família foram muitos reencontros (ou encontros, com os filhos dos amigos!). Vi pessoas que não via há mais de 10 anos. Estive com aqueles com quem gostaria de estar todos os dias, mas infelizmente não foi possível ver a todos... o tempo é sempre citado como o maior dos problemas.

Ficar um mês de férias é muito bom, chega uma hora que se esquece do “estar de férias” e só se aproveita do que o momento oferece.
Alguns dias antes de voltar pra Holanda estava sozinho na casa, meus pais tinham saído com a Susanne... era meio da tarde e começou a chover... chuva típica do verão... a água caia forte... fui pro quintal. O cheiro da chuva e os pingos batendo na cara me faziam lembrar de quando era criança. De quando jogava bola nas férias em dia de chuva. De quando nunca imaginava ter a possibilidade de fazer tudo o que já fiz...

Vai aqui um link pra um clip com fotos da viagem: http://br.youtube.com/watch?v=1vbFoVSWb0U


Outro dia fui substituir a mãe da Susanne numa partidinha de tênis. Todas as sextas se encontram ela e o pai da Susanne com uma irmã dele e um amigo pra umas raquetadas. Naquele dia era eu com meus 28 anos, dois sub 55 e um sub 65. Mesmo tendo começado a jogar a pouco tempo, perder pra uma dupla com a idade bem mais avançada que a minha nunca é digerido facilmente. Felizmente consegui, acompanhado de meu sogro, vencer a partida... desde que estou aqui já vi muito, hoje acabo compreendendo e aceitando bem quase tudo. Mas ainda há vezes nais quais me demora um pouco a cair a ficha. A outra dupla, era formada por antigos namorados. A tia da Susanne e o amigo tiveram uma longa relação no passado. Hoje ambos vivem com companheiros fixos... mas ainda se cumprimentam com um selinho. O Gerard, depois de terminar com a tia da Susanne, assumiu uma relação homossexual que já dura mais de 20 anos.

Há uns 3 anos um amigo partiu do Brasil pra uma jornada pelo mundo. Com seu espírito livre, e muita coragem, ele está quase terminando sua peregrinação... em alguns dias o Jorge pega um avião de Madrid rumo ao Brasil.
Durante todo esse tempo acompanhei parte de sua caminhada, muito bem descrita em seu site (http://www.espiritolivre.net/). Eu sei que tudo vai virar um livro... vou me orgulhar de meu amigo quando tiver minha cópia de seu livro, principalmente se tiver uma dedicatória. Foram muito bons os anos que convivemos juntos na faculdade.
Hoje vivemos numa realidade bastante diferente, mas por vezes bem parecida.
Infelizmente pros mais curiosos, o final de sua jornada só será publicado quando o livro for impresso. Eu vou esperar pelo livro... mas decidi que vou viver um pouco do final desta grande aventura. Decidi que não queria ver, por mais uma vez, o tempo culpado de uma coisa que não tem a ver com ele. Na quinta chego a Madrid pra compartilhar com o Jorge, na compania do Wally, 18 horas de uma aventura de cerca de três anos.
Vai passar rápido... eu sei. Mas também sei que não me esquecerei jamais!

Jorge e Wally, nos vemos na quinta!

O Papai Noel é meio holandês

Amsterdam, 25 de novembro de 2007

Outro dia estava visitando umas escolas por causa do meu trabalho e acabei me perdendo quando tentanva com minha bicicleta chegar de uma escola a outra. Diferentemente de quase tudos os bairros por aqui, este tem ruas largas, casas grande, com garagem, jardins na parte da frente. Parece que estamos numa outra cidade. É um bairro relativamente novo, Buitenveldert.
Numa destas ruas vi um punhado de árvores, devido à aproximação do inverno, já sem quaisquer folhas, mas repletas de um fruto pequeno, vermelho e redondo. Eu estava com um bocado de pressa. Continuava a pedalar e a encontrar mais árvores como aquela... os frutos caiam pelo chão. Nunca tinha visto árvore como aquela. Pensei: “estamos perto do Natal, fruta pequena, vermelha e redonda só pode ser cereja.”
Poxa, mas cereja pra maioria dos brasileiros é daquelas frutas que “dão” num potinho de vidro, e que já vêm em caldas... Eu tendo horário pra chegar no meu destino, e ainda perdido, resolvi não parar pra conferir. Não sei porque vieram estúpidas vozes na minha mente: “frutinhas desconhecidas e vermelhinhas... devem ser venenosas!” Acho que algum dia ouvi isso quando era criança e justo naquele momento veio me assombrar. Eu devia ter parado.
Me senti um caipira descobrindo algo novo na cidade grande... ou melhor, me senti um paulistano chegando ao interior e vendo pela primeira vez um pé de jabuticaba: “que frutinha mais estranha... não cou comer isso aí não”.
Tenho que voltar àquela rua. Só espero que não me perca pra chegar lá.

Não tem como fugir, mesmo quando nos perdemos nos damos com eles... o Sinterklaas e o Zwarte Piet.
Diz a tradição que o Sinterklaas vive na Espanha e que no dia 5 de dezembro ele chega, com seu cavalo branco e acompanhado de seu ajudante, o Zwarte Piet, para presentear as crianças que se comportaram bem durante o ano.
Todas as crianças colocam os sapatos ao lado das lareiras antes de dormir. Caso elas tenham sido boas, o Zwarte Piet desce pela chaminé e deixa dentro do sapato um presente. Caso a criança tenha se comportado mal... aiaia... em vez de um presente ela recebe umas xibatadas e ainda pode ser levada pra Espanha.
O Sinterklaas usa uma roupa vermelha, um chapeu também vermelho, um cajado e tem uma longa barba branca, parece um papa. Ele é na verdade uma figura que representa o Santo Nicolau (Um bispo que viveu na Turquia).

Aqui, as crianças aguardam mais a chegada do Sinterklaas e seu ajudante que do próprio Papai Noel. Daria pra dizer que é coincidência a presença destes personagens tão parecidos, se não fosse o fato dos holandeses celebrarem em uma de suas antigas colônias esta figura carismática.
Nesta colônia, a festa ficou tão famosa que mesmo depois do lugar passar pro domínio inglês ela continuou... mas o Sinterklaas virou Santa Klaus, na recém fundada Nova Yorque.
Quando é que eu iria imaginar que o Papai Noel é na verdade uma criatura inicialmente moldada por holandeses... Se bem, que entre o original é o americanizado eu prefiro o segundo.
Enquanto o Papai Noel carrega seu próprio saco de presentes, desce de seu trenó pra se escorregar pelas chaminés e rechear os sapatinhos das crianças, o Sinterklaas fica cavalgando seu cavalo branco e bota o pequeno Zwarte Piet pra trabalhar pra ele. Detalhe... como já falei num email anterior, zwart em holandês é preto, ou negro. Ou seja, Zwarte Piet em português seria: Pedro, o negro.
Hoje há várias teorias pra explicar a presença desta figura, uma delas diz que ele é um italiano limpador de chaminés, e a pele é escura devido a sujeira... pra mim, infelizmente, é muito complicado não relacionar as simpáticas figuras ao nada simpático imperialismo. A colonização e ao colonizado. Ao Senhor e ao escravo.

Bem... não importa a minha opinião sobre o assunto, a festa é bonita e nos próximos anos conviverei com estes alegres personagens sempre nesta época do ano. E quem sabe não serei ainda algum dia “obrigado” a me transfigurar num deles pra animar uma festa de família... Se bem que ontem vi na TV uma reportagem sobre a preocupação de pessoas, com relação ao fato do Papai Noel estar cada vez mais tomando espaço do Sinterklaas. Parece que a criatura vem devagarinho se apoderando do criador.

Esta semana recebi também o prolongamento de meu visto. Desta vez por 5 anos. Como vai ser gostoso passar os próximos anos sem ter que me preocupar com setor de imigração, documentos, provas de relação estável, envelopes, protocolos...
O prolongamento do visto caiu direitinho na semana que comemoro um ano por aqui... por acaso é hoje!
Tirando os primeiros meses de inverno, nos quais eu não podia trabalhar, o ano passou voando. Neste primeiro ano tenho muito a comemorar, foi muita batalha mas também muita conquista.
O gostoso é que eu posso dizer que hoje vou comemorar estando aqui na Holanda mais em família do que nunca... Daqui a pouco saio de casa pra ir buscar meu irmão e meu pai no aeroporto. Estou muito feliz, mas também muito ansioso... mas não mais que meu pai, que aos 57 vai desembarcar por estes lados pela primeira vez.
Estas duas próximas semanas vão ser deliciosas, quero mostrar de tudo pra ele. E gostoso também vai ser em sua despedida, quando vou poder dizer, como já fiz muito quando vivia em São Paulo: “Pai, até o próximo final de semana”.

Nosso canto

John Franklinstraat 53/II
1056 SZ Amsterdam, 31 de outubro de 2007

As vezes eu me lembro do dia que nos mudamos do Intervale, lugar onde passei os primeiros 14 anos de minha vida. O caminhão da mudança estava cheio, ainda era de manha e um amigo apareceu. Foi muito estranho. Tinha passado todos os anos de minha vida acreditando que nunca sairia dali. Aquele conjunto habitacional era meu mundo. Volta e meia, acompanhado de meus, não poucos amigos, invadiamos mundos distantes... o BNH, Integração, Parque nas Amérias, Vila Tatetuba, Ismênia... outros conjuntos habitacionais nas nossas redondezas.
Aquele acontecimento foi um golpe nos meus sonhos... continuar a crescer por ali, rodeado de meus amigos.
Mal sabia eu que aquela era a primeira de minhas infinitas mudanças... com meus pais, me mudei mais 3 vezes, enquanto vivi em São Paulo, passei por 4 apartamentos. Só no meu ano no Porto foram 5 casas diferentes... e agora aqui em Amsterdam acabo de chegar ao meu segundo lar. A cada mundança novas fronteiras… pessoas... perpectivas.

Como falei numa outra oportunidade, eu vivia com a Susanne num apartamento “Anti-Kraak”. Pagávamos um aluguel bem barato, pro apartamento ficar ocupado enquanto o projeto de restauração não fosse aprovado. Em junho, recebemos uma carta dizendo que poderíamos permanecer por lá até o meio do ano que vem. Foi uma alegria... mas uma pequena frase em letras pequenas no final da página dizia: “A qualquer momento vocês podem ser notificados de que a desocupação tem que ocorrer”. Pois bem, um mês depois recebemos uma nova carta: Tínhamos 3 meses pra sair. Data limite: 31 de outubro.

Procurar por apartamentos aqui em Amsterdam é um inferno. Se você quer alugar, você tem que torcer pro propietário ir com sua cara (são tantas as pessoas que se candidatam que os caras escolhem pra quem eles vão querer alugar), tem que se pagar os olhos da cara pra um apê de alguns metros quadrados e ainda é necessário pagar o preço de um mês de aluguel pro site da internet que disponibiliza os anúncios on line!!!

Meu trabalho foi uma experiência interessante, mas que nunca mais quero repetir, porém, por causa dele, devido ao meu contrato de trabalho, tinha direito de fazer um financiamento pra comprar um apê. Somando meu salário com o da Susanne, até que poderíamos ter condições de comprar algo bem bacana por aqui. Detalhe... as parcelas do financiamento são incrivelmente mais baratas que um mês de aluguel!
Saímos a luta... a procura da casa própria. Este é daqueles sonhos que quase tudo mundo tem, inclusive eu, mas não imaginava que me envoleria com ele tão rapidamente.
Na minha cabeça, eu iria procurar anúnicios no jornal, marcar e fazer visitas, me imaginar vivendo por ali. Depois ir ver outras opções, comprarar aquelas que mais gostei, negociar que os proprietários...
Na primeira visita, um apê que logo descartamos, me estranhou o fato de outra pessoa estar o visitando na mesma hora que a gente. No primeiro que tivemos interesse em comprar, chegamos no horário combinado com o corretor e ele, alguns minutos atrasado, deixava a nós e as outras pessoas que também tinham combinado aquele horário com ele um bocado ansiosos. Como já falei, o interesse apareceu quase de imediato. Daria até pra sonhar em viver por ali, idealizar o interior... se não fosse a multidão de pessoas que fazia a visita no mesmo momento que a gente. É muito estranho, você está ali, imaginando se seu sofá caberá naquele canto, se a TV ficaria bem naquele outro... de repente alguém cruza na sua frente e o sofá e a TV vão se embora, só fica o espaço vazio!!
Fizemos um proposta. Como sempre abaixo do preço de compra pra começar a negociação... Ouvimos um OK... iriam computar nossa oferta... no mesmo dia o apê foi vendido pra uma daquelas pessoas que cruzou na minha frente.
Comprar uma casa por aqui é uma competição surreal... Muitas vezes os proprietários abrem uma lista e dizem: recebo propostas até sexta feira, a mais alta leva. Numa destas oferecemos 13mil euros a mais que o preço de compra. Não levamos... descobrimos algum tempo depois que fomos a sexta proposta mais alta. O apê foi vendido por quase 30 mil a mais que o preço pedido pelo proprietário.
Já estávamos quase desanimando, achar algo legal naqueles 3 meses estava sendo quase impossível... o aluguel estava se tornando a opção mais viável. Mas, numa segunda feira recebemos um telefonema de nosso corretor (tivemos que contratar um corretor pra ficar a procura de boas oportunidades pra gente). Ele tinha encontrado um corretor conhecido dele num bar na sexta a noite. Aquele corretor tinha vendido um apartamento que tínhamos visto e gostado, mas que enquanto analisávamos a situação ele fora vendido. Porém, a mulher que o tinha comprado, desistiu dele pois voltou com o namorado e, por isso, queria escolher algo em conjunto com ele.
Nunca tinha ficado tão feliz por duas pessoas que nem conheço reatarem uma relação. No mesmo dia acertamos a compra... Aí foi uma correria maior ainda... negociar com os bancos pra tentar pegar a menor taxa de juros, melhores condições. Reuniões no cartório... papéis... documentos...

Há duas semanas pegamos as chaves e fizemos a mudança. Ainda há muita coisa pra arrumar, mas desde o primeiro minuto já me sentia em casa, ou melhor... já nos sentíamos em casa. Se não fosse ainda um bocado de bagunça que ainda cruzamos por estes vastos 52 metros quadrados, daria pra pensar que já vivemos aqui por muito tempo.

O mês não foi só intenso pela nova casa... meu segundo dia nela foi meu primeiro dia num novo trampo. Vocês não podem imaginar como estou feliz em me distanciar daquela picaretagem do trabalho antigo. Agora sou responsávem por elaborar um planos pra oferecer atividades esportivas pra crianças de uma outra região da cidade. Estou ainda na segunda semana, mas já deu pra ver que vai ser infinitamente menos frustante!

No meio da correria com a quase nova casa recebemos a visita da Camila, amiga que fiz no Porto e arquiteta. Ela veio acompanhada do namorado, também arquiteto, o Gustavo. Os dois vieram aqui enquanto o apê estava vazio. Recebemos boas dicas de como poderíamos deixar nossa futura casa ainda mais bacana.
Receber a Camila por aqui, ainda mais nesta fase, foi uma delícia... é sempre gostoso receber meus amigos. Mas ela viveu comigo boa parte das coisas que vivi no Porto, aquele fantástico ano que mudou minha vida. Ela viu de perto minha relação com a Susanne começar. Ela estava lá, há cerca de 4 anos e meio quando este relacionamento se iniciou como uma grande festa, sem quaisquer pretenções mais longas que minha data de retorno ao Brasil e “hoje” ela esteve por aqui e acompanhou de perto o início de uma nova etapa...

Fato um pouco deprimente deste mês foi o final do horário de verão. Por isso, os dias que já estavam mais curtos, perderam uma hora a mais! Fica tudo um pouco mais triste... disse tudo mas não todos... afinal com uma casa nova, um trabalho novo, com a visita do meu pai e do meu irmão no final de novembro se aproximando e com minhas férias no Brasil a partir do dia 15 de dezembro cada dia mais próximas não há como não estar feliz!

Dois caras legais

Amsterdam, 27 de setembro de 2007

Em setembro eu completei 28 anos... foi um aniversário bem diferente daqueles tantos que passei em “casa”. Não teve aquela deliciosa reunião informal e espotânea de minha família, não teve bolo da minha mãe, não teve parabéns pra você. Fui comer com a Susanne num restaurante bem bacana e depois demos uma volta pela cidade. Foi diferente dos outros... mas muito gostoso e especial. Foi a primeira vez desde que nos conhecemos, que estivemos juntos no meu aniversário.
Setembro, além de me dar mais um ano, me deu a visita de um amigo. O Wally passou duas noites por aqui. Foi uma correria, visita rápida é assim... mas foi uma delícia. Está difícil escrever sobre setembro, mês que no Brasil é comemorado pelo fim do inverno, enquanto deste lado lamenta-se a aproximação dele... sempre coloco aqui coisas que me marcaram, muitas vezes falo de lugares, viagens, encontros... desta vez vou descrever duas pessoas...

O Santiago é um cara bacana. A primeira vez que eu o vi, eu estava chegando pra trabalhar... o cara estava furioso, ele davas chutes numa parede. Logo percebi que ele não falava holandês, a raiva provavelmente vinha por ele não conseguir se comunicar com ninguém. Só quem passa por isso sabe o tamanho da frustação de não compreender e de não ser compreendido.
A raiva dele era tanta que fiquei até receoso de me aproximar... um tempo depois eu cruzei com ele de novo. Eu ia entrar no prédio onde trabalho e atrás de mim vinha ele. Abri a porta e disse: “Tu primero!”.
Poxa, ele olhou pra mim e um sorriso apareceu naquela cara ainda meu frustada. Desenrolei meu velho portunhol e conversamos um pouco. Ele é latinoamericano como eu.
Outro dia nos encontramos de novo, ele já parecia mais feliz, percebi que já arranhava bastante bem o holandês. Como ele aprendeu rápido!
Eu me vi nele, me lembrei das primeiras vezes que compreendia as conversas, que conseguia ser mais claro nas coisas que dizia.
Quando nos vemos ele fica sempre um pouco mais alegre, e eu também. É bom ver alguém que passou pela mesma mudança que eu se adaptando a nova casa.
Na primeira vez que conversamos eu cheguei a perguntar se ele sentia falta de casa... a resposta foi de tamaha inteligência: “Agora... aqui é minha casa”. O Santiago tem 6 anos.

O Bas também é um cara bacana... Conheci ele ano passado quando passei a treinar numa clube de futebol aqui em Amsterdam. Alto, loiro, gosta de uma cerveja, viajou pelo mundo, deu um tempo na vida daqui e cuidou de um bar por alguns anos numa ilha do Caribe. Praticante de esportes de inverno e de verão é um típico holandês.
Num final de semana fomos pra um bar depois de um jogo. Na quarta o treino foi mais diferente do que qualquer outro. O Bas um dia antes estava fazendo Kitesurf. Uma corrente de vento inesperada durante um salto fez ele voar ainda mais. Ele se chocou contra um pier.
Enquanto nossa equipe treinava, um integrante dela estava numa cama de hospital em sua segunda noite de sua nova vida. Um vida sem movimentos do peito pra baixo.

As vezes a gente tem medo das mudanças... as vezes não temos paciência pra enfrentar as consequências de nossas decisões e por isso acabamos não aproveitando as coisas positivas que encontramos... as vezes, ou quase sempre, reclamamos de boca cheia.
O Santiago não queria vir pra cá, ele diz que a mãe dele também não gosta daqui, mas ele em seus 6 anos sabe que aqui é sua casa e que mesmo as vezes tendo crises de raiva ele tem feito de tudo pra se adaptar.
O Bas queria continuar a jogar futebol e a fazer kitesurf. Ele não escolheu sua vida nova... mas quando o médico responsável pela sua revalidação perguntou onde ele queria chegar ele disse: ”Onde eu quero chegar eu não sei... eu quero é poder conquistar um pouquinho a cada dia”.

Caminhando contra o vento

Amsterdam, 17 de agosto de 2007


Puxa… faz tempo que não termino uma carta... tenho que dizer termino, pois neste tempo todo sem dar notícias outras cartas foram começadas. Como é estranho, quando pouco acontecia as palavras pareciam brotar na minha cabeça, agora que muito acontece elas me faltam...

O meu irmão esteve aqui me visitando. Como foi gostoso recebê-lo. A visita foi ainda mais especial por acontecer na mesma semana que encontrei meu primeiro trabalho oficial, com contrato assinado e um salário bastante animador pra quem sempre andou contando os centavos pra fazer tudo o que fez. Só foi uma pena ele ter ido embora dois dias antes de eu ter ouvido que a vaga seria minha.
Por falar em ir embora... é incrivel como é mais difícil nos despedir de alguém quando não somos nós que partimos.

Meu trabalho é numa ONG que presta serviços à prefeitura de Amsterdam oferecendo atividades esportivas e culturais pra jovens de uma das regiões da cidade. Estou conhecendo uma parte da Holanda bastante desconhecida por todos. Quando pensamos na Holanda imaginamos um país livre de preconceitos, que respeita relações homossexuais, onde o aborto, a eutanásia e o uso de drogas leves são permitidos. Temos a idéia de que este é o país que aceita e recebe muito bem as diferenças... mas não é assim que funciona.
Como qualquer sociedade, esta também tem seu calcanhar de aquiles – se bem que algumas têm o pé inteiro, mais a canela e a região até o pescoço! Bem, a integração dos imigrantes árabes, principalmente turcos e marroquinos, dos antilianos e surinameses com a sociedade local não ocorre como deveria... ou melhor, ela quase não ocorre! É difícil dizer quem é o principal culpado: o meio que não acolhe ou o estranho que não se inturma...
A Holanda é de certa forma dividida... a branca e a preta. A primeira é a sociedade que vemos na TV e a outra é formada por estes imigrantes... as escolas, por exemplo, são extra-oficialmente classificadas de escolas brancas (Witte School) e escolas pretas (Zwarte School)... não é preciso dizer mais nada.
A ONG pela qual eu trabalho oferece, em nome da prefeitura, atividades pra entreter e educar, principalmente, os jovens desta parte segregada da sociedade. A causa é nobre... as ações quase nada. A prefeitura, pra dar satisfações a sociedade, dá dinheiro pra uma ONG fazer o trabalho... alguém já viu algo parecido no outro lado do oceano?!
É uma dinheirama jogada fora... enquanto isso os jovens, filhos dos que imigraram, ficam no seu canto com um sentimento de revolta contra a parte branca e contra eles mesmos... a tensão existente entre os grupos vindo cada qual de um país é bastante grande. Problemas de rebeldia e violência são cada vez mais comuns... algumas pessoas aqui deveriam assistir “Cidade de Deus”.
Do meu lado, estou tentando fazer o melhor possível, o que não é muito facil... mas estou tentando. A instituição da picaretagem no meu local de trabalho ainda me desistimula um pouco, mas acho que estou começando a conseguir enfrentar melhor isso. Com os jovens ainda estou na fase de ganhar a confiança, ser reconhecido e depois respeitado... se conseguir isso já valeu o desafio e como já falei, o salário fixo no final do mês tem me deixado um pouco mais animado.

Uma das loucuras por aqui é que as férias são uma coisa muito importante pra todos, e por isso muito respeitadas, inclusive pelos pratrões. Quando fui começar o trampo falei: “já tenho férias programadas com minha namorada, isso é um problema?” Não foi, duas semanas depois de começar tive duas semanas de férias. Nós não fomos muito longe, pra mim foi até um bocado estranho férias tão cedo, mas a Susanne estava precisando.
Por alguns dias fomos pra uma ilha no norte da Holanda, Terschelling. Eu tento nunca comparar as coisas, mas desta vez foi difícil não ir com minha mente à Ilhabela, Ilha Grande ou mesmo Ilha do Mel, onde pude aproveitar dias maravilhosos desfrutando de praias muitas vezes desertas. Eu sabia que por aqui estas coisas são meio irreais... mas bem, era melhor voltar a realidade e aproveitar os dias que teria por lá.
Logo na chegada pegamos as bicicletas já reservadas. Pode-se levar o carro até a ilha, mas a grande maioria das pessoas opta por alugar bicicletas, gastar umas calorias a mais e aproveitar o vento na cara durante estadia. As mesmas lojas que alugam as bicicletas levam nossa bagagem ao camping. Pra minha supresa a ilha era mais bonita que imaginava. Não só pra minha, era nítido que muitos dos visitantes se surpreendem com a natureza encontrada. É uma mistura de bosques, diques, pequenas dunas e praias. A ilha estava cheia e por isso pedalávamos sempre pra locais mais distantes a fim de encontrar as praias mais tranquilas... e não é que pra minha felicidade eu descobri que existem praias desertas na Holanda!!!! Parecia um milagre, mas foi só pedalar uns quilometros a mais e caminhar um pouco sobre as dunas que lá estavam elas... vazias. A gente se encostava no pé das dunas, pra aproveitar um pouquinho de sombra de alguns arbustos. De lá até a água eram vários campos de futebol de distância. Nunca tinha visto praias tão largas. Mas não fazia mal, pois como o sol aqui não chega a pino nesta época do ano, a areia, mesmo no dia quente, não chega nem perto de arder. A caminhada pra água é bem gostosa e na volta já chegamos secos, a canga quase não fica molhada! Haha. Foram dias bem gostosos de tranquilas idas e vindas à água, que felizmente não estava tão fria... numa destas resolvi fazer meu primeiro tchbum pelado por estas bandas. Ao sair da água eu não tive como não cantar: “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento... eu vou... por que não?!?! por que não?!?!”

Circo de Solei

Amsterdam, 27 de agosto de 2007

O final de semana foi movimentado aqui em Amsterdam. Foi a abertura da temporada cultural na cidade. Vários shows em vários locais, a maioria abertos ao público. O palco central ficava num bairro construído sobre uma ilha artificial. Por ser um canto novo da cidade as construções são completamente diferentes do que a gente pode ver pela cidade. Mas também é bonito... acho que vou começar a incluir a Ilha de Java nos próximos passeios turísticos que eu fizer por aqui...
A noite foi bem gostosa, aproveitamos bastante, mas a volta pra casa foi uma loucura, que trânsito. Todo mundo tinha que escoar pra cidade por uma única ponte... Uns queriam chegar rápido, outros não estavam nem aí... e o nível alcólico estava lá pra cima! No meio daquilo tudo ainda os “folgados” dos pedestres que fugiam das calçadas e vinham botar mais lenha na fogueira... o único alento é que nesse trânsito a gente não sente aquele cheiro de escapamento, afinal, estava todo mundo pedalando.

Falando em bicicletas... as bicicletas aqui em Amsterdam são quase sempre em modelos bem usados... por vários motivos pouca gente se arrisca a comprar modelos novos. A minha por exemplo... as partes que poderiam enferrujar já estão pra lá de enferrujadas. Ela tem um quadro velho, preto, e todo decorada com adesivos de coração, cada um mais colorido que o outro. O pedal vai o tempo apitando, parece um carro de boi, e por aí vai... Ainda acho muito engraçado ver bicicletas tão, ou mais, usadas que a minha carregando sobre ela um engravadado, ou uma senhora toda elegante...
Sinceramente, eu posso dizer que as holandesas pedalando no trânsito brasileiro causariam grandes acidentes. Fiquem tranquilas... não quero dizer que mulheres são barbeiras... Mas imaginem só uma mulher loira, alta, bonita (pra não dizer outra coisa) vestida com uma calça com cintura bem baixa, que quando ela se senta, quase todos os homens aí no Brasil ficam esticando o olho pra ver se o cofrinho vai aparecer? Pois é... imaginem essa mulher pedalando na sua frente (ou na frente do motorista ao seu lado, caso você seja mulher)? !
Mas bem, ainda haveria uma situação mais grave... imaginem que a mesma mulher, em vez de vestir uma calça com cintura baixa, tenha resolvido trabalhar de saia e que ela esteja pedalando na sua frente, mas no sentido contrário... seria colisão frontal na certa!!
Normalmente as mulheres de saia pedalam com uma das mão quase que em prontidão pra tentar impedir que o vento faça o que seria natural... mas o vento é sempre mais rápido e as saias voam com ele!. Outro dia estava chovendo um pouco quando ia pro trabalho... no caminho uma mulher pedalando de saia e segurando o guarda chuva. Imaginem o dilema dela.
No domingo, ultimo dia dos concertos abertos ao público, nós fomos mais uma vez ao palco daquela ilha... pegamos vários trechos de musicais que estão sendo apresentados por aqui. Vimos inclusive uma parte de um musical bem conhecido, “Les Miserables”. Achei bem bacana. Mas o mais interessante estava pra vir... no primeiro dia vimos um trecho do espetáculo “Afrika”. Uma espécie de Circo de Solei que conta apenas com artistas africanos e no qual tudo é relacionado com aquele continente. O cara parecia não ter ossos... foi incrível. Bem, se esta apresentação já tinha sido muito boa, imaginem a do Circo de Solei, que iria fechar as apresentações do final de semana... eu fiquei imaginando...
Logo que os musicais terminaram nos perguntamos, como poderia haver ali uma apresentanção do Circo de Solei com os instrumentos da orquestra que tinha acabado de tocar tomando tanto espaço no palco. Devia ser algum truque deles...
Um pouco antes das 10:30, horário marcado pro show começar, entram com uma mesa onde um DJ iria se apresentar... Circo de Solei com DJ... uma combinação interessante.
O DJ começa... ao fundo, um grande telão com imagens de um dos shows do Circo de Solei... As luzes e a fumaça aumentavam a minha ansiedade... A música tecno rolando e eu me perguntando: por onde os caras vão entar? O que eles vão fazer?
Eles são reconhecidos em todo o mundo como do melhor que há em entreternimento e espetáculo... eu estava prestes a ver um trechinho e de graça!!!
As músicas continuaram rolando... as imagens no telão também... o DJ tentava animar o público, eu não me animava... algumas pessoas começaram a ir embora, mas eu não quis ir... achei difícil acreditar naquilo tudo. Quando o “show” acabou vieram aplausos e vaias, eu colaborei com as ultimas... a Susanne tentava me animar... mas não dava... tinham roubado o doce desta criança.
E eu ainda tinha que enfrentar aquele trânsito louco pra chegar em casa!

Hospedando em Amsterdam... visitando na Italia


Amsteram, 21 de junho de 2007


Há duas semana recebi aqui um grupo de brasileiros, vieram o Ney, amigo da faculdade, e quatro amigos dele. Alguns dormiram aqui em casa, que por ser pequena não comportava todo mundo.
Mais uma vez me perdi pelas ruas e canais de Amsterdam. Pude recontar as histórias sobre a cidade e sobre os holandesas que eu conheço. Os levei pra conhecer minha família. Como é interessante observar as diferenças... e as semelhanças. Eu hoje compreendo os dois lados.

A cada dia que conheço esta cidade, descubro que ainda conheço muito pouco dela. Sempre vejo coisas novas, ouço novas histórias, ou descubro que algumas delas não eram verdade.
Lembram da casa de 1,70 metros de largura?!?!
Pois é... me enganaram! Estava lá, mostrando-a aos meus amigos visitantes quando ouço um holandês gritar, em português (ele nos contou que é casado com uma brasileira), de uma janela na casa ao lado:

- Esta casa engana! Ela é fina assim mas fica larga logo depois. Ela tem na parte do fundo a largura de uma casa normal.

Bem, vi que um narigudo pode entrar sim naquela casa sem se preocupar como pretende sair e que estes holandeses eram mais espertos do que imaginava. Afinal, o cara fez uma casa de 1,70 metros de largura na frente, pagava o imposto sobre isto e desfrutava na parte de trás de uma casa com a largura de uma casa normal. Quem disse que o jeitinho brasileiro é uma invenção brasileira?!

No final da viagem o Ney, o Ernesto, o Vini, o Marcelo e a Patricia não sabiam como agradecer o que proporcionamos e eles por aqui. Mas eles não tinham o que agradecer. Poucos conseguem entender é o quanto é gostoso pra mim, que vivo aqui, receber conterrâneos interessados em conhecer a parte da Holanda que fica pra fora dos CoffeShop’s. É uma maneira deliciosa de matar as saudades do Brasil... é como se um pedaço da montanha viesse ao Maomé.

E tem outra, alguns dias depois eu chegava à casa do Stefano, um amigo italiano dos tempos de Portugal, que vive nos arredores do Roma. A vida é assim... um dia recebemos e no outro somos recebidos.

Passamos o primeiro dia na casa da família dele, em Nettuno. Esta cidade fica a beira do mar... que mar quentinho... depois de sete meses longe de águas quentes me esbaldei no mediterrâneo.
Nettuno foi um ponto estratégico muito importante durante a conquista da Itália pelas tropas aliadas na segunda guerra. Foi algo parecido com o Dia D na costa francesa. A cidade e as pessoas são bastante agradecidas ao que as tropas americas fizeram por elas. Alí foi constuído um dos maiores cemitérios americanos da Europa, onde foram enterrados os combatentes impedidos de voltar pra casa. A conquista americana deixou suas marcas: a pequena cidade tem uma das equipes de baseball mais importante da Europa.

Poucos são os italianos que falam inglês, a família do Stefano não era diferente. Mas isso não foi problema em momento algum. A Susanne catando palavras em portugues ou espanhol que podiam ser melhor percebidas e eu com meu italiano aprendido com os Mezzenga e Berdinazzi das novelas da Globo pudemos compreender e ser compreendidos. Jantamos com eles um jantar típico italiano, com muita massa. Foi minha primeira lasagna genuina de uma mama italiana.
Na massa italiana a massa é o mais importante, nas nossas no Brasil, adicionamos tantas outras coisas, que massa perde um pouco de sua importância. Não há como comparar as duas cozinhas. Elas são bastante diferentes. Se me pedissem pra escolher entre os mesmos pratos, um original e o outro à brasileira... eu pegaria um pedaço de cada.

A Itália é meio confusa como o Brasil, seu transito é louco como o nosso. As pessoas usam carro pra tudo, por isso as ruas são sempre caóticas, ainda mais pela presença das lambretinhas. As pessoas ligam horas depois do horário combinado, chegam atrasadas, mas há grande espontaniedade. Quando nos sentamos pra comer só saímos quando a barriga está pra lá de cheia...

Chegamos a Roma em nosso segundo dia de viagem. Roma é caótica. Roma é história.
Lá, saímos de um metro lotado e damos de frente com o Coliseu. Enquanto mergulhamos pelas ruínas da Roma antiga somos repentinamente trazidos a realidade por mais uma cirene de uma das ambulâncias que parecem não parar nunca.

Muitas praças e igrejas de Roma foram construídas com pedras retiradas dele, fizeram de tudo pra acabar com aquilo... mas ele resistiu. O Coliseu está lá até hoje em meio aquela louca cidade. Estar ali na frente, ou lá dentro é voltar no tempo. Eu sei que as coisas que aconteciam alí eram bárbaras, mas eu vibrava, parecia que dava pra ouvir: Maximus!!! Maximus!!!! Maximus!!!!

A obra romana mais conservada é o Pantheon. Ele perto de seus 2000 anos tem muitas de suas características originais. No começo era um templo a todos os deuses mas depois de “catequizado” se tornou um templo da igreja católica. Parece que esta transformação foi o que impediu que ele, como os outros, fosse depredado. Mas não porque não iam o depredar por ser igreja, mas sim para não virar uma igreja!
Seu teto, uma imensa cúpula com quase 44 metros de diâmetro, ainda é festejado pelo mundo por seu um dos maiores e mais bem conrtuídos da história.
Diferentemente de outras cúpulas, esta tem uma abertura na parte superior, com 9 metros de diâmetro. De lá de dentro, quando olhamos pra cima vemos o céu. Ou seja, se estiver dia bonito vemos céu azul mas se estiver chovendo... segundo meu amigo Stefano, os pingos não caem lá dentro. A história parece ser um mito.
Dizem que a construição foi tão bem feita que lá a chuva não entrava. De uma coisa não há como duvidar... o negócio foi realmente bem feito! Tenho a boca aberta até agora. Não há como negar que os arquitetos e contrutures eram quase mágicos por fazer uma coisa daquele tipo a tanto tempo atrás, mas daí a fazerem uma abertura de 9 metros por onde a água da chuva não passa parecia mágica demais pra mim.
Mesmo depois assistir a um tour digital, seguir alguns guias profissionais, ler nossos dois guias de Roma e não conseguir resposta pra minha pergunta, resolvi usar todo meu italiano e perguntar pra pessoa que melhor poderia saber sobre isso: um dos seguranças do Pantheon.

- Senhore, io posso faire una pergunta?
- Si, claro.
- Que passa quando piove – enquanto apontava a abertura no teto.

A resposta não poderia ser mais elucidativa:

- PIOVE DENTRO!!

Eu pude perceber muito bem que aquele tom de voz dizia também outra coisa: “como são estúpidos estes turistas” haha
Nos encontramos durante estes dias com vários amigos feitos quando vivemos em Portugal. Além do Stefano, mais alguns italianos: Antonio, Alessia, Lizzi e mais duas duas Tchecas, Janna e Lucka. Não houve nada muito planejado, foi tudo muito espontâneo e as vezes rápido. Os abraços de reencontro foram dados pelas pequenas ruas e praças de Roma. Tentávamos por o assunto em dia enquanto caminhávamos em meio aqueles antigos prédios do centro da cidade, ou enquanto comíamos uma pizza ou um macarrão à carbonara. O tempo dava mais uma vez aquele salto mágico... “tudo parecia ter sido ontem, e hoje estamos aqui, tomando um sorvete em frente ao Pantheon.”

Vimos muito, mas deixamos ainda muito de Roma por visitar. Nem o Papa conseguimos ver. Ele resolveu viajar naqueles dias. Os dias se passaram rapidamente. Mas foram intensos e não serão esquecidos...

Eu sempre discutia com amigos italianos sobre qual a melhor pizza do mundo. Agora, finalmente, posso dar uma opnião mais fundamentada... Se os italianos conhecessem catupiry, eu poderia dizer que a pizza deles é melhor que a nossa.

Agora numa coisa não há o que discutir... como é gostoso o sorvete italiano!

Um pouco de história

Amsterdam 30 de maio de 2007

Outro dia estava num ponto de onibus quando ouvi um casal brasileiro conversando... eram turistas. Em meus primeiros momentos longe do Brasil ouvir brasileiros era sempre uma alegria, como era gostoso encontrar conterrâneos estando longe de casa. Hoje já virou tudo meio normal, já não busco mais o contato sempre que ouço meu idioma. Pra ser sincero as vezes fico ouvindo a conversa e fingindo não entender nada.
Bem, com estávamos todos esperando por um ônibus eu pude acompanhar os devaneios do casal. Nas oportunidades que cruzo pessoas interessantes ou divertidas não há como manter a boca fechada! Mas daquela vez, me manter anônimo foi a melhor opção, afinal não ouvi nada de produtivo naquela conversa. Mas bem, quando meu ônibus estava chegando ouço um dos dois perguntar:

- Caramba! Como pode um paizinho como este, perdido aqui neste canto da Europa, ter sido tão importante na história, ter navegado pelo mundo todo e ser rico deste jeito?

Até que fiquei com vontade de responder, mas eu entrei naquele ônibus e eles não.

Pra não ficar passando vontade eu respondo aqui! Hahah

O Rio Reno, que aqui se chama Rijn (R = som do R sozinho do meio de uma palavra; IJN = áin) é um rio bastante imporante na Europa que passa por Suíça, Áustria, Liechtenstein, França, Alemanha e vem desaguar no mar do norte pela Holanda. Assim, muitos produtos exportados e importados, via navegação por estes países eram obrigados (e ainda são) a passar pela Holanda. Os holandeses que não eram bobos nem nada cobravam impostos por isso, isso quando os próprios não resolviam comercializar os produtos. O porto de Rotterdam, um dos mais importantes do mundo fica nas márgens do Rio Reno.
Exemplificando: durante a revolução industrial, as cidades na Europa cresceram tanto que elas não conseguiam oferecer água potável pra todo mundo. Beber água era sempre um risco de contrair cólera. Como a bactéria que provoca esta doença não sobrevive ao processo de fermentação a cerveja era uma das bebidas a prova de cólera. Ou seja, bebia-se mais cerveja que água.
Na época, o maior produtor de cerveja era a Alemanha e grande parte de sua produção, devido a grande demanda, era exportada para outros países europeus. Os holandeses não só comercializavam a cerveja alemã pela Europa como tinham também o monopólio desta atividade, graças a importância do Rio Reno.
O tempo foi passando e os caras em vez de ficarem lembrando as conquistas do império resolveram se modernizar e construir outros impérios: Shell, ABN Amro Bank, C&A, Philips, Heinecken e por aí vai.

Já que eu falei em impostos... antigamente (isso é bem antigamente mesmo!!!), quando Amsterdam começou a crescer, o imposto cobrado sobre as casas, nosso IPTU, não era calculado em função da área construída, mas sim da a largura da frente das casas. Ou seja, pra pagar menos os caras construíam casas bem estreitas e altas. Por isso é comum ver por aqui casas com 5-8 metros de frente e 3, 4 ou 5 andares!!! O que, somado ao fato de que por serem muito antigas e construídas em terreno pantanoso a maioria foi se cambaleando com tempo, dá um encanto todo especial à cidade.
Porém, acredito que um cidadão se rebelou contra os impostos. O cara construiu uma casa de 3 andares com 1 metro de 80 centímetros de largura!!!! Alguém muito narigudo deve ter que entrar lá de frente em sair de costas!

Com as temperaturas mais agradáveis, devido à aproximação do verão, mais pessoas ainda usam bicicletas como meio de transporte... ou seja o transito nas ciclovias que já é sempre meio louco, tem ficado cada dia mais insano. Pedalar em horário de pico me faz lembrar de São Paulo. E se São Paulo tem os motoboys pra infernizar a vida de quem dirige, Amsterdam tem seus turistas infernizando quem pedala!
Os turistas nunca sabem diferenciar a calçada da ciclovia, ou seja, quando a gente menos espera aparece um turista na nossa frente. Isso quado não é um grupo que de uma hora pra outra ruma da calçada pro nosso caminho... quando passo por locais onde há mais presença de turistas eu ando com o dedo da buzina, e o sininho toca como eu louco. Mas eu tento nunca me irritar, afinal já fui turista por aqui e sei como é difícil apreciar as belezas da cidade, tirar fotos, se orientar com a ajuda de mapas e ainda perceber que estamos caminhando sobre a ciclovia!

E quando eles resolvem alugar bibicletas pra passear por aqui?! Parecem domingueiros!! Felizmente a maioria da lojas que as alugam, por motivos de publicidade, identificam muito bem suas bicicletas. Por isso podemos sempre ter um cuidado a mais quando cruzamos algum.

Os alucinados

Amsterdam, 10 de maio de 2007

- “I’ll jump! I’ll jump!”
E a galera delirava!!!! – “Pula!”
Embaixo um casal de policiais, bem educados, pedindo pros dois malucos descerem. Algo inimaginável no Brasil.

No dia anterior tinha sido o “Dia da Rainha”. Acho que posso dizer com certeza que esta é a maior festa holandesa. As ruas de Amsterdam ficam forradas de pessoas, a maioria vestinho laranja e os canais ficam tomados por barcos. Foi a primeira vez que eu vi um congestionamento de barcos na minha vida!
Em cada praça encontramos palcos com show de músicas ao vivo ou um DJ. Muito bacana. Nos faz lembrar bem o nosso carnaval. Se alguém puder escolher um final de semana no ano pra vir a Amsterdam eu sugiro o final de semana do Koninginnedag. Deu pra aproveitar bastante a festa, ainda mais porque o clima colaborou... foi um dia de sol bem gostoso. A única frustração foi me encontrar com alguns amigos de meu time de futebol e perceber que ainda não cheguei num estágio que possa compreender um bêbado num dia de festa. Quem sabe no próximo ano.
Este dia é pra homenagiar o dia do aniversário de uma antiga rainha. A atual resolveu manter a data, dia 30 de abril, mas mesmo que este não seja seu aniversário as homenagens são direcionadas a ela. Eu não estou nem aí pra rainha, mas como a festa é boa eu me junto com certeza às homenagens. Agora só quero ver como vai ser quando a atual princesa for promovida... vou continuar festejando, mas saudar uma rainha que por baixo da camisa laranja veste azul e branco vai ser mais difícil. Enquanto pra todo mundo ela será rainha pra mim ela será “hermana”! hah

Como eu falei, é meio um carnaval. A bebedeira começa na noite anterior e se estende pelo dia todo... acho que alguns, principalmente os estrangeiros, em vez de curtir ressaca do dia seguinte resolvem retardá-las pelos CoffeShops da cidade. Sinceramente acho que os dois malucos fizeram isso.

Ambos estavam sobre uma grua que deveria estar sendo usada pra retirar os enfeites do dia anterior. Um deles continuava a gritar: “I’ll jump”. A galera, que é igual em todo o lugar do mundo, continuava a pedir: “Pula!” Os policiais, agora já com a ajuda dos bombeiros, e um grande colchão de ar embaixo daquilo, continuavam com a educada tentativa de convencer os dois malucos a descer.
A grua do carro dos bombeiros ajudou um dos policiais a se aproximar dos dois. O policial continuou educado até descarregar um frasco de spray de pimenta na cara de um dos doidos. O outro pulou! A galera delirou! O salto foi em direção de um canal que passava ao lado. Um foi preso com a cara toda ardida, o outro todo gelado!

O mês de abril aqui é marcado pela passagem do inverno pra primavera... nesta passagem contuma-se acontecer de tudo, é uma confusão climática só menos doida que os malucos da grua. Por aqui há um ditado: “April doet wat hij wilt!” (Abril faz o que ele quer). Ou seja, as quatro estações do ano podem ser vistas em intervalos de dias. Mas este ano abril fez o que eu quiz!!!!! Foi um mês de sol e temperaturas agradáveis. Muito bom pra pedalar, jogar tênis em quadra aberta e até pra ir à praia e entrar na água! Puta que água fria! O primeiro dia que eu sai de casa de bermudas e havainas foi incrível... o sorriso ia de orelha a orelha!
Bem, abril passou e infelizmente maio não vai fazer o que eu quero... o vento está forte pra caramba e a chuva vem e vai! Sair de casa voltou a ser aquela aventura de nunca saber se vamos chegar secos ao nosso destino.

Num dos ensolarados finais de semana de abril eu fui a um parque muito conhecido por aqui. Todo mundo quando pensa na Holanda pensa em algumas coisas específicas, dentre delas as Tulipas. É um parque que na verdade é um grande jardim com as mais variadas formas e cores de Tulipas que se possa imaginar. Tem hora que não se pode contar o número de cores vistas de uma só vez.
Eu sempre ouvi no Brasil que umas das maiores concentrações de japoneses no mundo fora do Japão está no bairro da Liberdade em São Paulo. Mas vou falar que depois da visita ao Keukenhof eu duvido desta afirmação. Atrás de cada Tulipa tem um japonês com uma câmera na mão. Isso quando a câmera não era um filmadora e eles não ficavam lá um tempo filmando uma flor. Eu concordo, é bonito pra caramba, mas é muito estranho ficar filmando flores se elas não vão piscar pra câmera, ou fazer uma pose...

Outro dia fui jantar com a Susanne num restaurante aqui perto de casa. Quando pedimos o cardádio ouvimos: “Sorry, I don’t speak dutch”. Como é comum isso por aqui! Há pessoas que vivem aqui durante muito tempo e não aprendem uma palavra de Holandês. Muitos dizem que como todo mundo fala inglês não há a necessidade de se aprender o idioma local. É muito bacana que quase todo mundo fala inglês, mas estou começando a achar que os holandeses deveriam ser um pouco mais franceses... Mas bem, numa outra mesa quando chamaram o tal garçom ele mais uma vez começou: “Sorry, I don’t speak dutch”. E na sequencia ele completou: “I don’t speak dutch because I came from (...). ” Como se fosse um impedimento pra quem vem do tal país aprender holandês. Ainda bem que ele não falou que era brasileiro.

Com a proximidade do verão o número de turistas aumenta, assim alguns fatos curiosos começam a aparecer. Não é raro quando alguns turistas se dirigem a alguma holandesa e perguntam: “Você pode tirar uma foto?”. Quando a resposta é positiva um dos turistas abraça a coitada e o outro vai registrar o momento! Só fico imaginando as histórias que devem ser contadas nos países de origem

Nada como um bom vizinho

Amsterdam, 29 de março de 2007

Por aqui vai indo tudo bem... a primavera este ano felizmente chegou junto com o equinócio (o que não é muito normal por aqui.)... se bem que falar em “felizmente” pode ser meio irracional, afinal vivendo na Holanda, ou seja, nos Países Baixos, não deveria ficar muito feliz assim ao perceber os sinais do aquecimento global. Afinal, se este problema continuar daqui a alguns anos vou ter que procurar uma casa barco pra morar, igual à daquela menina da novela que vivia aqui em Amsterdam!

Mas bem, já que tá esquentando mesmo, melhor aproveitar! E foi o que fizemos no domingo. Depois de montar umas prateleiras no nosso quarto e um pequeno armário na sala fomos aproveitar os primeiros momentos de primavera em nossa sacada! Pois é... eu tenho uma sacada!!!! Depois de mais de quatro meses vivendo neste apartamento eu pude finalmente curtir minha sacada. Como foi gostoso tomar sol de camiseta enquanto tomava suco e comida uma “bomba de chocolate”... No final do dia falei com minha família no Brasil. Ao comentar sobre os incríveis e ensolarados momentos na sacada e informar a agradável temperatura que tivemos durante o dia ouvi: “credo! Que frio!!!” hahah... tudo é relativo. Pra quem estava num dia de outono a 30 graus um agradável dia de primavera a 13 parece ser gelado mesmo!

As diferenças daqui pra vida que eu sempre levei no Brasil são muitas mesmo. O que eu sempre tento não fazer é ficar comparando as coisas... vou sempre vivendo da melhor maneira possível, desfrutando daquilo que eu gosto e aceitando aquilo que prefiria não conviver.
Uma das coisas mais interessantes, e de certa forma muito diferente do que sempre tive no Brasil, é a necessidade de se viver em diferentes idiomas. Eu posso dizer que toda a minha vida no Brasil eu vivi quase que exclusivamente em português. Um segundo idioma era quase que restrito às aulas de inglês e a leitura de livros e artigos científicos na faculdade. Bem, minha vida aqui é obrigatoriamente vivida em pelo menos dois idiomas, o português e o holandês. Se bem que há alguns momentos que eu e a Susanne não sabemos mais em qual idioma conversamos... é uma salada. Além destes dois o inglês é muito presente por aqui em nosso dia a dia, seja através da TV, de um turista pedindo informação, ou de um colega estrangeiro que vive aqui e ainda não fala holandês, por exemplo... pra quem viveu a vida toda em um sistema “unidiomático” falar três diferentes idiomas num único dia é uma tarefa que faz a cabeça ferver.
Outro dia estava com um amigo holandês que me apresentou um conhecido colombiano. Resolvi que aquele era o momento pra praticar meu portunhol. Até que não fiz muito feio. Porém, quando o amigo holandês me fez uma pergunta em inglês, pra que o colombiano pudesse entender a coisa ficou feia... quatro idiomas pra esta cabeça aqui é muita coisa... a cabeça entrou em estado de sublimação*. A pergunta era simples. Entender nunca é o problema... mas da minha boca não saía palavra alguma. E quando elas saíram, vinha cada uma num idioma...

Uma coisa que me deixa também sempre feliz é o fato do português brasileiro ser muito valorizado por aqui. É muito comum se entrar num bar ou restaurante e ouvir música brasileira. Não falo de Gilberdo Gil, Caetano, ou Garota de Ipanema... são cantores e bandas quase desconhecidos em nosso país mas que doam (ou vendem) suas vozes pra pra deixar o ambiente daqui mais agradável, mais “gezellig”. Segundo o que ouço por aqui, nosso português soa gostoso e é um idioma perfeito pro “Lounge”, um estilo musical dos mais ouvidos nos bares e restaurantes. Pois é... enquanto aqui vejo valorização do nosso idioma (que um dia não foi nosso mas agora é) em nosso próprio país ele é desvalorizado... basta olharmos pra lojas de madame que pra se diferenciarem das lojas de pobres colocam seus produtos em “off”, mas nunca entram em liquidação.

Como eu falei no outro email, ficamos algum tempo sem computador. O novo foi comprado pela internet e entregue pelo correio. Curiosamente vieram nos entregar uma semana antes do planejado, na semana que estivemos viajando pra esquiar. Quando chegamos, haviam três comunicados da empresa de entregas nos informando que eles tinham estado aqui e que só voltariam mais uma vez, numa segunda feira. Depois disso nosso computador iria novamente pro final da fila de entregas.
Na segunda, passei a manha toda em casa, torcendo pra encomenda chegar e nada. As duas da tarde eu tinha uma aula de holandês e depois tinha que ir trabalhar. “Caramba, alguém tinha que receber aquilo pra mim!”. Meus únicos vizinhos que ficam o dia todo “em casa” são os do piso térreo. Eu poderia pedir pra eles receberem o compudador pra mim, caso o entregador viesse enquanto eu estivesse fora. Mas estava meio inibido, nunca tinha falado com eles e nunca tinha imaginado que falaria... Não tive opção. A senhora me falou que não teria problema. Se ela não estivesse lá o filho dela estaria.
Quando voltei, dei uma passada lá novamente e ela me disse que tinha recebido computador e que ele estava guardado nos fundos. Depois de agradecê-la ela me disse: “wij zijn toch buren!!!!” (seria algo como: “pra que servem os vizinhos?!”).
Pois é, nada como uma boa vizinhança, hoje, sempre que desço faço de questão de os cumprimentar... pra quem não se lembra, meu vizinho do piso térreo é um Coffe Shop (o Whauw Coffe Shop), e nestes lugares aqui na Holanda além de café são vendidos também, legalmente, maconha e outras drogas do gênero.
O pior, ou mais estranho, foi eu ter que ir aos fundos (local onde se guarda a mercadoria) pra pegar as caixas com o computador, teclado e monitor... se havia um lugar onde eu nunca tinha me imaginado estar era alí...

Assim a vida vai indo, agora com os pássaros cantando e os pernelongos zunindo!
Eu tenho que providenciar uma tela pra janela do meu quarto!


*passagem da água dos estado sólido diretamente pro estado gas

Esquiando

Amsterdam 15 de março de 2007

Já se foi mais de um mês... neste tempo aconteceram muitas coisas: meu visto de permanência e trabalho ficou pronto; encontrei meu primeiro ganha pão (que pra minha agradável supresa não é lavando panelas!!!); o carnaval passou (se não fosse a alegria de ver as fotos de meus pais pulando o carnaval no meio da multidão pelas ruas do RIO DE JANEIRO, quase não daria pra ter notado que ele se passou neste ultimo mês); já se foram várias aulas de Holandês; eu continuo meus tendões calcaneares (ou de aquiles) doloridos (seria isso sinal da idade mesmo?!?!); eu aprendi a esquiar (e o melhor... não quebrei nada!!!!!) e meu computador quebrou...

É incrível como a distância aumenta quando ficamos sem “esta coisa”... fico imaginando como eram heróis aqueles que partiram pra aventuras como a minha antes da era da comunicação digital. Se bem que nada faz diminuir a alegria de receber uma carta de papel. Já foram duas desde que cheguei aqui!

Quanta viagem... vamos parar de enrolação e partir para os fatos...

Um de minhas maiores preocupações quando cheguei era não fazer nada ilegal que viesse poder atrapalhar o processo de meu visto de permanência. Por isso evitei ao máximo trabalhar ilegalmente. Porém recebi um convite de uma das irmãs da Susanne pra substituí-la como intrutor de uma sala de musculação de uma empresa de eletricidade em Utrecht (25 min de trem aqui de Amsterdam). Quando descobri o que iria ganhar pra ficar lá 3 horas por semana não tive como não aceitar. É lógico que não vou ficar rico trabalhando tão pouco tempo, mas seria uma ajuda imensa. Aceitei! Mesmo assim fiquei todo preocupado, mas pra minha sorte na semana aterior ao meu inicio recebi uma carta informando sobre a finalização do processo, ou seja, não cheguei a trabalhar sequer um dia ilegalmente. O trabalho está bom, é bem tranquilo e ainda tenho que praticar muito Holandês...

Pra matar um pouco do tempo livre, fazer algo de bom, e ainda praticar mais o idioma comecei a trabalhar voluntariamente numa ONG – FairFood – que atua pesquisando quais os alimentos vendidos nos supermercados europeus que contribuem com a diminuição da pobreza nos países onde eles são produzidos. Os que contribuem com esta causa recebem o título de “Fair”, os que não contribuem recebem o título de “Unfair”... estou ajudando em uma pesquisa sobre as características da cadeia produtora da castanha de cajú no Brasil. Tá bem legal. Mas sinceramente espero que no máximo em dois meses já não tenha mais dois dias livres pra me dedicar a FairFood.

Outra vez, escrevi que sobre alguns acontecimentos que eu acreditava serem exclusivos de países em subdesenvolvidos como o Brasil, mas que pra minha supresa acontecem também por aqui... desta vez quero falar da nossa típica e brasileiríssima Farofa! Não a comida em si... mas o ato de farofar. Farofa nos remete sempre a gente pobre, que enche o carro de comida, jogos, bola de futebol, e vai pra praia fazer barulho. A confusão já começa na estrada, com aqueles carros lotados, munidos de bagageiro se encaminham pra mesma direção tirando a paciência de todos que têm o mesmo destino.

Pois é... pra minha surpresa, em minhas semana de esqui nos alpes franceses eu descobri que a farofa não é em nada uma invenção brasileira. E se por acaso for, ela foi muito bem introduzida por aqui.

Na sexta a noite colocamos todas as malas no carro... caraca, a cada mala ou pacote de comida que entrava eu pensava: como é que a gente vai entrar aí amanha?
4:30 da manha o pai da Susanne acorda todo mundo... café da manha pra quê? Só perderíamos tempo, e afinal, quem toda café da manha a esta hora. Lá pelas 9 da manha, numa área pra pique-nique a beira da estrada, ao lado de muitos outros viajantes acompanhados de seus carros com bagageiros, satisfisemos nossa fome... hahha... as farofas brasileiras me vieram definitivamente à cabeça. Me lembrei ainda das muitas vezes que ouvi: farofa é coisa de pobre!!!! Hahaha O que já era uma certeza se confirmou ainda mais: farofa é coisa de gente feliz!!

Nas quase 12 horas de viagem, tivemos ainda outras paradas pro lanche, pro xixi, pra esticar as canelas... pegamos até congestionamento. Só faltaram mesmo os apressados com seus carros moderninhos cortando pelo acostamento e aqueles braços virados pra janela que pega sol vermelhos como tomate. Se bem que mesmo sendo férias de inverno, no final do primeiro dia, do pescoço pra cima, eu parecia também com um belo tomate. Fazia muito tempo que não ficava tão vermelho.

Como cansa aprender a esquiar... mesmo sobre uma montanha de neve a gente pode suar pra caramba, e como meu protetor solar, como o do farofeiro, não era um Sundown Sport, ele saia quando eu suava e aí meu amigo... os raios de sol torraram esta cara branca do inverno. Mas pra quê queixar, no final do dia as “Baby” Pistas já tinhas ficados todas pra trás e eu não tinha quebrado nada!

Eu posso dizer que aprendi a esquiar, no final da semana eu consegui acompanhar a família da Susanne nos passeios pelas montanhas... realmente, aquilo é uma delícia. Ainda mais quando o tempo está gostoso. Pois é... a gente pode mesmo sobre o gelo se deliciar com o solzinho que esquenta bem gostoso. São quilômetros e quilômetros de pistas... a gente pode esquiar o dia todo sem passar pelo mesmo lugar duas vezes... Aquelas paisagens são infinitamente diferentes de tudo que nós brasileiros estamos acostudamos a ver. Ë uma imensidão branca de montanhas pontudas... quando o céu está azul fica tudo ainda mais incrível. E a gente ainda descendo “as ladeiras” com o vento gelado batendo na cara. Com o calor que eu sempre sentia era uma delícia.

No quarto dia, quando eu já estava meio confiante, fomos muito alto (pra subir sempre usamos teleféricos, quando a subida é mais longa há uns bodinhos, do estilo daqueles do Pão de Açúcar no Rio). Pra descer aquela montanha pegamos uma pista só, não muito inclinada e meio estreita. Diferentemente das outras ela contornava a montanha, ou seja, de um lado tinha a montanha e do outro o vale. Parecia, de certo modo as estradas do nosso litoral que descem a serra do mar. Eu ia descendo... as vezes deixava a velocidade aumentar um pouco pra ficar mais emocionante, mas logo me continha... não queria me quebrar. Numa destas, quando estava no limite da minha velocidade, cheio de adrenalina, todo empolgado e já pensando em diminuir a velocidade pra não ir além da conta vejo três maníacos esquiadores passarem por mim como se eu fosse um velhinho caminhando com bengalas. Caracas... essa é uma sensação que as pessoas da minha idade (27 anos) ainda não têm o costume de enfrentar... afinal não é agradável tomar um baile de uns maníacos que deveriam ter no máximo uns 10 anos de idade! haha
Quando uma criança olha um adulto fazendo algo que ela deseja ela pensa: “eu queria ser igual ele quando crescer!” Agora o que deveria pensar um adulto olhando uma não, mas TRÊS crianças, fazendo aquilo que ele deseja muito?! Haha

Nos ultimo dia eu consegui desfrutar bastante das descidas (no começo a gente só desfruta das subidas... no teleférico), mas por um engano nós pegamos uma pista vermelha. Um estágio mais difícil que as azuis, as quais eu já conseguia descer sem problemas. Estas pistas têm algumas trechos bastante inclinados. Se a gente entra numa pista não tem como voltar... a gravidade só puxa pra baixo. Mas como eu desejei que ela, por alguns momentos, nos empurrasse de volta pra cima. Eu até que consegui descer bem, mas em um trecho eu comi muita neve! Por sorte não passou nenhum rescém usador de cuecas pra acabar com minha moral... pois, se passasse acho que ia desistir e descer aquele pedaço de bunda mesmo! Haha

Algumas coisas estão acontecendo por aqui... fiquem na torcida que talvez tenha algumas boas notícias pra enviar nas próximas semanas!

Bonequinha vermelha

Amsterdam, 06 de fevereiro 2007

Olá pra Todos,

Viver num outro país que fale um outro idioma é bastante interessante. Cada dia que passamos imérsos neste mar de palavras estranhas nos sentimos menos “sufocados”… lembro-me de algumas vezes que chegou a dar desespero. Estar num grupo, ver a expressão das pessoas, os risos, as caras de espanto, momentos de silêncio pra reflexão sobre algo que foi dito, enquanto nós ficamos sempre em silêncio refletindo sobre qual o assunto da conversa não é das sensações mais agradáveis…e algumas vezes dá vontade de gritar!
Felizmente, muito felizmente isso já não acontece comigo. Me vejo cada vez mais participante das coisas. Sinto que as pessoas aqui começam a me conhecer agora!
Este final de semana fui à festa da aniversário do avô materno da Susanne… o velhinho é uma figuraça e merece todas as comemorações possíveis por seus 95 anos de vida.
A festa foi grande, a família se reuniu na casa de um dos filhos, com muita comida, várias homenagens ao aniversáriante e muita gente! Estas ocasiões são um verdadeiro teste pro quanto eu consigo me comunicar e compreender o holandês. Posso dizer que me saí muito bem.
Porém, nem tudo é um mar de rosas. Lá pelo meio da festa quando já me sentia muito confiante resolvi conversar com uma priminha da Susanne… priminha mesmo… com uns 4ou 5 anos. Ela é uma das filhas do dono da casa.
Tudo estava indo bem, até o momento que ela me perguntou:

- Kun jij die rode poptje voor mij paken?

A tradução literal seria (o idioma aqui parece todo ao contrário quando a gente o vê com uma lógica latina):

- Kun jij (pode você) die rode poptje (aquele vermelho “o que será poptje?!?!”) voor mij paken (para mim pegar)?


Equanto ela perguntava, eu vi um pequenino dedo indicador apontado pra uma estante cheia de brinquedos. Eu não fazia a menor idéia do que era poptje, mas sabia que era vermelho e que deveria ser um dos brinquedos daquela estante.

- Deze? – tem que ser este… tem que ser este
- Nee… Die rode poptje. – ela deve achar que estou brincando…
- Deze? – errar uma tudo bem, mas desta não pode passar!
- Nee! Die rode poptje! – acho que ela já percebeu que não estou brincando.
- Deze? – errar a terceira será demais.
- NEE!!! Die rode poptje!!! – definitivamente ela já percebeu que não é brincadeira.
- Deze? – dessa não pode passar
- NEE!!!! DIE RODE POPTJE!!!! – ela deve estar achando que sou um burro
- Deze? Se eu errar desta vez ela vai com certeza se perguntar o que a prima dela viu neste homem tão burro que não sabe o que é um poptje!!!
- Ja… die is mijn rode poptje. Ufa!

Por que será que ela pegou aquela bonequinha vermelha e foi brincar em outro lugar?!

Depois desta nada mais justo que começar a estudar holandês de verdade… decidi não esperar o curso que ganharei quando receber meu visto de residência e semana que vem vou começar a tomar umas aulas particulares!


No final de semana também fui assistir a um jogo de futebol dos juniores do Ajax contra os juniores do NEC (clube onde estagiei aqui na Holanda das outras vezes). Queria, além de assitir ao jogo, reencontrar alguns dos treinadores que conheço por aqui.
Durante o jogo conversei um bocado com um treinador do Ajax que trabalhava no NEC quando estive por lá… quando o jogo acabou, que pra surpresa de todos teve o Ajax como perdedor, conversei com mais alguns treinadores e fui me despedir do treinador do Ajax. Quando me aproximei dele ele estava conversando com uma outra pessoa. Durate nosa conversa, eu me perguntava se já não conhecia aquele outro homem de algum lugar. Mas bem, devia ter sido das vezes que me meti dentro do Ajax pra ver treinos e tentar conhecer pessoas.
Logo depois quando já estava saíndo do clube ouço alguém dizer: o Dany Blind está aqui! Caracas… eu estive ao lado de uma das grandes lendas do futebol holandês e nem me dei conta. Ele foi por exemplo capitão do Ajax da ultima vez que o Ajax conquistou a Copa dos Campeões da Europa. Torneio de clubes de futebol mais importante que existe. Seria o mesmo que estar ao lado do Zico no Brasil e não dar conta…

Por mais que eu ache que já estou bem introduzido no meio de vida holandês, por vezes eu percebo, ou uma crinacinha de 4 anos me mostra, que falta muito ainda! Hahaha

Engrandecendo meu CV e "Kraakbeweging"

Amsterdam, 29 de janeiro de 2007

Por aqui continua tudo bem. Semana passada eu engrandeci ainda mais a minha lista de experiências profissionais de meu currículum paralelo. Nestas andanças que já fiz, além de me preocupar em elevar a qualidade do meu currículum vitae, acabei por realizar uma grande quantidade de atividades que além de muitas histórias me renderam também um bocado de dinheiro…entre elas:

- Vigia de piscina de hotel (Portugal);
- Homem estátua (Portugal);
- Auxiliar de limpeza de praias poluídas por derramamento de petróleo (Espanha) – está certo que com esta eu não ganhei dinheiro, mas valeram as refeições e o lugar pra dormir;
- Cobrador de banheiro (Holanda);
- Faxineiro de banheiro (Holanda);
- Professor de Português (Holanda);
- Pendurador de casacos em boate (Holanda) e
- Diarista (Holanda)

Agora posso incluir nesta lista: Cobaia profissional de estudos acadêmicos. Me pagaram 25 euros pra me sentar numa mesa por duas horas e responder várias questões sobre holandês (Idioma). Se minha licença de trabalho demorar um pouco mais a sair que o esperado, acho que vou levar esta nova atividade um pouco mais a sério, afinal experiência com isto eu já tenho, pois na época de faculdade participávamos sempre de experimentos… só que naquela época tudo de forma amadora… em prol da ciência!


Outro dia estava lendo umas matérias de um jornal de minha querida São José, aí no Brasil. É muito interessante acompanhar as coisas que acontecem em nossa terra natal com a consciência viciada por um outro tipo de realidade. O problema que o jornal relatava era sobre um pedaço de terra em São José ocupado (pra alguns), ou invadido (pra outros), pelo povão em busca de justiça social (pra alguns) ou devido à sua ignorância, manipulados por interesses político/sociais maiores (pra outros). Bem, não vou defender bandeira alguma, meus emails nunca tiveram este propósito, quero apenas relatar coisas que acontecem por aqui que me fazem ver de outra maneira acontecimentos em terras brasileiras.
Amsterdam não é uma cidade muito grande, mas é uma cidade muito populosa. Como tudo aqui é muito bem planejado, o governo municipal não permite que a cidade cresça, pois cidade muito grande é mais difícil de ser administrada e os problemas acabam surgindo com mais facilidade. Mesmo com tudo muito planejado, há um problema por aqui que parece ser meio difícil de resolver: Como a cidade é muito populosa e não há interesse em crescimento geográfico as pessoas têm certa dificuldade em encontrar um lugar pra morar, não como no Brasil, por falta de dinheiro, mas sim por falta de lugar mesmo. Uma família de classe média que em muitas outras cidade por aqui encontraria um apartamento, ou uma casa pra alugar e ter uma vida tranquila pode passar aperto em Amsterdam por falta de opções.
Eu por exemplo vivo num prédio “anti-kraak”. O prédio tem que ser restaurado, mas a restauração provavelmente não acontecerá antes do verão de 2008 (mas a qualquer momento podemos receber uma carta dizendo que temos que sair pois a restauração vai começar), por isso os donos do prédio alugam os apartamentos por um preço bem mais baixo que o normal para que os apartamentos não fiquem vazios, pois se eles ficarem vazios eles são ocupados (pra alguns), ou invadidos (pra outros), pelos “Krakers”. Por vezes vemos pela cidade faixas em prédios residenciais com os dizeres: “estas residências foram possíveis devido ao kraakbeweging”. Pois é, num país de tem uma taxa de educação muito mais elevada que a nossa no Brasil, apartamentos ou casas vazias numa cidade onde as pessoas precisam de lugar pra morar são inaceitáveis. Quando isso acontece, os mesmos são ocupados por pessoas que fazem parte de um movimento social – o kraakbeweging, e muitas vezes os ocupantes ganham, depois de algum tempo e muita luta, o direito à posse do local. Pois é, alguns problemas parecem ser exclusivos de países subdesenvolvidos… mas só parecem!

Mais uma curiosidade sobre meu prédio… como muitos sabem na Holanda algumas drogas, proibidas no Brasil e em grande parte do mundo, são legalizadas. Alguns bares, conhecidos aqui como CoffeShops, têm autorização pra venda. Nestes bares, pessoas compram um cigarro de maconha como se comprassem uma lata de cerveja por exemplo. Se não me engano, o consumo só pode ser feito no próprio bar ou em casa. Mesmo com a legalização, é muito mais comum ver alguém consumindo maconha no Brasil que na Holanda. Enfim, meu prédio tem 4 andares e no térreo funciona o “Whaw Coffehop”. Já me acostumei com isso, mas ainda acho uma pena que o lugar onde compro comida é mais distante de minha casa que um lugar onde compra-se drogas.

Relembrando as longas histórias

Amsterdam, 16 de janeiro de 2007


Por aqui a vida vai me levando… e como diria a filosofia popular “há males que vêm para o bem”.
Como fiquei alguns anos sem qualquer rotina de treino de futebol e jogava apenas algumas vezes por brincadeira, meu corpo ficou “desacostumado” a treinar. Não… não virei preguiçoso, o que acontece é que demoro muito mais que o normal pra me recuperar de um treino, ou de um jogo. Por isso algumas dores nunca vão embora, pois quando elas estão sumindo eu treino aí elas voltam… será que isso tem algo a ver com a idade também?!
Por causa de uma delas fui obrigado pelo treinador a falar com um fisioterapeuta trabalha no clube no clube. Por sorte, o americano (o cara estuda aqui na Holanda e faz uns bicos lá no clube) não veio e quem estava lá era um holandês. Atendimento rolando, conversa vai, conversa vem e não é que o cara tem uma clínica de fisio, tem planos pra aumentar a clínica nos próximos meses e vai precisar de pessoas com a minha formação profissional! Por favor… cruzem os dedos!

Já vão quase dois meses que estou por aqui… meu holandês vai indo muito bem. Acho que já estou num estágio de uma criança de uns 10-12 anos (quando começamos a fazer as primeiras piadas e já conseguimos tirar sarro em algumas ocasiões!).

Outro dia estava andando numa rua comercial aqui em Amsterdam, daquelas que em São José dos Campos são conhecidas como calçadão. Eu sentia que andar alí era complicado, parecia que eu era o único que ia. Todo mundo vinha. Já não sou muito fã destes lugares, desse jeito então… por sorte encontrei o que procurava, caminhei em direção a loja que estava ao meu lado direito e percebi que tudo ficou mais tranquilo, já não esbarrava em mais ninguém. Antes de entrar na loja olhei mei intrigado pro calçadão e percebi que eu tinha andado todo o tempo na contramão!!!!!! Caramba… que vai… vai à direita. Quem vem… vem à esquerda. Tão simples.

Ontem eu me encontrei, aqui em Amsterdam, com uma amiga italiana que conheci no Porto. A Emanuella. Ela e o namorado, também italiano, vieram passar alguns dias por aqui. Já se iam mais de 3 anos e meio que não nos víamos. É sempre delicioso encontrar meus amigos de Portugal. A amizade que construímos por lá foi muito verdadeira. A magia do intercâmbio universitário é que ele reúne pessoas muito diferentes que num outro contexto nunca se reuniriam. Assim, quando nos encontramos fora daquele mundo onde tudo aconteceu, a amizade e o carinho ainda estão muito fortes mas alguma coisa parece ser diferente. Estar com esta minha amiga foi muito gostoso, nós tínhamos feito tanto no Porto, tínhamos tanto pra conversar e relembrar…por algum tempo ela foi a italiana de um brasileiro amigo meu, enquanto eu fui o brasileiro de uma italiana amiga dela. Este quarteto foi inseparável por algumas festas… fizemos coisas que vão ficar guardadas pra sempre. (“Luiz, posso contar aquela, daquela madrugada, depois daquela festa?!”). Este tipo de reecontro só nos mostra o quanto aquele ano foi especial. Momentos de profundo silêncio acompanharam quase todos os encontros que tive com meus amigos de intercâmbio… é tanto pra dizer e perguntar que as vezes não sabemos como começar.

Hoje a vida segue seu rumo, eu em especial tenho muito ainda pra conquistar, estou apenas começando. Mas como é bom poder, do alto de meus 27 anos (isso não é nada!!!!), reencontrar pessoas que me fazem lembrar de tudo que já fiz.


PS: um cartão postal de Morro de São Paulo iria ficar bem bonito numa parece aqui de casa

Feliz Ano Novo

Amsterdam, 08 janeiro de 2007

O ano já começou… muitos já voltaram a trabalhar… meu Pai já fez mais um aniversário… eu já fiz meu primeiro jogo em minha equipe… muitas coisas já acontecerem, mas acredito que ainda é tempo de dizer: FELIZ ANO NOVO!

As festas de final de ano aqui foram bem gostosas. Os dois dias de Natal foram bem agradáveis, com muita comida e um pouco daquela gostosa confusão que acompanha os tradicionais Natais da minha família no Brasil.

No Ano Novo eu a Susanne, mesmo tendo alguns convites pra algumas festas, com muita gente, comida, bebida e tudo mais que uma boa festa de ano novo tem direito, resolvemos ficar em Wehl e aproveitamos o feriado sozinho. Todos da família dela tinha planos diferentes pro final de semana. Nós queríamos aproveitar de nós mesmos… Já estou aqui há quase um mês e meio mas como ficamos 7 meses distantes um do outro, nada poderia ser melhor que ter todo tempo pra nós mesmos.
Uma das coisas que fizemos foi ir à sauna juntos. Bem, sauna aqui significa muito mais que aí no Brasil. Quando vamos à sauna aqui vamos a um grande parque aquático, com piscinas, banheiras de hidromassagem, restaurante, camaras de bronzeamento artificial, diferentes tipos de saunas secas ou a vapor, massagistas… A gente fica quase o dia todo por lá… chegamos a uma da tarde e saímos as 6:30h. Algumas curiosidades: há somente um vestiário (homens e mulheres compartilham o mesmo espaço) e ninguém usa roupas de banho… ou seja, fica todo mundo pelado mesmo!
Pode parecer meio estranho… mas passando o primeiro momento de choque é bem gostoso desfrutar do lugar do jeito que viemos a esse mundo! Haha

Pra muitos pode ser uma grande aventura ir a uma sauna por aqui, cheio de loiras com tudo a mostra, mas tenho que dizer que somos obrigados a ver coisas não muito bonitas também. Quando estávamos no vestiário, nos arrumando pra ir embora, uma senhora, com umas dezenas de quilos a mais, exatamente à nossa frente resolveu se abaixar pra pegar alguma coisa… AAAHHHHHH… é até perigoso me lembrar do que vi…

A passagem do ano comemoramos na casa dos pais dela mesmo, dentro a banheira na compania de velas e uma garrafa de champange. Bebi umas 4 taças e fiquei com as pernas meio bambas. À meia noite abrimos a janela e acompanhamos dalí os fogos de artifício pela cidade.

Aqui na Holanda, fogos de artifício só são permitidos no ano novo. É tudo muito organizado, as pessoas preenchem formulários com alguns dias de antecedência, pagam a conta e vão buscar a mercadoria alguns dias depois. No dia 31, visitamos os avós da Susanne e eu aproveitei pra tomar o segundo sacode da semana do avô dela numa partida de bilhar. Mas eu tenho minhas justificativas. O bilhar aqui é jogado com apenas 3 bolas e a mesa não tem BURACOS!!!!! Bem, quando saímos os avós dela pediram colocarmos uma carta no correio. Quando encontramos uma caixa dos correios vimos que ela estava lacrada e no lacre podiamos ler: “temporariamente fora de serviço”. Poxa… justamente neste final de semana, que muitos querem mandar cartas, as caixas dos correios estão lacradas. Mais a frente outra curiosidade, agora com uma lixeira. Tinham retirado a parte do fundo. Foi aí que caiu a ficha. Aqui as coisas podem ser mais organizadas, mas o instinto de destruição ainda está presente no ser humano. Caixas dos correios lacradas e lixeiras sem fundo são mais difíceis de serem explodidas por maníacos com fogos de artifício.

Depois que o ano novo começou voltamos à rotina normal de vida. Ainda não posso fazer muito mais do que faço agora… amanha por acaso tenho uma hora marcada na prefeitura. Vou me inscrever oficialmente na Holanda. Isto é uma das etapas pra eu pegar meu visto de trabalho.

Sábado tive o primeiro jogo com a minha equipe. Enfrentamos, num jogo amistoso, uma equipe que joga na divisão superior à nossa equipe. Perdemos por 4x2, joguei apenas meio tempo, não marquei nenhum gol, mas foi uma boa estréia. haha. Todos ficaram muito felizes com minha maneira de jogar. Eu inclusive. Ainda mais por fazer tanto tempo que não jogava um jogo de verdade. A última vez tinha sido pelo time da faculdade. Agora espero que eles consigam me inscrever o mais rápido possível na federação holandesa de futebol pra que eu possa jogar no campeonato.

Esta semana vou começar enviar currículos… torçam pra que eles sejam bem recebidos.

O Natal vai chegando

Wehl, 22 de dezembro de 2006

Aqui vai tudo bem... se bem que parece que este ano o Natal vai "decepcionar" muita gente por aqui. Ele, ao que tudo indica, não será branco como quase tudo mundo espera. A temperatura por aqui está mais quente que o normal e só com um milagre a neve virá dar ao Natal a cor do Natal... Branco!
Algumas pessoas por aqui se até se espantam quando se dão conta que ao sul do equador é verão e que se tem uma coisa que nunca veremos no Natal brasileiro é a Neve! Vivas as diferenças... o importante é nos reunirmos e passarmos uma data especial juntos de pessoas que gostamos (mesmo sendo impossível estar com todos aqueles que queremos). Seja o Natal branco ou colorido.
Por falar em diferenças, aqui se comemoram dois dias de Natal. O primeiro, dia 25 e o segundo, dia 26. Não me perguntem o motivo, já ouvi algumas explicações para isso mas enquanto não estiver mais convencido da razão eu me manterei calado sobre isso. Mas quando eu fiquei sabendo deste acontecimento pensei: "Isso é fantástico! As famílias aqui têm menos problemas em decidir com quem vão passar o Natal. É só passar o primeiro dia com uma família e o segundo com a outra." Afinal, se tem uma coisa que as vezes atrapalha um pouquinho nossas festas por
aí é a questão: "Com que família passarei o Natal?"
Mas, mesmo com todas as diferenças ainda somos iguais (quero dizer, somos seres humanos e por isso muitas vezes mestres em tornar complicado aquilo que poderia ser simples), assim muitas famílias aqui têm o mesmo problema que as famílias daí. Afinal: "Com que família passarei o primeiro dia de Natal?" (o primeiro dia é o mais importante) hahaha
Este é o meu quarto Natal fora do Brasil... o segundo que passo com a família da Susanne. Pra minha sorte, encontrei uma família por aqui que tem muita coisa de minha família daí. Eu vim um pouco mais cedo pra casa dos pais da Susanne, cheguei aqui ontem a noite. Eu fui visitar uns amigos na cidade onde vivi aqui das outras vezes e como ela fica muito mais perto de Welh que de Amsterdam vim direto pra cá. Hoje a noite chega a Susanne e no domingo chegam as outras irmãs e os namorados. Vamos fazer com certeza uma boa festa.
Desejo a todos um ótimo Natal! Muita saúde, felicidade e tudo mais.
Aqui de longe, quando der 3 da madrugada, espero que em meus sonhos eu esteja passeando pelo Brasil e quem sabe brindando o Natal com muitos de vocês!!!!!